CUOTIDIANO

sábado, junho 24, 2006

Malditos alternativos

No telejornal

Notícia de última hora: Deu-se, há cerca de trinta minutos atrás, mais uma explosão no centro de Lisboa, desta vez na esquadra de polícia junto ao Centro Comercial das Amoreiras. Segundo as autoridades, trata-se de mais um atentado do Exército de Salvação Lisboeta, que luta contra o domínio estrangeiro do território nacional, ocupado desde 2015 pela coligação burundi-americana na operação “Tempestade no Tejo”. Apesar de insistentes apelos da comunidade internacional para a alteração desta situação e a realização de “eleições livres e justas”, nada foi feito nesse sentido já que, segundo as autoridades, "o povo português ainda não tem capacidade de decisão, nomeadamente quanto ao molho a colocar no hamburguer". De volta ao assunto do dia, e quando entrevistado há pouco sobre este último atentado, o porta-voz do primeiro ministro, John Smith, disse (e citamos) “istamus a rrializar as nossa investigations e soon terremos risultodos” (fim de citação).

Relembramos que ontem, numa outra conferência de imprensa realizada no Palace of the Needs, outrora Palácio das Necessidades, e quando mais uma vez inquirido sobre se as verdadeiras razões desta ocupação se prendiam com o fim das jazidas de petróleo e o franco desenvolvimento do aproveitamento da energia solar nos países mediterrânicos, Texas Kid, ministro português do Ambiente e Recursos Naturais, respondeu (citando) “In your ass!” (fim de citação).

A tradução da resposta anterior, disponibilizada pelo acessor de imprensa aos meios de comunicação social, foi (e citamos novamente) “a Administração norte-americana apenas procura promover a paz e o bem-estar nas mais diversas nações do Mundo, nomeadamente aquelas com elevados valores de insolação anual, já que, nesses países, as pessoas são mais lentas, trabalham menos, e necessitam de investimento estrangeiro de qualidade por forma a melhorar as suas condições de vida. Para além disso, antes da invasão, perdão, libertação, soubémos através dos nossos elementos da CIA no terreno, que houve uma tal de Dona Chica, de Barcelos, que atirou um pau a um gato o que, sendo para nós uma violação evidente e intolerável dos direitos felinos, nos obrigou a intervir de imediato. Finalmente, aproveitamos a ocasião para reafirmar a nossa grande amizade e respeito pelo povo português, esse grande povo africano” (fim de citação).

Inquirido sobre os casos de sodomia com sardinhas assadas vindos a público e alegadamente ocorridos com os prisioneiros da Boixes Jail (antiga Prisão de Caxias), o mesmo acessor reafirmou que essas eram situações pontuais e que haviam sido prontamente resolvidas com castigos exemplares aos prevaricadoes, nomeadamente uma semana de shots forçados em Miami. Quanto ao dealer de sardinhas, esse foi condenado a quinze casamentos ciganos e quatro circuncisões consecutivas.

Em casa da família Moreira.

- Em bem dizia que estes gajos ambientaistas ou lá o que é haviam de lixar isto tudo com a mania das energias alternativas; sim senhor, que eram renováveis, que era energia das marés, que era energia dos ventos, que era energia solar - Claro que, com este solzinho todo, os americanos, que não são parvos nenhuns, vinham logo para cima de nós!
- Mais um McChicken, querido?
- Sim, pode ser. Malditos alternativos!

quinta-feira, junho 22, 2006

Portugal (a propósito do post anterior)

País engravatado todo o ano e a assoar-se à gravata por engano

Alexandre O'Neill

Lendo o “DN” (2006/06/21)

“A maioria dos portugueses nunca utilizou um computador”

“A maioria dos portugueses (53%) nunca utilizou um computador, apenas 28% navega regularmente na Internet e só um terço dos trabalhadores usa tecnologia digital na actividade laboral. Estes são os principais factores que fazem com que Portugal esteja na cauda da Europa [...]”


Já tinha desconfiado pelo cheiro...

...Mas cada vez me sinto mais privilegiado! Basta-me carregar no ”power” e torno-me num dos sócios de mérito do restrito clube dos 47% evoluídos!

Comecemos pelo princípio – em vez do “Plano Tecnológico”, faça-se um mapa de um computador que mostre onde se localiza o botão de “power” e, três meses depois, já passámos a Grécia. Quando este conhecimento estiver consolidado, mais um mapa, agora do écran, explicando onde está o “Internet Explorer” - aí, passamos a Itália e a França. Finalmente, com estes dois evoluidíssimos conceitos solidificados, passamos a insultar o patrão não ao vivo mas sim por e-mail – aí já apanhamos a Inglaterra e a Alemanha! Que país do caraças este nosso cantinho pode vir a ser!

quarta-feira, junho 21, 2006

As palavras estavam desertas

Antes de ti as palavras estavam desertas. Sem sabor ou vontade. Limitavam-se a andar por aí, sendo que a mais utilizada era “toupeira”. Então as outras... Mas isto era antes de ti. Antes da noite que todas as noites me relembram. Antes da impressão de nuvem de um quadro de van Gogh, me ter tatuado tua alma recém-criada num qualquer ponto em forma de assim aqui dentro, mais ou menos ao virar da esquina do meu coração. Mas isto era antes de ti. Antes de achar que valia a pena esperar, que valia a pena ouvir o bater agora do teu coração em cada palavra que me dás. Antes de, na mão que não tocamos, poisares de regresso, para me alimentares de pássaros e fontes e viagens, para que, de cada vez que dizes que és minha, nunca o sendo e ainda bem, me abanares as palavras sólidas como “casa” ou “pão” ou “dor”.

Antes de ti as palavras estavam desertas, já te disse. Agora, os sons de “espero-te”, “desejo-te”, ou o ainda mais complicado “almamente te amo”, fazem parte dos momentos todos de entre nós, felizmente não depois de ti mas para sempre “durante ti”.

Sabes, durante ti, não mais precisarei de palavras - Em abraço te beijarei, até que o tempo pare, a noite chore e o amor vença.

terça-feira, junho 20, 2006

O prestígio das dívidas


Tinha acabado de vir das Finanças a pé, pois até com o carro me haviam ficado, à conta do IRS em atraso. De volta ao meu escritório, o porteiro, pela primeira vez em dez anos, voltou-se para mim e cumprimentou-me: “boa tarde, sr. engenheiro”. – Até achei giro, o único problema é que eu só tenho a 4ª classe; mas que se lixe, gostei...

No dia seguinte voltei às Finanças, porque ainda faltava tratar do IVA; então aí, já de lá saí partilhando as roupas com o meu advogado, o que me fez constipar - Estava aquele friozinho de fim de tarde e ele só queria, a toda a força, emprestar-me parte da sua lingerie de rendas; mas como para mim, que sou mais macho de saiote plissado, aquelas roupas eram uma mariquice, optei por lhe pedir, apenas, uma meia e uma gravata . Adiante. Deixou-me à porta de casa, depois de eu lhe ter devolvido as roupas emprestadas e entregue doze verrugas como forma de pagamento – É que nada mais me sobrava...

Antes de voltar para casa propriamente dita, resolvi tomar um café, que pagaria com um sinal de família. Entrei na pastelaria que sempre tenho frequentado e, para grande espanto meu, o empregado mal encarado dos últimos vinte anos voltou-se para mim e perguntou, com ar servil: “sr. professor dr., bem-vindo seja, o que vai desejar?”. Estranho, muito estranho, tanto mais que eu estava completamente nu.

Quando, finalmente, tentei voltar para casa, informaram-me que o prédio havia sido removido para o 12º Bairro Fiscal, como forma de pagamento de juros - Os restantes inquilinos ficaram felicíssimos, pois há séculos que não olhavam as estrelas. Resignado, deitei-me no relvado em frente e um vizinho (ou, mais rigorosamente, ex-vizinho), que fazia o seu passeio nocturno, desejou-me “muito boa noite, sr. comendador”.

Enrolado no “Financial Times” da véspera, tentei adormecer. Enquanto o fazia, meditava: “Isto das dívidas é fantástico, aumenta mesmo o nível social de uma pessoa, é impressionante. Já me tinham falado nisto, mas nunca havia acreditado!”

Entretanto, um cão que passava, que nunca tinha lido Marx, nem Rebelo Light Pinto, nunca havia dissertado sobre a existência (limitando-se, simplesmente, a existir) e que nem, tampouco, sabia beber por um frappé, olhou-me altivamente e mijou-me em cima.

sábado, junho 17, 2006

Consultório Sentimental (I)

Pergunta: Todas as noites o meu marido se esconde na casa de banho, pondo pepinos no rabo. Será que tenho um problema? Será que ele é, como dizer, amorsexual? Sou a Maria, doméstica, do Barreiro
Consultório: Claro que não, cara amiga, isso apenas indica que o pepino é um vegetal que precisa de um ambiente escuro e mal frequentado para se desenvolver. O seu marido é absolutamente normal e, sabe, o fundamental é as pessoas amarem-se pelo que são por dentro; e não se esqueça – adube sempre o seu amor!
Pergunta: É a Maria, outra vez. Mas desculpe lá, sôdótôra, mas o problemas é mesmo esse – quando eu o tento amar por dentro, sei lá, pondo-lhe um dedo no rabo, verifico que ele, por dentro, já se tornou num vegetal!
Consultório Quer com isso dizer que ele está inerte, amorfo, isto sentimentalmente falando?
Maria, a Doméstica: Não, porra de doutora, ele por dentro já é só pepinos!
Consultório Então, olhe, retálhe-o e aproveite e faça uma sardinhada. Seguinte!

National Parvographic (I) - Adaptações

As bicicletas de montanha foram muito inteligentes na adaptação que fizeram ao meio ambiente – basta ver que, quando descem íngremes encostas a grandes velocidades, nunca se esquecem de levar um humano à tiracolo para as ajudar no equilíbrio, evitando, assim, uma possível destruição parcial ou total.

sexta-feira, junho 16, 2006

Lendo o “Público” (2006/06/16)

“População escolar de Beja com problemas alimentares”

“Quase metade das crianças e adolescentes sofrem de obesidade ou de subnutrição”

Roubem os almoços aos gordos e dêem-nos aos magros!
Na verdade, este é o problema geral do Mundo – o que uns têm a mais, têm outros a menos. Se calhar, o melhor é chamar o Robin dos Bosques.

Lendo o DN (2006/06/16)

“Quatro portuguesas morrem em incêndio”

“Um incêndio num centro comunitário em Fall River, nos Estados Unidos, matou na quarta-feira à noite quatro portugueses e feriu outros 15, dois deles com gravidade. O incêndio deflagrou no prédio que alberga a sede do clube português St. John Holy Ghost Association, em Fall River, Massachusetts, onde decorriam os preparativos para a festa do Espírito Santo marcada para o fim-de-semana. [...] Os portugueses estavam reunidos numa sessão de adoração ao Espírito Santo, rezando o terço, quando uma idosa acendeu uma vela e, por qualquer razão, deixou-a cair. [...] A queda da vela foi o suficiente para deflagrar um grande incêndio” já “que os materiais altamente inflamáveis do altar estiveram na origem das enormes chamas que se tornaram rapidamente incontroláveis.”



As pessoas estavam em adoração, preparando uma festa (a do "Espírito Santo"), esperando conquistar o Céu. Como recompensa e ainda mesmo sem sair da Terra, conseguiram ir parar ao Inferno. Curiosamente, o que efectivamente provocou o incêndio foi um símbolo de oferenda divina, a vela, e o que o propagou foram os objectos simbólicos de culto, colocados no altar. De facto, os deuses são sempre ingratos, como se tem constatado ao longo da História, pelo número de guerras, atrocidades e mortes que já existiram (e existem) em seu nome e/ou por questões religiosas.

Já agora, as pessoas que se salvaram do incêndio, a partir de agora rezam e agradecem a quê? Ou os deuses só são responsáveis pelas coisas que correm bem, como nas operações cirúrgicas que, se têm êxito, é “graças a Deus” e, se correm mal, é porque “o médico é um incompetente” ?

Eu propunha que agradecessem apenas aos bombeiros, entidades bem físicas que arriscaram a sua única vida para as salvar.

quarta-feira, junho 14, 2006

Despejando o lixo

Descia eu, calmamente, no elevador para a cave, dirigindo-me para o meu carro e sonhando com alguém que nunca vi mas com aspecto de marmota, quando parei no 4º andar. Entraram duas senhoras, cada qual com seu saco de lixo, em amena cavaqueira, que continuou sem parar, independentemente de eu ali estar ("ainda bem!", pensei).

- Então, já viu isto, o tempo anda péssimo, em pleno Verão e a chover...
- É verdade, isto deve ser derivado daquelas porcarias que põem no céu às voltas, os satélites ou lá o que é.
- Saiteles, emendou a outra, enquanto se peidava... mas com ar culto, o que ainda piorava o cheiro a lixo.

Chegados ao rés-do-chão, e antes de saírem, pediram-me para segurar o elevador, que iam só despejar e voltavam logo. Assim fiz. Enquanto esperava, reparei que me tinha esquecido da chave do carro e que teria de regressar lá acima ao escritório. “Que chatice...”

Voltaram. Perguntei “voltamos para o quarto?”, o que me soou mal e com toques foleiros de piada brejeira- Mas não liguei muito, que isto de emendar uma asneira, normalmente, dá uma asneira ainda maior. Enquanto subíamos, e sem nada para fazer a não ser fingir que consultava as mensagens de telemóvel, ia ouvindo o diálogo:

- Fechaste bem o contentor? - É que cheiravam mal com’ó caraças!
- Sim, claro que fechei. Mas ouve, vamos mas é falar de alguma coisa que interesse – Tu já viste a injustiça que fazem com Cristóvão Colombo, eu acho lamentável; então não é que andam para aí a dizer, nomeadamente os gajos do 5º esquerdo, que ele queria ir para a Índia e que foi parar, por acaso, às Caraíbas?
- Ouve lá, mas pior do que isso, então não é que aqueles matarruanos do 2º direito dizem que ele podia ter sido português, catalão, basco, galego e mesmo grego; de Génova é que nunca!
- Há gente para tudo, o que é que queres....

Chegámos ao 4º andar. Os sacos saíram, voltando para casa - Graças a Deus tinham despejado as mulheres-a-dias no contentor, sempre se ouvia alguma coisa de jeito.

Eu? Eu, nessa noite, esvaziei-me sem ajuda de ninguém e atirei-me, em total nudez, para dentro do vidrão aos gritos “ORGIA!”

segunda-feira, junho 12, 2006

Não há Machado que corte a raíz ao pensamento

Mário Machado, o dirigente da Frente Nacional preso (mas entretanto libertado com "Termo de identidade e residência"), foi o organizador de manifestações recentes em Lisboa contra a criminalidade alegadamente desencadeada por imigrantes.
Curiosamente, esse senhor é (pasme-se!) segurança de profissão e foi condenado em 1997 a uma pena de prisão de quatro anos e 3 meses por envolvimento na morte de Alcino Monteiro - crime ocorrido em 1995, no Bairro Alto e que, além dele, fez condenar mais de uma dezena de "skins".
Mais uma vez curiosamente, o mesmo senhor está actualmente também a ser julgado no Tribunal da Boa-Hora, Lisboa, por extorsão, dois crimes de sequestro (um deles do advogado) e posse ilegal de armas. Ou seja: Assassínio, extorsão, sequestro, posse ilegal de armas... e criminosos são os imigrantes???
PS - Segundo Ricardo Araújo Pereira, dos "Gato Fedorento", "Nós somos pretos. Há muitos anos que estou convencido disto e a única razão pela qual os skinheads portugueses rapam a cabeça é para que não se perceba que têm carapinha"

domingo, junho 11, 2006

Implacavelmente

Implacavelmente surgiste. Com a força das trepadeiras, dos medos anónimos e dos desamores.

Implacavelmente te impuseste mas, curiosamente, sem fazer força, sem te enrolares no meu corpo, sem sequer existires (para mim, pelo menos).

Implacavelmente, és feita de palavras doces, como “árvore” ou “namorada” ou apenas da saudade dos momentos que, afinal, nunca existiram; como se a descoberta fosse apenas da água, nunca do teu corpo, nunca dos teus olhos.

Implacavelmente mas estranhamente também, saltaste de dentro de uma alma que não existe senão por ti - Se calhar, és a verdadeira causa e a verdadeira e única criadora de almas..

Anonimamente surgiste. No fundo, anonimamente existes (para mim, pelo menos).

Saberei porque te espero?

sábado, junho 10, 2006

Lendo o “Público” (2006/06/09)

“Tribunal de Guimarães absolve arguidos no caso dos atestados médicos”

“O Tribunal de Guimarães absolveu hoje, por falta de provas, [...] 16 alunos das escolas secundárias Martins Sarmento e Francisco de Holanda, em Guimarães, e 14 médicos, suspeitos de terem passado ou entregue atestados alegadamente falsos para evitar as Provas Globais em 1999.
Naquele ano, 70 médicos e 300 alunos dos dois estabelecimentos de ensino foram acusados de terem entregue atestados médicos que o Ministério da Educação considerou "não verdadeiros" para evitarem as chamadas Provas Globais do 12º ano.
Inicialmente o processo tinha mais de mil arguidos, mas em Dezembro de 2002 foram arquivadas as acusações contra 262 alunos e 57 médicos.
Alguns alunos não foram acusados por serem menores na altura dos factos, enquanto outros aceitaram a suspensão provisória do processo, o que implicou o pagamento de 50 euros a uma instituição de solidariedade social.”

Conclusões:
1) Em 1999 eram 1.000 arguidos. Em 2002, já só eram 700. Em Maio de 2006 (apenas 7 anos depois!), restaram 30 arguidos - mas nenhum foi condenado!;
2) Ao menos alguns putos pagaram 50€; os “Sôdótôres” nem isso! Devem ter apresentado atestados (verdadeiros, claro está!) de pobreza;
3) Como neste país nunca se previne nada, o “Cuotidiano” sugere que se altere este estado de coisas e que, quer este ano quer nos próximos, por esta altura (quando os exames estão à porta), se coloquem equipas médicas de prevenção junto de todas as Secundárias do país, única maneira de evitar mais uma gravíssima epidemia;
4) Não é fantástica a impunidade dos “Sôdótôres” deste país?

Pepinos com adoçante

Na sala, blá, blá,blá.
- Ouve lá, não achaste bué da fixe a Náná e o Bébé terem feito as pazes?
- Altamente. E como é que foi?
- Eu acho que aconteceu depois de um surfinho na praia da Mama Brasileira e de, ao pôr-do-sol, terem bebido aquela “Sagres” nova, como é que se chama? Acho que é um nome que tem qualquer coisa a ver com os telefones, não sei bem...
- Já sei, “Green Green”. Ah, ah, ah, esta piada foi super-espectacular, acho que vou tomar nota para a contar logo ao Kadú, no Bar da Boa Espetança; ele adora piadas tipo as do Herman.
- É isso mesmo, parece um telefone a tocar, “Green Green”. - Olha, a propósito de telefones, não estavas para ligar ao Bicas, depois de ele ter acabado com a filha do banheiro e ter começado a andar com uma das gémeas do perneta, as que têm a avó desalmada que as prostituía na tenda do Marquez?
- Já liguei e digo-te, até curti bastante essa cena de falar com ele. Sabes, é que, a propósito de prostituição e partindo da filosofia de Kant - que fez, ao nível da epistemologia, uma síntese entre o racionalismo continental, onde impera a forma de raciocínio dedutivo, e a tradição empírica inglesa, que valoriza a indução - discutimos esses problemas todos que só nós, jovens, conhecemos, desde a droga até à homossexualidade, passando por roupas de marca e elefantes pedófilos.
- Eh pá, desculpa lá interromper mas já passámos os dez segundos de cultura permitidos por episódio – É que tu nem sabes a melhor! Então não é que o Pinotes ‘tava completamente virado com aquela história da namorada dele, depois de desatinar com a nódoa de café que lhe caiu em cima da blusa nova da “Mega Baby”, essa marca de referência para o mundo infanto-juvenil, ter ido a correr comprar um papagaio de biquiini às bolinhas amarelas; que não fazia contraste, que não podia ser, que o bicho parecia que tinha acne, que era preciso ir trocar o biquini urgentemente, ‘tava todo doido, o man.
- Bom, continuando o que eu estava a dizer, é que ‘tive mais de uma hora, para aí trinta e cinco minutos, ao telefone com o Bicas, foi super-mega-espectacular!
- O quê?! Trinta e cinco minutos? Mas isso custou caríssimo!
- Não, nada disso. Deves estar esquecido de que cá em casa temos o novo tarifário da “Portugal Telecom”?
- Da “Portugal Telecom”, essa empresa com OPA e tudo!; pois é, tens razão, com o novo tarifário “Mega-Jovem” é ainda mais barato que manter um pombo-correio.
- Boa, babe, é isso mesmo!
- Já agora, passas-me aí esse sumo?
- Sumo? Isto não é um sumo, é um giga-mega-sumo, é o novo “Compal Gigalight”!
- Desculpa, já me esquecia, é mesmo o novo “Compal Gigaight”, com mais sabor e menos açúcar, para além de umas cores ainda mais atraentes!
- Exactamente, como é que te podes ter esquecido? Não deves andar a tomar o novo “Calcium Memorex”...
- Pois não, bébé, é que eu pensei que fosse só na altura dos exames.
- Nada disso. O novo “Calcium Memorex” estimula a memória 365 dias por ano, evita a diarreia enfiando a embalagem no bumbum e ainda aumenta o apetite, até o sexual.
- Eh lá, passa-me mas é já aí o novo “Calcium Memorex”, que só de olhar para a caixa me estão a dar calores!
- Pudera, é em forma de um pénis hiper-artístico, top-ergonómico, criada pelos melhores designers norte-americanos!
- Olha lá, e se fossemos andando para o quarto que o novo “Calcium Memorex” tem um efeito quase imediato?
- Está bem, mas tens contigo os...?
- Preservativos. Sim, claro que tenho, um jovem como eu deve andar sempre prevenido, por causa das doenças sexualmente transmissíveis e do virús da SIDA.
- Mas... não tinham já acabado os dez segundos de cultura por episódio?
- Isto não conta, é publicidade institucional paga pelo Governo. E também que se lixe, no próximo episódio não pomos cultura nenhuma que as audiências até aumentam. 'Bora lá, que já tirei os preservativos da embalagem.
- Espera, só se forem “Polikeka Suave”, para um prazer redobrado e uma segurança total!
- Claro que são. Haverá outros? Ah, ah, ah.
No quarto, pimba, pimba, pimba.

quarta-feira, junho 07, 2006

Lendo o “Público” (2006/06/07)

"Câmara abandona projecto de Gehry para o Parque Mayer"

"O projecto do arquitecto norte- americano Frank Gehry para o Parque Mayer, defendido por Santana Lopes e que já custou à Câmara 2,5 milhões de euros, está à beira de ser definitivamente arquivado".


Alguns factos curiosos:

- Já se gastaram 2,5 milhões de euros (500 mil contos na moeda antiga) e, em contrapartida, só se tem uma maquete;
- 2,5 milhões de euros depois, ainda não existe contrato assinado entre a autarquia e Frank Gehry;
- Se o arquitecto norte-americano quiser recorrer à lei portuguesa, nomeadamente à que regula o cálculo de honorários para projectos de obras públicas (portaria de 7/2/1972), ainda terá direito a muito mais dinheiro, já que a mesma, no seu arigo 12º, parágrafo 4, estipula que "se o dono de obra mandar suspender, temporária ou definitivamente, a elaboração do projecto, o autor terá direito aos honorários correspondentes às fases já entregues ou em elaboração e a mais uma indeminização pelos prejuízos emergentes da decisão tomada";
- Numa estranha coincidência, o actual presidente da Câmara que, agora, vai deixar cair o projecto, chama-se Carmona Rodrigues; por outro lado, o antigo vice-presidente de Santana Lopes que, na altura, apoiava o projecto, também se chamava Carmona Rodrigues. Serão gémeos? Curiosamente também, foi o mesmo partido (PSD) a vencer as duas eleições;
- Um dos estranhos e ruinosos contornos deste negócio foi a permuta de terrenos do Parque Mayer e da Feira Popular, efectuada entre a autarquia e a empresa Bragaparques, já que não existia (nem existe) qualquer plano para a zona do Parque Mayer e os terrenos do local da antiga Feira Popular localizam-se numa das áreas mais apetecíveis de Lisboa para a construção - bastará perguntar a qualquer investidor/constructor que terreno preferiria que se terá sempre a mesma resposta óbvia; ou seja, a Bragaparques ficou com a carne e o erário público com o osso;
- A permuta de terrenos atrás referida foi o "melhor negócio imobiliário feito em Lisboa" - Fontão de Carvalho, vice-presidente da CML, 7 de Dezembro de 2005. in "Diário de Notícias";
- Gastaram-se 2,5 milhões de euros em nada, perderam-se anos e, apesar disso, ninguém será responsabilizado. (Esta previsão também entra aqui no capítulo dos factos, pois não tenho qualquer dúvida que será o que vai acontecer – se até o Avelino Ferreira Torres se vai safando...).

terça-feira, junho 06, 2006

Lendo o “Público” (2006/06/06)

«Segurança Social: Governo promete quantificar impacte financeiro da reforma.»

«O ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, Vieira da Silva, prometeu hoje quantificar o impacte financeiro das medidas para a reforma da Segurança Social, na nova proposta que o Executivo vai apresentar em sede de concertação social "Na próxima proposta todas as medidas vão estar quantificadas", afirmou Vieira da Silva.»

Constatações óbvias:

a) Desta vez não fizeram contas, mas acharam tão gira a ideia que não hesitaram em apresentá-la... Lindo!

b)Absolutamente extraordinário! Da próxima vez que tiverem uma ideia, antes de a apresentar, vão fazer contas para ver se a proposta é boa e viável, como qualquer pessoa normal e de bom senso o faria! Mais uma vez, lindo!!! Por favor, contratem a criancinha de 4 anos de uma das histórias anteriores...

Anonimatos

Normalmente, diz-se que uma das grandes vantagens da blogosfera é o anonimato, dicionariamente definido como “a qualidade ou condição do que é anónimo, isto é, sem nome ou assinatura”, o que permite que alguém expresse as suas opiniões sem estar sujeito a qualquer tipo de restrição.

É parcialmente verdade. De facto, ninguém, a não ser os das minhas relações mais próximas, sabe o meu nome, idade, profissão. Mas, curiosamente, são aqueles que desconhecem aqueles meus dados estatísticos que melhor me conhecem, já que os outros, quando o que escrevo “não encaixa”, limitam-se a pensar e/ou a dizer “o gajo estava a gozar!”. Os desconhecidos, esses, limitam-se (e bem, no caso) a acreditar.

Na realidade, o verdadeiro anonimato passa-se no nosso dia a dia – a nossa verdadeira profissão é a de actores de nós mesmos, representando todos os dias a mesma peça, com algumas variantes ao sabor dos acontecimentos, tal qual a moribunda revista à portuguesa. Efectivamente, na blogosfera, normalmente diz-se a verdade e os outros bloggers são, na realidade, quem melhor nos conhece pois, perante eles, para quê representar, se somos os tais anónimos da história anterior? Não esqueçamos que, eles também, são anónimos perante nós! (é evidente que estou a excluir os blogs mais ou menos pessoais, em que se discutem temas restritos e restritivos - no “Cuotidiano” vale tudo menos tirar olhos, como se dizia no meu saudoso Liceu Pedro Nunes...)

Continuando... Habitualmente somos anónimos de nós mesmos, escrevendo na solidão do nosso quarto, normalmente à noite, (normalmente sem camisa-de-forças...), só nos tornando alguém por reconhecimento de outros anónimos que, teoricamente, não nos conhecem mas que, na realidade, são os nossos confessores, insultadores, amigos, inimigos, escarafunchadores e sabe-se lá mais o quê. Por outras palavras, na blogosfera, só somos alguém não porque algum alguém concreto nos conhece mas porque muitos ninguéns abstractos o fazem; ou seja, esses anónimos, provavelmente conhecem-nos mais e melhor do que pessoas com quem convivemos todos os dias e que, até, sabem o nosso número de contribuinte como, por exemplo, o(a) também nosso(a) normalmente idiota chefe (*).

Só queria terminar dizendo para uma blogger (recentemente e espero que para sempre) a.miga que, seja sem orelha ou sem parafuso cerebral, o que vale realmente a pena existirá sempre e somente dentro de nós - por mais foleiro que esta frase soe...

__________________________________
(*) – Pequena e singela homenagem ao “Espaço Cinzento” cujo autor não conheço (no estrito sentido físico da palavra) mas que recomendo.

(Boas) citações e (Más) excitações

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

(Carlos Drummond de Andrade)


Nem sempre tudo o que parece definitivo o é. As pequenas coisas, os pequenos detalhes, são normalmente tudo o que fica, são os momentos que ganham vida própria, que se tornam vida e que, depois ainda, tomam conta da nossa vida, passam a ser a nossa vida - Afinal, tornam-se as grandes causas, as grandes coisas. Mas, de facto, grande, grande coisa, é mesmo um beijo de quem se ama - Isso sim, é um momento. Grande.



Vamos a eles, com força, sem vergar, com ímpeto, sem recuar, com magia, sem desfocar, e com eficácia, sem abrandar”

(Luis Delgado)


Não sei a quem é que esse louco se referia mas, pelo sim pelo não, é melhor pirarmo-nos! ‘Tá bem, eu sei que o mundo é grande, mas devia ser um pouco maior para termos a certeza de que ninguém, mas mesmo ninguém, correria o risco de se cruzar, sequer virtualmente, com essa coisa pequena que é o Luis Delgado - é que eu não desejo tanto mal nem ao meu pior inimigo, se é que ele existe.

sexta-feira, junho 02, 2006

Dia da criança

"O 1 de Junho é celebrado em todo o planeta como o Dia Mundial da Criança, mas as realidades com que se confrontam os mais novos continuam dependentes de factores tão distintos como o país de origem, a condição social ou mesmo o sexo. Em Hebron, na Cisjordânia, onde a violência é uma constante, alunos de uma escola do Hamas assinalam o dia participando num desfile com armas de brinquedo."
in "Publico"
Infelizmente, é verdade.

Heterossexual, o meu filho? Era o que faltava!

“Pai, precisamos de falar”, disse em tom grave, interrompendo-lhe a habitual leitura dominical de jornal. “Que é?”, perguntou o pai, renitente em dobrá-lo, “passa-se alguma coisa?” De facto, passava-se. Seu filho tinha resolvido assumir e não valia a pena estar ali com rodeios – era preciso ir directo à questão. “Vou ser pai!”, disse, levando em cima, como consequência, um pesado silêncio de séculos. Alguns segundos depois...

“Então e já agora, posso ao menos saber, por curiosidade, quem foi a criatura que doou o óvulo?”, perguntou-lhe seu pai, ainda em tom minimamente feliz. No entanto, tinha chegado o momento da verdade – havia que assumir. “Não, pai, não vai ser um bebé-proveta; foi feito, chamemo-lhe, naturalmente, vamos ser pais de verdade”.

- O quê? Vou ter um neto que tu fizeste, chamemo-lhe sexualmente, com uma ... blherc... mulher? Será que não viste o exemplo de harmonia que é dado por mim e pelo António, teu segundo Pai e, repara bem, tua primeira Mãe? Diz-me, vá, diz-me, o que é que fizemos de errado, onde errámos na tua educação?
- Não fizeram nada de errado, Pai, eu adoro-vos, mas sou diferente, tens de aceitar, tens de respeitar, eu e a Susana amamo-nos, independentemente do que o Mundo pense.
- Mas como queres que eu diga isso aos meus amigos, aos meus colegas de trabalho, a toda a gente, que tenho um filho (nem acredito!) heterossexual? Estás louco?
- Pai, por favor, esta é a verdade, não me faças continuar a mentir a mim próprio e ao Mundo; eu sou, de facto, heterossexual!

Nesse momento, acordou. "Que porra de pesadelo, um filho heterossexual... chiça!"

quinta-feira, junho 01, 2006

Lendo o "Público" (2006/06/01)

"Governo vai vender doze F16 comprados por Guterres e que nunca funcionaram"
Em homenagem ao Dia Mundial da Criança:
Caso se pergunte a uma criança de 4 anos se quer um aviãozinho que trabalha a pilhas mas que, caso seja comprado, fará com que já não haja dinheiro para as pilhas que o fazem funcionar, ela dirá:
a) 'Bora lá comprar doze destes!
b) Não quero. Prefiro gastar o dinheiro noutra coisa qualquer que seja mais importante do que olhar para um (ou doze) aviãozinho(s) parado(s).
Conclusão: Saía mais barato ao país pagar um chorudo ordenado a uma criança de 4 anos como acessora/conselheira do Ministério da Defesa do que deixar as compras entregues a quem estão.