CUOTIDIANO

sábado, dezembro 30, 2006

Previsões para 2007 (I) – Frases que não ouviremos

Bento XVI – Vou mudar de nome para Mahomed Yiossuf I.

Mário Soares – Deus é fixe!

Saddam Hussein – Qualquer uma.

Cavaco Silva – Ontem enganei-me e, pior ainda, hoje acordei cá com umas dúvidas levadas da breca. Por exemplo, foi Nietzsche atraído pelo ateísmo de Schopenhauer ou apenas por desconfiar que ele havia sido o tradutor do Kama Sutra para alemão?

José Sócrates – Eh pá, que se lixe, ‘bora aí gastar a massa toda!

Paula Bobone – Dei um pum socialmente incorrecto. (ou seria com o recto?)

Marques Mendes – Fui outra vez à Disneylândia e este ano já não me barraram na entrada da montanha-russa.

Carmona Rodrigues – O túnel do Marquês foi inaugurado.

Santana Lopes – Ontem ninguém me tentou tramar.

Jerónimo de Sousa – Há trabalhadores que, de facto, são uns calões do caraças.

George Bush – Que grande asneira ter invadido o Iraque...

Scolari – Vi um jogo de futebol ao vivo.

Rui Rio – Fui ao teatro.

Lula da Silva – Cachaça? Whisky? O que é isso?

Pinto da Costa – Por fabor bolta, Carolina, num cases com o Beiga! Cumo presente dou-te um arbitrozinho para brincares!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Lendo o “Público” (2006/12/28) – “Governo reforça controlo de assiduidade nos hospitais com sistemas electrónicos”

“Lei com oito anos é ignorada na maior parte dos estabelecimentos de saúde”


A “Secretaria-Geral do ministério alega que o método de assinatura de livros de ponto não tem rigor” – e alega muito bem! Curiosamente, “o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes, considera que a decisão do Governo de controlar a assiduidade dos profissionais de saúde é lamentável, imprópria e populista. O médico lamentou também que os hospitais sejam agora obrigados a comprar relógios quando muitas vezes não têm verba para adquirir medicamentos.”

Ó sô dótor, parabéns, essa sua frase conseguiu ultrapassar todo e qualquer populismo!

Mas qual é o problema? É que, se já assinavam os livros de ponto com as horas correctas, torna-se totalmente indiferente o modo de registo. Então o protesto contra estas medidas (na lei há oito anos!) não será a admissão de que os aldrabavam?

Por outro lado, se a questão é que os médicos não deveriam ser sujeitos a controlo de horas, então o próprio livro de ponto já estaria mal e contra isso não protestavam. Será (pergunto eu, com a minha mente perversa...) porque sabiam perfeitamente que (praticamente) ninguém registava as horas correctas? Será?

Todos nós quando (infelizmente) vamos ao médico, verificamos que, de uma maneira geral, sofrem do “síndrome de noiva” – até parece mal se chegarem a horas, – levando, por vezes, esse estado de coisas ao limite, ou seja, não aparecendo sequer. Então se estamos a falar de serviço público, pago pelos nossos impostos, não é de exigir que as pessoas cumpram as horas do seu trabalho? Por acaso até gostaria de saber o que um director de serviço diria à empregada de limpeza, se ela lhe dissesse que se recusava a “picar o ponto”...

Termino com uma última pérola do Conselho Regional do Norte da Ordem dos Médicos: “Sob o pretexto do controlo de assiduidade, visam, na prática, a desarticulação dos serviços de acção médica”. O que um malandro de um relógio não consegue fazer...

domingo, dezembro 24, 2006

A Dor de Mãe - Poema de Natal

Era a manhã de Natal
E fui acordar meu filho adorado
Para abrirmos as prendinhas
E ver o presépio encantado

Mas quando cheguei ao pé dele
- Que grande surpresa a minha
Ia tendo um colapso
Quando lhe abri a caminha

Mal fui para o abraçar
Senti uma ranhoca mole
Tinha havido um feitiço
Meu filho era um caracol

Olhei para ele e perguntei:
- Mas que te aconteceu, afinal?
E ele respondeu, embaraçado:
- Estava grosso, o Pai Natal!

- Fez-me isto sempre a rir
Com um bafo a whisky rasca
Deu-me, de presente, um arroto
E voltou com as renas p’rá tasca!

Então corri logo para o telefone
E chamei um médico que o tratasse
Que veio tão rapidamente
Que até deu mau nome à classe

Mas quando chegámos ao quarto
Disse meu marido, no fim da imperial:
- Vê se temperas melhor os caracóis
Que este não estava nada de especial!

A moral desta história é
Que um pai não deve comer o filho
Pelo menos até ser bem temperado
Com sal, pimenta e tomilho

sábado, dezembro 23, 2006

Resistindo ao Invasor

Estamos há um ano e meio no bunker resistindo ao invasor bem que soldados dele nos batem periodicamente à porta em camisinha branca tentando doutrinar-nos mas nós disfarçamos e dizemos sempre não está ninguém só nós as cadeiras e eles vão-se embora os palermas pelo que conseguimos ver por uma fresta mal tapada do nosso refúgio vêm sempre de prontuário na mão dizendo que ali reside a salvação e que a vírgula marca uma pausa curta e que as reticências assinalam uma suspensão de frase balelas gramaticais e que está para descer à Terra mais coisa menos coisa daqui a um ano vá lá dois o anjo dos três pontos que nos irá salvar mais ainda mas nós não somos desses nunca seremos e nunca nos deixaremos converter e nunca sairemos daqui a chatice é que cheira mal à brava deve ser do Jorge que era um purista e tentou ler o esboço deste texto de um fôlego só como mandam as regras conforme ele dizia e morreu de falta de ar ou disso ou dos pés do Santos da mercearia mas parece-me mais provável ser do Jorge por causa das larvas que já lhe levaram os olhos adiante dizia eu que não usámos não usamos e não usaremos qualquer sinal de pontuação que isso seria pactuar com o inimigo e nós não somos nenhuns vendidos não senhor e não nos deixaremos aculturar até no outro dia o Antunes queria fazer uma concessão e escrever pondo lá pelo meio um ponto em cima de uma vírgula e até fui eu que disse alto lá que isso não é Literatura é deboche um ponto põe-se numa vírgula e depois sabe-se lá o que acontece ainda têm um filho e imagina que sai um ponto de exclamação e depois o ponto diz porra que este não é parecido comigo deve ser filho mas é do leiteiro e a vírgula que chatice és um desconfiado do caraças e o ponto os meus pais e os meus avós também eram baixos e redondos como eu explica-me lá como é que saiu esse fininho ai o caraças que já me estou a chatear e às tantas começavam à porrada e aos tiros e os danos colaterais eram as palavras e depois os textos ficavam em branco e tínhamos que voltar aos sinais de fumo mas os sinais de fumo só lá fora do bunker e assim éramos apanhados e por isso tivemos de matar também o Antunes eh pá se calhar é daí que vem o mau cheiro desculpa lá ó Jorge por te ter invectivado em vão e as larvas não responderam mas vai daí começaram todas a cantar à Hollywood e a fazer sapateado em cima dele deve ser da droga um gajo pensa que estas porcarias só acontecem aos outros mas afinal só dei uma passita, caramba eh pus uma vírgula deve ser de estar drogado que um gajo nestas alturas só pensa em mamas e nem sabe o que faz vai daí o Santos disse-me faz outra dessas faz e também morres e eu respondi tu e mais quantos e espetei-lhe um ponto de interrogação que os invasores tinham deixado por debaixo da porta pelo rabo acima e rodei-o só para chatear e o sacana disse que até nem era mau de todo não é que gostou e que para a próxima quer também um ditongo e eu o caraças ou julgas que eu sou daqueles que põem ditongos onde calha os ditongos são para se usar criteriosamente e ele ‘tá bem e eu cheirei o Antunes para voar mais alto e quando ia a trincar qualquer coisa antes de jantar ou seja mais uma larva do Jorge ela disse-me é melhor não que eu comi dois pontos agora mesmo e estou a sentir-me mal e ainda apanhas uma congestão e eu perguntei onde é que os arranjaste e ela disse foi o Santos que me deu e então tive de acabar também com o Santos que isto da pontuação pode ser como uma epidemia depois espalha-se e sabe-se lá o que pode acontecer ah é verdade como tive de matar o Santos fiquei sozinho aqui com um mau cheiro do caraças mas resistindo despontuação ou morte, vencerei! Porra pus não um mas dois sinais de pontuação deixei-me levar pelo momento pronto não mereço viver bem dizia o Santos vou-me suicidar também nem é preciso fazer muito com este cheiro basta respirar e vou inspirar muito e à brava

Fui

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Lendo o “Público” (2006/12/22) - “Pela paz, façam o favor de ter um orgasmo hoje, OK?”

“É o dia do ‘Grande O’. Donna e Paul querem que todo o mundo tenha um orgasmo. Por uma boa causa. [...] A única condição é que durante e depois do ‘Grande O’, como os autores da iniciativa lhe chamam, os participantes concentrem os seus pensamentos na paz. Isto porque, segundo os californianos Donna e Paul, ‘a combinação de elevada energia orgásmica com uma intenção consciente contribui para reduzir os níveis globais de violência, ódio e medo’”.

Sim, parece lógico – enquanto se dá uma queca é um bocado complicado estar aos tiros! A chatice vai ser é para os “sado-maso” que, sem violência, ódio e medo não conseguem atingir o orgasmo. Ah, e também para os tuaregues no deserto só com um camelo, supondo que o camelo está numa de dores de cabeça (o tuaregue pode sempre desenrascar-se sozinho, já sei, mas assim haveria menos convívio...).

Finalmente, espero que haja por aí algum benemérito que dê uma a mais, porque eu estou a trabalhar e não queria estragar a estatística desta bela iniciativa.

Já agora, porque é que os norte-americanos não se lembraram disto antes e, em vez de bombardear o Iraque, não lançaram bonecas insufláveis?


PS – Será isto o “remake” modernaço do “make love not war”?

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Lendo a primeira página do “Público” de 2006/12/20

“Sporting assinou dois contratos com João Pinto no negócio mediado por José Veiga”

De facto, e conforme exaustiva investigação levada a cabo pelo “Cuotidiano”, um dos contratos era para jogar futebol e o outro para apresentar o “TV-Rural”, no qual José Veiga faria o papel de um burro amigo – mas apenas amigo já que, apesar de dormirem no mesmo quarto, faziam-no em camas separadas. No entanto, este último contrato nunca chegou a ser cumprido já que, quando estava para arrancar o primeiro programa e Veiga já ensaiava mexendo no bolso de uma vaca amiga, veio um banco do Luxemburgo e comeu-o.


“Terrenos polémicos de Marvila foram vendidos por mais do dobro do preço a fundo da Caixa”

Professora da Quarta Classe: Menino Joãozinho - Se se vendeu 60% de um terreno que custou, todo ele, 26,2 milhões de euros por 56,5 milhões de euros, em quanto foi o terreno valorizado?
Menino Joãozinho – Faz-se 56,5 a dividir por 26,2 e a dividir por 0,6, o que dá cerca de 3,6 vezes.
Professora da quarta classe: Muito bem, menino Joãozinho.
“Cuotidiano”: E porque carga de água os jornalistas não sabem fazer contas? O preço por m2 do terreno vendido foi mais do triplo, quase o quádruplo, do valor do terreno comprado. Conselho: Contratem jornalistas com, pelo menos, a quarta classe.


“Mantorras vítima de tentativa de extorsão de falso comando armado”

Ao que parece, Mantorras terá sido ameaçado de, nos jogos do Benfica, passar a haver um detector de metais à entrada do campo, o que o obrigaria a jogar só com uma perna.


“Sector automóvel em maré de encerramentos”

Obrigado... com a mania de fazerem fábricas da Peugeot, da Opel! Deixem de fazer carros para tesos cada vez mais tesos! Pensem em grande! Façam fábricas da Ferrari, Lótus, que esses carros, conforme mostram as estatísticas, em Portugal estão sempre vendidos! (Sim, ou julgavam que o dinheiro que os tesos vão deixando de ter não ia para nenhum bolso, apenas desaparecia?)


“Kadhafi desafia comunidade internacional com condenações à morte”

... E não é que a Líbia fazia parte, até ao ano passado, da comissão de direitos humanos da ONU (onde foi muito bem substituída por, entre outros grandes campeões dos direitos humanos, China, Cuba e Arábia Saudita)?


“La Féria diz que Rivoli não será prolongamento do Politeama”

Contrariamente às notícias oficiais, conseguimos apurar que a Câmara do Porto pondera comparticipar nas obras do TGV que fará a ligação Lisboa-Porto, para que o Rivoli possa ser, efectivamente, o prolongamento do Politeama.


“Morreu Joseph Barbera, o pai de Tom e Jerry e dos Flintstones”

Há pessoas que não deveriam morrer. Outras, como Pinochet, que nunca deveriam ter nascido. Outras ainda, como Kate Moss, que deveriam ser clonadas.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Talvez um dia eu saiba porquê

Talvez um dia eu saiba porquê, mas por enquanto só sei que te espero.

"Durante quanto tempo pode alguém sobreviver sem um abraço à sua espera, um afago e um sorriso, um espaço, um olhar, um silêncio, um alguém inteiro que o aguarda, o deseja, o envolve?..."

Entrei. Ao fechar a porta ouvi... a porta a fechar-se – não parece estranho, pois não? Mas é. Quando se entra e não se ouve uma qualquer voz, uma qualquer frase - desde que inclua o nosso nome (e perto, de preferência); se não há um só gesto, um só abraço que nos envolva, se não há um só beijo que nos tire do “só” e nos devolva o que somos - e que deixámos em casa para que ninguém sequer desconfiasse que existíamos... então tornamo-nos apenas e só estranhos de nós mesmos e já nem estranhamos ouvir a porta a fechar-se - afinal a porta que vamos fechando a nós próprios, ao que somos e deixamos morrer. Mas (e aí está o truque tipo “Circo Cardinalli”) morrendo sim, mas devagar e empanturrados de luzes!

"Durante quanto tempo pode alguém sobreviver sem um abraço à sua espera, um afago e um sorriso, um espaço, um olhar, um silêncio, um alguém inteiro que o aguarda, o deseja, o envolve?..."

Talvez um dia eu saiba porquê, mas por enquanto só sei que desespero – mas devagar e empanturrado de luzes. Já agora, querem que vos conte uma anedota? Era uma vez...


PS – APC, obrigado pelo itálico e muito mais!

domingo, dezembro 17, 2006

Lendo “O Público” (2006/12/17) – “Câmara do Porto entrega gestão do Rivoli a Filipe La Féria"

”A Câmara do Porto anunciou hoje a concessão da gestão do Teatro Rivoli por quatro anos, a partir de 1 de Maio de 2007, ao produtor e encenador Filipe La Féria.”


Não posso!... Se há coisa que eu adoro no Natal é uma bela surpresa...

Mais a sério. Num qualquer espaço público, estou de acordo que haja espectáculos, chamemos-lhe, de "massas" (como os do La Féria), mas também tem de haver "espaço" para propostas inovadoras, nem que não tenham quase público nenhum e mesmo que precisem de subsídios - a evolução da arte (e a arte é indispensável à evolução dos povos, sendo dela indissociável) sempre se fez à custa de "incompreensões", formas diferentes de ver, pensar, sentir e transmitir a realidade, análises não coincidentes com as maiorias, projectos utópicos. É evidente que, conjuntamente com aqueles que, de facto, fazem Arte, há uns quantos que se arrastam “disfarçados” de artistas - mas isso é natural e o tempo encarregar-se-á de tratar disso. Não se pode é, à partida, recusar a inovação e a experimentação, por pouco popular e de massas que seja. Julgo que a palavra-chave aqui é "equilíbrio", coisa que me parece que, ultimamente, Rui Rio não tem a noção do que quererá dizer...

Outro aspecto do problema é o equilíbrio financeiro. Um modo simples de o conseguir seria, com parte dos lucros obtidos com os espectáculos de massas, cobrir eventuais prejuízos advindos das tais propostas inovadoras – ter-se-ia, assim, uma situação equilibrada que não só satisfaria o “grande público” como permitiria, também, aos “artistas minoritários” ter o seu espaço de experimentação artística, fundamental para a evolução da Arte.


PS - Já agora, porque é que a gestão pública é má e a privada é boa? Não me digam que não há firmas privadas mal geridas e a falir... A questão é se os gestores são bons ou maus e se lhes são dado meios para cumprir a sua missão, apenas isso.

sábado, dezembro 16, 2006

O botão

O botão ali estava. Mas... donde teria surgido? Ainda na véspera, na véspera da véspera e em todos as vésperas desde há vinte anos aquela parte, depois de arrumado o carro na garagem tinha ali passado no caminho para casa e - estava seguro disso - não havia lá nada. Estranho...

Mas o facto é que o botão ali estava. Vermelho, com uma lâmpada a piscar lá dentro, e com um pequeno cartaz por cima com a frase “Para o fim do Mundo carregar aqui”.

Estranhíssimo. Nunca nada fora do comum lhe havia acontecido, nada de particularmente emocionante – era casado com uma mulher comum, tinha um cão comum, levava uma vida das 9 às 6 (no restante do tempo esperava pelas 9 seguintes), aos fins-de-semana fazia jogging, centro comercial e televisão. Tudo comum (ah, à excepção de uma vez em que tomou um antibiótico com uma hora de atraso – ganda maluco! – “só para dar adrenalina”). E agora... isto?

De hesitação em hesitação, começou a andar às voltas em torno do botão - E se é mesmo? E se acaba o Mundo? Não, não pode ser, não tem pés nem cabeça. Bom, mas também nunca se sabe... que chatice, detesto surpresas! Bom, calma, só pode mesmo ser uma brincadeira parva, com certeza que é isso, carrega-se e não acontece nada, só pode. Mas...

Começou a suar em bica. Coração aos saltos, dedos nervosos, até que... não resistiu mais – carregou no botão com toda a força, gritando:

- Venci-te, botão, venci-te, não me amedrontaste! O Mundo continua, vês?! Venci-te!

Puro engano. Três gritos depois, e por causa de toda aquela excitação (única e última da sua vida), teve um ataque cardíaco e morreu. De facto, o Mundo havia acabado. Para ele.

(O botão? Fugiu para o Pentágono onde, evidentemente, passa despercebido – lá, botões “para o fim do Mundo” é mato!)

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Recortaste-me

(Antes do mais, vou desde já avisar que este texto é longo à brava. Para quem não tiver pachorra, salte directamente para a conclusão moral em “PS”. Para os outros...)

Recortaste-me das fotografias, das imagens, da tua memória. Fazes (mais ou menos) anos e, por mais que doa, por mais que eu não queira, o facto é que assim fiquei - recortado. O que é curioso é que, estupidamente, e por mais lobotomias que eu faça, que tu faças, pensei que nunca sairíamos do tempo passado, para nós passado e para sempre futuramente presente. Estupidamente, já sei, já confessei!

E depois... deixámos beijos a meio, saudades de um quarto que não houve, imagens de um oitavo de beijo, como se de um polvo de afectos se tratasse.

E depois ainda e porque nada sei e nunca consigo dizer-te o que sinto e me baralho e me confundo e me perco nas dores nocturnas das sobras perdidas do meu próprio coração, reli Ramos Rosa (só para te oferecer):

“Porque não soube merecer a glória, a mais suave
de me deitar a teu lado
e que do sangue a palavra
abolisse a diferença entre o meu corpo e a minha voz
porque te perdi
não sei quem sou”

Reli outra vez, agora na página seguinte a “O Funcionário Cansado”:

“Sujei o teu nome
para me libertar de ti
o sujo foi sombra
teu nome esqueci-o”

Na página anterior:

“Não posso adiar o amor para outro século
não posso
[...]
Não posso adiar o coração”

De repente senti-me perseguido pelo fantasma das coincidências, pelas centelhas da saudade que ecoam nas brumas, pela armadura medieval que rodeia os meus desejos – como “pré-defunto” algaliado com sombras.

Ainda mais de repente, repensei - Bom, se calhar o melhor é esquecer as páginas seguintes e anteriores e mais para a frente e mais para trás e mais...

Adiante. Então pensei vingar-me – resolvi recortar palavras. Toma, toma! Então ficou assim:

“Não posso adiar o para outro século
não posso
[...]
Não posso adiar o.”

Não soa bem, de facto. Então resolvi substituir “amor” por “salmonete” e “coração” por “pinheiro bravo”. Ficou assim:

“Não posso adiar o salmonete para outro século
não posso
[...]
Não posso adiar o pinheiro bravo”

Soa pior ainda, confesso. E agora, que faço? Resolvi telefonar à minha psicóloga clínica de serviço permanente, que me disse que o melhor era deixar para prolongamento, que empates entre o “Id” e o “Alter-ego” só podiam ser resolvidos à pancada. Esperei.








Ah, é verdade, continuo à espera.






À espera.






Bem, ‘tou farto!










PS – Um salmão nadava, saltava contra a corrente. Sentia-se importante. Lutava contra o sistema instituído. Um urso comeu-o. “Não vale a pena”, pensou ele tarde demais.



Ah, esqueci-me de dizer – FIM!

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Morreu Pinochet



Propostas para epitáfio:

Resultado final:
Assassinados – 4.000 : Torturados – 28.000

Ou

Mais um criminoso que escapa
À justiça, à socapa

sábado, dezembro 09, 2006

Lendo o “Público” (2006/12/06) – “Dois por cento da população mundial reparte metade da riqueza”



“Dois por cento das pessoas mais ricas do planeta repartem entre si mais de metade da riqueza de todo o mundo, enquanto 50 por cento da população mundial divide pouco mais do que um por cento, de acordo com um estudo das Nações Unidas. Segundo o estudo, para que uma pessoa seja incluída na metade mais rica do planeta basta que o conjunto dos seus bens financeiros e materiais, após a subtracção das dívidas, valha 1650 euros. Segundo o documento, um por cento dos adultos mais ricos é dono de 40 por cento dos activos mundiais, enquanto dez por cento desse grupo possuem 85 por cento de toda a riqueza. Por zonas geográficas, a riqueza está concentrada na América do Norte, Europa e em países da Ásia-Pacífico. A população destas nações possui colectivamente 90 por cento da riqueza total".


Nunca fui grande apreciador desta ‘época festiva’, mas agora é que perdi definitivamente a vontade de gastar dinheiro em prendas de Natal!

quarta-feira, dezembro 06, 2006

(Ao contrário do que se diz) O Pai Natal é que inventou a Coca-Cola!


Sim, não sabiam?

Atendendo à idade e à dificuldade em se alimentarem decentemente na Lapónia por estas alturas geladas, as renas tinham cada vez menos força para andar - quanto mais para voar e, ainda por cima, puxando um trenó com um gordo atulhado de whisky e presentes... (já agora, como é que o gajo arranjará comida? Será que, para além de em sentido figurado - ver figura ao lado, ilustrando os preliminares -, também come renas literalmente? Adiante...)

Assim, e por forma a resolver este problema, o Pai Natal inventou a Coca-Cola. E como é que ele faz? Simples. Ata as renas ao contrário no trenó (não me digam que nunca tinham reparado em nada de estranho?!), dá-lhes umas litradas valentes de Coca-Cola e lá vai ele pelos Céus, num trenó movido (ecologicamente) a arroto de rena! Brilhante, não?

Ah, e esta invenção trouxe uma vantagem adicional, que foi nunca mais ter havido presentes baralhados – é que, como as renas estão voltadas para ele e, consequentemente, lhe arrotam para cima, o Pai Natal deixou de beber, pois se há coisa que ele detesta é whisky-cola! (“Para misturas já bastam as porcarias que eu faço com as renas, oh, oh, oh!”)

domingo, dezembro 03, 2006

Malditas expressões idiomáticas!

Já namorávamos há muito, o passo natural seguinte era o casamento. Pedi-lhe a mão e ela, em troca, pediu meu coração para sempre. Apaixonado como estava, aceitei.

Burrice! Bem sei que ela ficou maneta mas, caramba!, eu fiquei morto; pior ainda, desempregado – e toda a gente sabe como é difícil arranjar um emprego hoje em dia, não é?

É para aprender a não confiar em expressões idiomáticas...