CUOTIDIANO

terça-feira, outubro 30, 2007

Os Jardinzinhos

A Assembleia Legislativa da Madeira diminuiu, de 2007 para 2008, o seu número de deputados regionais de 68 para 47, sendo que o orçamento apenas passou de 17,6 para 17,2 milhões de euros. Por outras palavras – menos 30% de parlamentares e um gasto praticamente igual! No entanto, se as contas tivessem sido feitas dentro da legalidade e correctamente, o parlamento regional teria poupado quase três milhões de euros, no somatório das subvenções aos grupos parlamentares e dos vencimentos dos deputados regionais. Então... como é possível ?! Duas “medidas” simples: o não cumprimento da lei - facto a que, infelizmente, já ninguém liga nenhuma por se ter tornado um (escandaloso) hábito na Madeira - e aumentos desmesurados aos que se vão abotoando com o dinheiro que é de todos nós. Só dois pequenos exemplos de remuneração anual: Presidente – 90.000€; vice-presidente - 67.000€. É preciso explicar mais?

Curiosidade final: O orçamento para a correspondente assembleia nos Açores representa cerca de 60% do da Madeira, apesar de terem mais 5 deputados regionais. Mas... o país não é o mesmo? E, já agora, não é também o mesmo onde há fome e desemprego?

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segunda-feira, outubro 29, 2007

Acasos

Quando nos sentámos, lado a lado, naquele banco de jardim, em mais um dia de sol e pássaros, nem demos conta de que o fizemos ao mesmo tempo e que, nesse preciso momento, os nossos braços se tocaram. Ligeiramente. (Nem reparaste, eu sei). Sei também que as mãos ficaram. Paradas. Inocentes. Os gestos também. Só sobraram os espaços. As imagens.

Quando, algum silêncio depois, fomos embora, partimos em direcções opostas. Tu nem deste pela minha saída, apesar de simultânea com o teu exacto instante de ir embora. Coincidência ?

Resumindo: Fui. E Foste. E nem olhaste para trás.

Adiante. Ao afastar-me, deixei cair o talão mal dobrado e inútil e velho e gasto de uma antiga conta de supermercado. Nada civilizadamente, confesso, fiquei apenas a olhar, enquanto o vento o arrastava, aos saltos, pelo chão.

Entretanto, passou alguém. Vá lá saber-se porquê, apanhou o meu recibo e constatou que eu havia comprado uma coca-cola, dois pacotes de caril, um frasco de leite de côco e umas gambas congeladas. Riu-se. Depois deu um berro:

- Ei, você aí, ainda não percebeu que um caril não se come acompanhado de refrigerantes? E que lhe falta o tomilho?!

Tinha razão – e eu a pensar que o que me faltava era amor! Que estúpido que sou!

quinta-feira, outubro 25, 2007

Jardim Gonçalves, adopta-me! (revisto e acualizado...)

Conforme todos lemos nos jornais, o filho de Jardim Gonçalves pediu um empréstimo de 12 milhões de euros ao brinquedo do Papá, o BCP, não o pagou e a dívida foi-lhe perdoada porque, segundo o banco, “não tinha possibilidades de a pagar”. Ou seja, não deve nada! Então, mas... para que um banco empreste dinheiro não é preciso fiadores, as jóias da família, um rim, hipotecas - qualquer coisa que garanta o pagamento? Ou será coincidência tratar-se do filho de Jardim Gonçalves que, por coincidência também, é filho de Jardim Gonçalves? Humm...

O sr. Joaquim Silva, que vive num T1 em Alcabideche juntamente com sua abigodada mulher - a que chama esposa -, três filhos e quatro gatos, atrasou-se na prestação da casa porque, nesse mês, cometeu a diletante extravagância de comprar carne. Depois de multas e juros, só conseguiu pagar os 320€ mensais em dívida porque, por sorte, o seu irmão, emigra no Luxemburgo, lhe emprestou o dinheiro. E se não pagasse esta e mais algumas? É claro que o banco lhe ficava com a casa, como já acontecera, meses antes, com o seu vizinho da frente – por acaso, também cliente do BCP.

Curiosidade adicional: no ano passado, 90% dos gastos com trabalhadores do BCP foram-no com a Administração, sendo que cerca de 15% dos lucros do banco foram dispendidos em prémios para (adivinhem lá...) a Administração. Mas é evidente – com um trabalho tão bem feito, tipo Rabinho dos Bosques (piada de grande gabarito, que deverá ser entendida como “Robin dos Bosques invertido”), que obriga os pobres a pagar para que se possa esquecer as dívidas dos ricos, não haveriam eles de ser recompensados ?!

Já agora, terá sido coincidência o BES, entretanto, estar com uma campanha chamada “Pai”, cuja ideia de base é alguém que não seja filho do Abramovich (ou do Bill Gates, ou...) ir a esse banco pedir dinheiro emprestado? Humm...



PS – Depois de ter escrito este texto, soube pela rádio que Jardim Gonçalves (para ver se ainda consegue manter-se no poder, “sobrevivendo” à crise) havia pago a divida do filho, consequência do tal não pagamento de um empréstimo ilegal - já que, até prova em contrário, um filho é familiar directo de seu pai. Decência teria sido pagar antes da comunicação social ter descoberto o escândalo. Depois disso, não é mais que tapar o sol com a peneira.

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quinta-feira, outubro 18, 2007

As seringas são nossas amigas

Segundo o “DN” de hoje, “os guardas prisionais que detectem droga nas prisões abrangidas pelo programa experimental de troca de seringas terão de apreendê-la e denunciar a situação. [...] A alegada incompatibilidade entre a distribuição de seringas aos reclusos e o cumprimento da lei foi rejeitada por Alberto Costa.”

Já estou a imaginar os prisioneiros, no pátio, a brincar aos médicos – sim, porque as seringas são distribuídas não para injecções de droga mas para que haja mais convívio e brincadeira. Só pode.

(Na mesma onda, proponho a criação de um guichet nas esquadras para distribuição de balas de borracha aos tipos dos gangs para que, nas rixas, não façam grandes dói-dóis uns aos outros, coitados).


Mas... não era suposto que uma prisão fosse o sítio mais vigiado de todos e, como tal, não houvesse entrada de droga? Então, ao haver troca oficial de seringas, não estaremos a admitir, oficialmente, a falência total do policiamento? Ou que o dito policiamento é corrupto?

Alguém que me explique isto, faxavor!

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quarta-feira, outubro 17, 2007

Protocolo de Quioto diz que Bush é “má política”



I

No “Público” de hoje lê-se que “o Presidente norte-americano, George W. Bush, reiterou a sua oposição ao Protocolo de Quioto, classificando aquele tratado internacional como ‘má política'. A ideia de Bush – de compromissos voluntários a assumir pelos países com maiores emissões – não tem sido bem recebida. [...] Em 2001, Bush abandonou o Protocolo de Quioto, argumentando que o tratado seria prejudicial à economia norte-americana”.


Farto de tanta estupidez junta - tanto mais que Bush as deitava para o ar sem qualquer restrição ou controlo -, o Protocolo de Quioto resolveu retaliar. Instalou no rancho texano do “Bushito” (onde ele passa mais tempo do que na Casa Branca...) uma fábrica de curtumes - bem jeitosa, por sinal - importada de Alcanena, abateu todas as árvores que lá havia, deitou umas toneladas de lixo tóxico em cima da cama do tipo, mijou chuvas ácidas no seu jacuzzi e, a tudo isto, ainda juntou um pouco da atmosfera de Tóquio em dias de nevoeiro, temperada com umas nuvenzitas radioactivas - só para dar ambiente.

- Bom, já deve chegar - pensou o pequeno Prot.

Errado! No dia seguinte, em conferência de imprensa, George Bush recusou aceitar qualquer relação entre o que se havia passado e o seu gato ter aparecido com duas cabeças. “A outra deve ter caído apenas por coincidência”, afirmou.

II

“Tenho opiniões próprias – opiniões firmes – mas nem sempre concordo com elas” – George Bush (pai).

Mas porque carga de água é que o filho não segue o conselho do pai e discorda dele próprio?!

III

Também segundo o “Público”, James Watson, Nobel da Medicina em 1962, um dos homens responsáveis pela descoberta da estrutura molecular do ADN, precursor da genética, afirmou acreditar que “os negros são menos inteligentes que os brancos”. Caramba, sô dótor, essa teoria é brilhante! Só tem é assim uns pequeníssimos, minúsculos, insignificantes problemas. Por exemplo: não só o senhor é bronco, perdão, branco, como, se a sua teoria estivesse certa, o Bush seria retinto!

(Estou cá com a impressão que, por este andar, aqui o dótor ainda acaba presidente dos EUA...)

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sábado, outubro 13, 2007

Dúvida de um ateu

Se Jesus Cristo fosse vivo, estivesse em Portugal e dispusesse de 80.000.000€ para gastar, iria com eles ajudar quem passa fome, quem não tem abrigo, quem não tem saúde, quem nada tem para dar aos próprios filhos ou... construiria uma igreja maior e mais gira? Hummm, deixem-me pensar...


PS - Já agora, sabiam que os lucros gerados com o novo santuário (que custou o dobro do previsto, seguindo uma ancestral tradição portuguesa) vão directos para o Vaticano, que até já enviou para Fátima um “padre-contabilista” para controlar as contas? Mais uma coisa gira...

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sexta-feira, outubro 12, 2007

Pastorinhos a santos, já!

Segundo o “DN” de ontem, “especialistas duvidam de cura milagrosa que envolve criança diabética”, estando “a canonização dos videntes de Fátima Jacinta e Francisco ainda dependente da comprovação da cura milagrosa”. Refere também que “os peritos médicos do Vaticano estão insatisfeitos com o alegado milagre que sustenta o processo de atribuição do estatuto de santos aos pastorinhos e vão pedir novos dados. Se estes forem inconclusivos, será necessário outro milagre.”

Noutra notícia também de ontem, o mesmo jornal relata ainda que “um quarto da população portuguesa sofre de depressão. Contas redondas, são mais de 2,5 milhões de pessoas.”



Com a actual situação de desemprego, dificuldades económicas, problemas sociais e pouca confiança no futuro, o verdadeiro milagre é haver 7,5 milhões de portugueses que NÃO estão deprimidos. Telefonem já ao Vaticano e safem os pastorinhos! Que se lixe a diabetes da criancinha, são 7,5 milhões de milagres, não chega?!

Pensando bem e já que são tantos - sendo necessário apenas um – e para evitar o desperdício, até que se poderia montar, em Roma, uma banca de venda de milagres a aspirantes a santos, revertendo a massa a favor da redução do deficit. Por exemplo: os pastorinhos ficariam com 7.499.998 milagres e um padre do sec. XVII que não consegue ser canonizado apesar de, em vida, ter sido extraordinariamente chato - tendo até, ao que parece, morrido decapitado por isso -, ficaria com os louros de ter animado a senhora da mercearia, viúva, perneta, com quatro úlceras e quarenta gatos zarolhos. E aquele famoso mártir – com um bigode ridículo mas cujo nome não me lembro -, que acabou sodomizado por uma tribo africana só porque usava uma t-shirt com “Jesus ama-me” na frente e um anúncio da Benetton atrás (não se sabendo, até hoje, qual dos dois lhes terá provocado tamanha ira), seria o responsável pelo actual estado eufórico do homem do talho, apesar do dito talho estar em falência e do banco ter executado a hipoteca da casa – isto já para não falar na fuga da sua mulher com um periquito dotado, ao que consta, de um ganda barrote.

Mas adiante e ao que interessa - alguém que ligue depressa para o Vaticano, faxavor!

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quarta-feira, outubro 10, 2007

Cátia Vanessa Silva Campeã Olímpica!

Segundo o “Publico” de 9 de Outubro passado, “a aleta grega Ekaterini Thanou poderá vir a ser contemplada com a medalha de ouro dos 100m relativa aos Jogos Olímpicos de Sidney, em 2000”, no que seriam “os ‘danos colaterais’ do processo de doping que levou à queda desse mito do atletismo norte-americano, Marion Jones”. Refere também o mesmo jornal que “ironicamente, Thanou foi suspensa em 2004, por um período de dois anos, por ter faltado a três controlos antidoping”.

E pronto, o “Público” ficou-se por aqui. Como sempre, frouxos jornalistas! Como é evidente, esta história não podia acabar assim, estava em causa o prestígio nacional – como já irão perceber. Adiante. O “Cuotidiano” foi investigar.

Consultando a lista das concorrentes aos 100m de Sydney, constata-se que, atrás das duas atletas já referidas (Jones e Thanou), em terceiro ficou Belinda Thomas, das Bahamas. Ora a mesma atleta, ao usar um equipamento amarelo berrante, como é evidente provocou danos irreversíveis no bom gosto das restantes atletas, no que foi considerada uma grave violação das regras do fair play - pelo que também foi desclassificada. Em quarto, Lindsay Mark, da Grã-Bretanha, que à data usava um desodorizante em spray, libertando perigosos CFC para a atmosfera que prejudicaram (e de que maneira, a Amazónia que o diga - caso aprenda a falar, claro!) todo o meio ambiente. Desclassificada. Em quinto, a etíope Tutu Beliu, que fazia o bigode com gillete de lâmina dupla. Como toda a gente sabe, se a lâmina não for, no mínimo, tripla, uma mulher não pode estar na alta competição. Fora! Em sexto, a bielorussa Tatiana Smirnov que nunca teria passado num teste de alcoolémia, mesmo se feito por um GNR de Faro. Desclassificação óbvia. Em sétimo, a italiana Adriana Fellatio, que tinha pé-de-atleta. Também como é do conhecimento geral, só atletas completos é que podem participar no Jogos - um pé não basta. Andor! Finalmente, em oitavo, Carlos Castro, que também foi excluído devido às análises terem revelado excesso de estrogénio.

E, assim, tudo isto nos traz a Tavira, à fábrica das genuínas Alheiras de Mirandela, na região demarcada do Gilão, onde interrompemos o trabalho de Cátia Vanessa Silva, inspectora de qualidade e grossura, para lhe transmitir a boa notícia.

- Eu, campeã olímpica, f***-**! A sério, c******? Mas eu nem participei, f***-**!

Então explicámos-lhe que teve de ser feito um sorteio entre todas as atletas que não participaram, já que sempre que se fazia um teste antidoping - ou qualquer outro, nomeadamente da carta de condução de pesados ou de QI - a alguma atleta concorrente, dava sempre chumbo e, por aquele andar, nem em 2057 se saberia, sequer, o nome do vencedor do lançamento de porco com bandollete dos Jogos de 1912.

- F***-**! É mesmo verdade! Com essa é que me convenceram, c******! Maria, Fatinha, Ula, Drª Bivac, Céuzita, venham cá depressa! – gritou Cátia Vanessa, chamando as suas colegas de trabalho mais próximas, tão próximas que quase ensurdeceram com os gritos da nossa campeã. – Logo vamos comemorar, meninas?

E foram - não sem antes Cátia Vanessa ter sido homenageada pela Câmara Municipal, em sessão conjunta com outro galardoado, Zé Manel, futebolista anão da zona que havia ficado famoso por ter conseguido um autógrafo de Cristiano Ronaldo, ao disfarçar-se de seio proeminente. No fim da cerimónia, Cátia recebeu o tão aguardado apoio estatal para a alta competição - ou seja, um calção rasgado que já havia pertencido a Rosa Mota e um pionés torto.

Continuando. Foram comemorar. Mas, por azar, enquanto estavam, pela noite fora, bebendo ginjinhas e discutindo o conceito de estética de Platão, apareceu um inspector olímpico e fez-lhe um teste cultural surpresa. Como não sabia o resultado do último jogo de futebol da XIIª Divisão entre o Cinfães de Baixo e o Boticas Azuis foi, evidentemente, desclassificada.

Aparentemente, um duro revés. Mas nada que desmoralizasse a nossa nova heroína nacional. Pediu a contra-análise, fechou-se em casa a estudar e, três dias depois, na Suiça, deu um murro no Scolari, num gesto de grande beleza, fortemente aplaudido por todos os componentes do Júri de Apelo. Foi dispensada da oral (e da anal também) e recuperou a sua medalha, arduamente conquistada enquanto enchia as deliciosas Alheiras de Mirandela de Tavira.

Meus amigos, temos campeã! Viva Cátia Vanessa Silva!

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sexta-feira, outubro 05, 2007

Coincidências e outras coisas giras

Coincidências

Cartão Amaralo - Na semana passada, um repórter televisivo perguntou ao actual ministro das obras públicas, Mário Lino, o que iria acontecer com o concurso para a nova ponte sobre o Tejo - a construir com passagem rodoviária (além da ferroviária) caso o aeroporto sempre vá para Alcochete -, já que, em 1994, o ministro da mesma pasta de então, Ferreira do Amaral, negociou e assinou com a “Lusoponte” um contrato de exclusividade para todas as travessias existentes e futuras sobre o Tejo, a jusante de Vila Franca de Xira. Depois de muito enrolar a conversa, obviamente não respondeu. Por coincidência, o actual presidente da “Lusoponte” também se chama Ferreira do Amaral, tal e qual o ministro que negociou esse chorudo contrato. Só coincidência, claro.

Durão Amarelo - Há dias, o “Público” noticiava que “a Comissão Europeia refutou a existência de qualquer favorecimento por parte do presidente do PSD de há uns anos atrás, Durão Barroso, à empresa Somague, em resposta a uma questão colocada por um eurodeputado belga”. Por coincidência, o presidente do executivo comunitário que refutou a acusação também se chama Durão Barroso. Só coincidência, claro.

Era Vermelho - No mesmo espírito das coincidências anteriores, relembro também que quem negociou a abertura do mercado português de energia, nomeadamente à espanhola Iberdola, foi o então ministro da economia e finanças de António Guterres, o na altura todo poderoso cardeal Pina Moura. Por coincidência, o mais alto representante da Iberdola em Portugal também se chama Pina Moura. Só coincidência, claro.

Outras Coisas Giras

Olhemquesta! - Na semana passada, Santana Lopes saiu dos estúdios da SIC Notícias sem acabar a entrevista que estava a dar, porque a mesma foi abruptamente interrompida pela transmissão em directo da chegada do Mourinho (!) ao aeroporto de Lisboa. Pela primeira vez - e espero que última! -, acho que Santana esteve muito bem, até talvez ao ponto de “ah ganda Santana!”. Pronto, já disse bem dele. Não contem comigo para o repetir. Adiante. Falo disto por uma razão distinta desse facto (absurdo e malcriado, já agora) em si mesmo – é que, no noticiário seguinte da mesma estação televisiva e ao “contar a história”, o pivot introduziu a peça dizendo “mais uma vez, Santana deixa a meio algo que se propôs fazer”. De muito mau gosto. Para além do homem ter tido mais que razão para sair, já não estava lá para se defender. De muito mau gosto, mesmo. Só mais uma reflexão sobre o tema: Santana foi um dos (muitos) fomentadores da actual “febre do futebol” já que, para além de ter sido presidente de um clube, foi comentador, anos a fio, de um dos intermináveis e inenarráveis 12.564 programas de “futebol de boca”, programas esses que foram (e são) um dos maiores contributos para a incultura dormente em que este país, na sua maior parte, vive. Ou seja, o feitiço virou-se contra um dos feiticeiros. (A propósito e à laia de desabafo: nem no tempo do Salazar os três “F” - futebol, fados e Fátima - tiveram o peso que têm hoje na sociedade portuguesa!)

Óprahquilo! - Há dias, num zapping ensonado, “passei” pelo programa dessa coisa que é a Oprah-qualquer-coisa - e ainda dizem mal dos "big brother" e similares! Este sim, deve ser o programa mais asqueroso à face da Terra! Uma inacreditável e nojenta exibição/exploração dos mais básicos sentimentos das pessoas, com os quais vai enriquecendo à grande, sempre com aquele ar de "estão a ver como eu sou boazinha à brava?" ou "sou bestial dando voz ao povão", sempre exibindo o seu grande amor pela raça humana, enquanto a realização vai dando grandes planos das lágrimas da (ou das) vítima(s) de serviço. Claro está que os seus “meios de trabalho” são sempre os mais desfavorecidos e incultos – à excepção das estrelas de cinema e afins, a quem dá sempre jeito a propaganda. Já agora e a propósito desse seu grande amor pela Humanidade, li há uns dias atrás que, curiosamente, tinha alterado recentemente o seu testamento, deixando agora 30 milhões de dólares (mais ou menos a indemnização do Mourinho!) aos seus dois... cães! Vida de cão... pois é, acho que também vou começar a chorar. (Na volta ainda me convidam para o programa...)

Olarilolé! – O presidente da Câmara de Loures, após as graves inundações do passado dia 29 de Setembro, em Sacavém, veio para a televisão com um ar “Oprahrio” dizer que “não se podia fazer nada”, que “tinha chovido muito”, que “eram as forças da Natureza”... Inacreditável! Para além de não haver nenhuma politica municipal de limpeza e desobstrução, no mínimo, antes da época das chuvas, as inundações foram provocadas pela incapacidade de vazão da zona canalizada da ribeira do Prior Velho em escoar caudais várias vezes inferiores aos que, por lei, deveria comportar - obviamente, transbordou, provocando o caos que se viu. Para além disso, a futura e fundamental bacia de retenção a montante que amortecerá os caudais da mesma ribeira, tem projecto pronto há anos e anos, nunca tendo sido construída - aguardando, portanto, piores dias! Como é fácil acusar quem não pode responder de volta, toma lá na carola, Natureza! Infelizmente, neste país de deresponsabilidades, pode-se vir à televisão cantar o faduncho, dizendo as maiores alarvidades e mentiras porque se sabe, à partida, que os frouxos e mal preparados jornalistas que temos nunca encostarão ninguém à parede. Por maior que seja o disparate. E este foi enorme - pior ainda, consciente, já que o dito presidente tem o perfeito conhecimento de todos estes factos, não querendo explicar a verdadeira razão que está por detrás deles. (É que é só coincidência ser do mesmo partido que o Governo...)

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quinta-feira, outubro 04, 2007

O senhor presidente é uma pêga fascista

Terça-feira passada cheguei à conclusão que o senhor presidente é uma pêga fascista. Era meu imperativo cívico denunciá-lo.

Fui aos jornais. Nada. Todos acharam que eu tinha enlouquecido, que umas quequitas do senhor presidente com uns amigos de ocasião não tinham nem interesse, nem problema nenhum - tanto mais que, impoluto como era, de certeza que declarava todos os lucros em sede de IRS e fazia os correctos descontos para a Segurança Social. Ah, e até que, assim, o senhor presidente fomentava o convívio entre diferentes raças e classes sociais e, inclusivamente, contribuía para a diminuição do conflito de gerações - já para não falar na alegria proporcionada a dois canários, um burro e um fox terrier. Segundo eles (os jornalistas, claro), eu não seria mais que um alarmista e assim e coisas. Como último e definitivo argumento, esgrimi que a cruz suástica tatuada no rabo que o senhor presidente assiduamente exibia em público não seria, decerto, um bom exemplo para a juventude - mas, por essa altura, já falava sozinho no separador central da avenida, depois de pontapeado por um armário disfarçado de gorila.

Fui à televisão. Nada outra vez - o assunto “não era nada de especial”. Nem me quiseram ouvir pois tinham “mais que fazer”, já que estavam a preparar um programa sobre o aquecimento global, a que se seguiria um debate relacionado com o nosso sistema político. Ainda se eu tivesse descoberto uma nova receita de mousse de chocolate, vá que não vá, poderiam pensar em interromper a emissão e pôr no ar em directo, mas aquilo...

Fui aos urinóis do Rossio. Mijei. Cumprimentei o senhor presidente, desejei-lhe boa sorte e vim-me embora, não sem antes lhe ter dado duas rapidinhas por apenas 20 euros. Ao que parece, chegou a promoção de Outono.

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quarta-feira, outubro 03, 2007

Hoje pensei escrever-te. Mas não o fiz

I
Hoje pensei escrever-te – sem saber onde iria dar. Dar-te palavras – como sempre – não chegaria. (E que tal abraçar-te?). Pensei escrever-te e ir por aí fora, como em campos de Van Gogh, sem destino mas com girassóis, sem saudade mas com vontade – até não sentir tempo nenhum nem sequer a falta dele. Se calhar, apenas andando. E pronto. E saboreando sol, vento. E talvez ponto. “E agora?”, pensei. (“E depois?”, pensei melhor). Sim, dar-te palavras. Seria bom. Definitivamente. Bom.

Lembrei-te – pelo menos é certo que lembrei. Mas hoje, estranhamente ou não, não sei se és alguém que já vi, se em quem já tropecei, se com quem já vivi, ou se com quem nunca (mas nunca) estive, nem em palavras, nem em sexo, nem em dor, nem em temporais. Mas – como te disse – resolvi continuar. Ou aqui ficar. À beira de ti. Como água.

Dizia eu – dar-te palavras. Oferecer-te tempo. Como oferendas a deuses. Como sacrifícios. Mas, principalmente, dar-te silêncios sob a forma de palavras. Para que melhor me entendesses. Dando-te, apenas, palavras. Sob a forma de nada. Ou de tempo.

De repente - mas tão suavemente que me embalou - lembrei o “Siddhartha”, o tal poema indiano, nem sei porquê - ou talvez saiba ou, pelo menos, imagine. Pensei na busca e no encontro – e no desencontro -, no prazer do caminho e não da chegada – nem da partida -, pensei que, se calhar, tu não eras tu mas, curiosamente, me seria totalmente irrelevante se o fosses. Ou que talvez me agradasse. E me quisesses. Ou se serias a soma de todos os tempos com todos os momentos com todas as pessoas com todos os espaços com todos os tempos que vamos atravessando sem atravessar - porque o “todo” é tudo e único e nada mais. Ou, se calhar, apenas nada. Ou apenas nós.

Depois lembrei – houve tempos em que tu eras a soma de todos os meus desejos. Ou então nunca exististe ou, mais simplesmente, surgiste sob a estranha forma de uma travessia de estrada velha por uma formiga disfarçada de D’ Artagnan – em nu, claro! – ou de uma torneira com ar maternal ou sendo apenas um sítio em que ainda não estive e no qual nunca viverei mas que, simultaneamente, já se me atravessou ao caminho, num espaço sonâmbulo de um autocarro que perdi - mas no qual ia. Ou, afinal, o espaço todo. Ou apenas nós.

Estava eu a dizer que hoje pensei em ti sem saber quem és – ou se existirás existindo ou não - e, simultaneamente, sabendo que és aquela rapariga ou pássaro ou fonte que conheci na infância, por momentos, numa fugaz troca de olhares, numa esquina, num momento, num sonho. Ou então – quem sabe? – talvez sejas parte integrante dos ponteiros de um estranho relógio apodrecido na cave de um canto de um pulmão – como ar perdido, como tempo, como som, como pele. Ou como nada – ou tudo, ou tempo. Ou, afinal, sendo o tempo todo.

Estava eu sem dizer que te relembro – como já te disse sem o ter feito ou desfeito – em cada canção lenta, nos guilty pleasures que me vou permitindo, sem nunca te ter conhecido mas estando agora de mão dada contigo – sem ser de bandeja, mas apertada. Num tempo que será ontem, num tempo que há-de ser e que já foi, agora mesmo e amanhã e aqui. E, por mais que queiramos, inexistentemente presente. Ou futuro. Ou apenas ali.

II
Pensei que te tinha e tu passaste a meu lado. Pensei que te esperava e o tempo nem tampouco apareceu.

Depois pensei que, aqui, estava à espera - mas (sabes?) quem esperava nem sequer era eu.

Hoje pensei escrever-te. Mas - entretanto e enquanto pensava - o tempo morreu.


III
(Nem sonhas o quanto te amo).


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