CUOTIDIANO

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Continuação

O Parque Mayer continua podre
A Feira Popular continua inexistente
O Frank Gehry continua a rir-se - só de pensar na maquete de ouro paga pelos parolos transatlânticos...
Os submarinos continuam invisíveis - provavelmente escondidos algures no Paulo Portas
Os sobreiros continuam abatidos - para arranjar mais um recreio de ricos - à conta de outra espécie vegetal, o Pinheiro Abel
O Jacinto Leite C. Rego - e mais os seus amigos de nomes giros - continua a dar nos donativos
A lei foi mudada para que o casino continue para sempre do Stanley - Ho, como é que isso não me espanta?
Mais aldrabices no BCP continuam a ser descobertas todos os dias
A Câmara de Lisboa continua sem crédito e com dívidas astronómicas
O “desplaneamento” e a incúria continuam a incriminar a Natureza pelas destruição e mortes, consequências das cheias
E mais não sei quantas coisas que até já cansam apenas de as escrever
Mas fundamentalmente

A culpa continuará solteira - ou “ajuntada” com um(a cara de) pau...
E o país continuará uma vergonha

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quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Secretamente


I

- Conta-me os teus segredos – pediste.

Despidos do mundo, quase despidos de nós, como se fossemos apenas olhares, respondi-te.

- Não o posso fazer.

- Porquê?

- Porque, se o fizesse, a seguir teria de te amar. E, aí, partirias com as primeiras chuvas. Estou certo disso.

II

Fizeste um longo silêncio - cúmplice e amante, julguei eu. Intuí assim.

Depois disso não sei mais o que aconteceu. Mas partiste na mesma.

Hoje dizes que nada trocámos, nada sentiste. Que nós fomos nada. Fazendo uma queimada com a lenha das memórias - talvez para adubar novas lavouras.

III


(Eu permaneço. Lembrando-te clandestinamente. Em segredo)

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domingo, fevereiro 03, 2008

Certidão

Fui à clínica buscar os resultados dos meus exames médicos. Abri o envelope mas, lá dentro, em vez de um relatório, estava uma certidão de óbito em meu nome. Que chatice, tinham-se enganado! Chamei a enfermeira, expliquei-lhe a situação, mas ela argumentou que, não tendo eu formação específica - já que não era nem médico, nem enfermeiro, nem sequer coveiro -, não estava habilitado para afirmar que estava vivo. E se um médico havia passado aquele documento...

- O senhor sabe quantos anos estuda um médico?

- Mas o...

- Espere! Sabe ou não sabe?

- Mas o que é que isso interessa?! Não vê...

- Espere lá, tenha calma! Nunca vi um morto tão agitado, caramba!

- Morto?! Mas não vê que eu...

- Que é um ignorante, claro está! E convencido! Um fulaninho que nem a 4ª classe deve ter, a desmentir a palavra de um médico! Que descaramento, ao que este país chegou! Se ele diz que está morto, é evidente que o senhor está morto, não acha?!

Não valia a pena. Vim-me embora.


Em casa, à noite, liguei a televisão. No telejornal noticiavam que havia sido avistado um morto a sair, pelo seu próprio pé, de uma clínica de Lisboa. Afinal era verdade.


Voltei lá e pedi desculpa à enfermeira. Saí. Fiz sinal a um caixão que passava na rua.

- Está livre?

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