A máquina
Repartição pública. Era preciso tirar senha. Fundamental. Urgente.
Cheguei ao pé da máquina. Aproximei-me para ler as instruções.
(Senha A para casamentos, senha B para divórcios, senha C para nascimentos e senha D para frangos assados.)
Linha seguinte.
(Tire a sua senha, por favor.)
Sim senhor, maquineta inteligente e educada. Em todo o caso, se há coisa que me irrita é darem-me ordens – tire a senha mas é o caneco! Resolvi ripostar. Então...
Não tiro! Encostei-me à máquina e não carreguei em nenhum botão. Zero! Nicles!
(Toma lá, máquina!)
Esperei.
(Sim, é que é para isso mesmo que servem as repartições públicas – para esperar.)
Do visor começaram a escorrer estranhas lágrimas de bytes. Apesar da óbvia e inevitável comoção, não cedi...
- Vá lá, tire uma senha, pooooor favoooor....
Não! Decididamente não!
- Poooor favoooor, só uma, uminha, vá lá, peço-lhe, imploro-lhe...
Napes!
- Uma, só uma, please...
Da máquina começou a sair um fumo estranho, enquanto começava a dizer frases sem nexo. Do tipo
- Jerusalém 4ever, ou
Seja como for, não cedi - não tirei a senha, evidentemente!
No dia seguinte, quando me pediram a certidão que não tinha, não acreditaram que eu tinha estado, precisamente, na mesma repartição em que, segundo os tablóides, uma máquina das senhas se havia suicidado. Acharam que isso era só acontecia nas telenovelas, os totós...
(e – pior que tudo - ainda não perceberam que as telenovelas são bem mais estupidamente realistas que a própria vida?!)
Cheguei ao pé da máquina. Aproximei-me para ler as instruções.
(Senha A para casamentos, senha B para divórcios, senha C para nascimentos e senha D para frangos assados.)
Linha seguinte.
(Tire a sua senha, por favor.)
Sim senhor, maquineta inteligente e educada. Em todo o caso, se há coisa que me irrita é darem-me ordens – tire a senha mas é o caneco! Resolvi ripostar. Então...
Não tiro! Encostei-me à máquina e não carreguei em nenhum botão. Zero! Nicles!
(Toma lá, máquina!)
Esperei.
(Sim, é que é para isso mesmo que servem as repartições públicas – para esperar.)
Do visor começaram a escorrer estranhas lágrimas de bytes. Apesar da óbvia e inevitável comoção, não cedi...
- Vá lá, tire uma senha, pooooor favoooor....
Não! Decididamente não!
- Poooor favoooor, só uma, uminha, vá lá, peço-lhe, imploro-lhe...
Napes!
- Uma, só uma, please...
Da máquina começou a sair um fumo estranho, enquanto começava a dizer frases sem nexo. Do tipo
- Jerusalém 4ever, ou
Seja como for, não cedi - não tirei a senha, evidentemente!
No dia seguinte, quando me pediram a certidão que não tinha, não acreditaram que eu tinha estado, precisamente, na mesma repartição em que, segundo os tablóides, uma máquina das senhas se havia suicidado. Acharam que isso era só acontecia nas telenovelas, os totós...
(e – pior que tudo - ainda não perceberam que as telenovelas são bem mais estupidamente realistas que a própria vida?!)
Etiquetas: conto/crónica, parvoíces