Ao Sol de África
O Sol de África
parecia que brotava do chão, ainda sujo de raízes e terra, sacudindo-se, enquanto
se erguia. Era vermelho, de um vermelho que não se encontra na Europa por mais
que pintores e marketeers se esforcem,
de um tamanho que mais parecia uma nave extraterrestre preparando-se para
regressar a um qualquer planeta distante - eventualmente imaginário, mas seu.
Bola de fogo é
pouco para o definir. A verdade é que a sensação era a de uma bola de fogo propriamente dita entrando-nos pela boca, narinas, ouvidos,
até que nos enchesse por completo a alma de espanto e calor. E então ficávamos
a olhar, perplexos, como se da primeira vez, como se de um parto de felicidade
e encantamento se tratasse. Como se ele nos renascesse e redimisse das múltiplas mortes
da noite.
Com um amanhecer
daqueles, nem poetas se lembrariam de divagar sobre estrelas e a profundeza dos
céus – não, o Sol ocupava todo e qualquer espaço, mental e físico. E espaço é
coisa que não faltava – nem falta – em África. Parámos o jipe, não dissemos
palavra, e esperámos sabe-se lá o quê, olhando, aquecendo, esperando que ele se
erguesse, definitivo e nobre por sobre nós, aquecendo, enquanto os sons estridentes
dos animais celebravam o seu regresso – ele que na véspera, generosamente,
havia ido distribuir gotas de si próprio para outros lados, qual leiteiro do
século XIX, porta a porta, “quanto é que deseja, 230?”, na sua forma
doce e peculiar de aquecer corações pelo Mundo fora.
Éramos putos e
era o tempo de sermos despreocupados. Tínhamos tempo para olhar o Sol e tudo o
que interessa. Tínhamos tempo e todo o espaço de África.
E o Sol era
nosso.