CUOTIDIANO

sábado, maio 27, 2006

A minha primeira carta de amor

Gostar de ti é complicado, muito complicado mesmo. Já nada esperava a não ser tempo, tempo e mais tempo. Lento, de tanto tempo. Dorido, de tão previsível e maquinal. De manhã (“the show must go on”) ligava o corpo em automático, versão clone de mim mesmo; a partir daí, ia respondendo “sim” e “não”, comia, respirava, aturava parvos, fazia-me igual (se calhar sou igual) e esperava pela happy hour. Então, cada gin tornava-se mais um passo em direcção ao interruptor que apagava as luzes e acendia estrelas e neons podres. Nessa altura, era o instante incendiado em que por ti esperava sem te saber o sabor, sem te saber sequer. Sem sequer saber que te esperava. Princesa de tronos vagos, vagueante e insegura, onde estavas? Agora, fico sem jeito, adolescente tardio sem lembrar passados ou futuros, apenas te querendo, querendo teu corpo, qual cais despido, onde me aguarda um beijo feito do silêncio de mares e de um longo tempo parado. Sabes, gostar de ti é complicado, muito complicado mesmo...


(escrita em 17 de Julho de 1995)

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