CUOTIDIANO

domingo, janeiro 06, 2008

Desemprego

Corto as cebolas e dou mais um golo na última cervejola – quando é que ela vem?

Atiro-as para o tacho – mas já passa das sete!

Azeite, sal, aí vão. Refogo. Corto o pacote de arroz. Aí está... chiça, cortei-me! – sete e dez.

Deito o arroz para o tacho. Mexo, já com o dedo entrapado. Que se passará? – sete e vinte.

A porta bate. Olá e beijo e então tudo bem e estou tão cansada.

Deito a água e espero que ferva. Vais dar banho aos miúdos?

Frito bifes.

Espero.

(Dantes, a esta hora, saía da fábrica. Bebia mines. Depois chegava e protestava com o jantar. Agora sujeito-me a isto. “Dono de casa”, que mal me soa. E pôr a mesa? Deverei fazê-lo? Será humilhação?)

Trouxeste as cervejas? Não há dinheiro para isso? Ok, tudo bem, a televisão ainda resiste.

Para a mesa e mãos lavadas, todos! Não gostas? Não prestam? E sabes a fome que por aí há? O quê, não posso dizer nada porque não fui eu que os comprei?

Engulo.

Acabaram? Podem levantar-se. Sim, a Mãe deixa...

Até logo, volto tarde.

É manhã. Oiço-os sair.

Tento adormecer outra vez - antes que soe o apito da fábrica!

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