CUOTIDIANO

sexta-feira, novembro 16, 2007

O espirro

Há anos que me cruzava com ela. Todos os dias. Linda.

Em todos esses dias pensei meter conversa. Mas não.

Certa vez, quando se cruzou comigo, ela espirrou. Pensei dizer-lhe “saúde!” ou algo assim – era a minha melhor desculpa, desde sempre, para lhe dirigir a palavra. Mas não.

Ela casou. Mas continuámos a cruzar silêncios. Todos os dias. Linda.

Ela enviuvou. No dia do funeral do marido, fui até sua porta. Bati. Ela abriu. Linda.

Disse “santinho!” e vim-me embora.

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