CUOTIDIANO

segunda-feira, novembro 12, 2007

Sem pó

Hipnótico. Não há melhor classificação para o estado em que ela ficava sempre que lavava a cabeça com aquele champô. Havia sido comprado numa qualquer obscura loja oriental, algures na esquina entre a noite e a madrugada, à conta da persuasão do mestre vendedor. “Essste tem podeles mágicos!”, garantiu-lhe, meio curvado, face enrugada, com um ar misterioso – ou se calhar apenas aflito para ir à casa-de-banho, não sei, conheço mal a cultura oriental. E a ocidental. E a dos pólos.

“Essste tem podeles mágicos!”. Pelos vistos era verdade. E hipnótico.

O que o champô tinha de extraordinário é que, enquanto aparentemente lavava o exterior - o cabelo -, o que realmente lavava era o interior da cabeça. Ou seja e por consequência, ela não mais sonhara com o Quasímodo, nem com cavalos nus nem, sequer, com fiscais de finanças transsexuais. Não, nunca mais. Agora era só de clonagem de Brad Pitt com Júlio Machado Vaz para cima. Por azar, em termos de cheiro e eficácia exterior, o champô deixava muito a desejar. Mas não se pode ter tudo, não é verdade?

Prossigamos. Um belo dia, ao atravessar a rua, enquanto acrobaticamente matava uma lêndea com um piolho amestrado, cruzou-se com... Quasímodo! Exactamente, o Quasímodo. Mal a viu, com aquele aspecto, com aquele cheiro, em todo aquele horror, o desgraçado logo ali se ficou, tal e qual uma barata em overdose de Sheltox - no chão, de barriga para cima, esperneando desalmadamente. E também desajeitadamente, já que tinha muito pouco equilíbrio corcúndico. (Aliás, desde pequeno que sua mãe lhe chamava à atenção para esse problema – e também para a paz no Mundo e para as couves de Bruxelas).

Felizmente, ao ver tão degradante espectáculo - e devido ao seu enorme coração piedoso -, um dos mosquitos gigantes que orbitava o cabelo dela (ou o que quer que já fosse aquele estranho e mal frequentado habitat), espetou-lhe o ferrão, acabando-lhe misericordiosa e instantaneamente com o sofrimento.

Quanto a ela? Ela voltou, apressada, para casa - ou, mais precisamente, para o chuveiro, onde teve novo encontro erótico com Brad Machado Pitt Vaz E Também Júlio Da Parte Do Pai.

Enquanto isso, nos Céus, o feliz Quasímodo beijava a lêndea morta.

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3 Commenários:

  • Sim senhor, que texto idílico! :-S
    Uma única coisa me pareceu de menos bom tom, e foi, sinceramente, esses genes do Brad Pitt a parasitarem os de JMV, estragando o que perfeito está. É que "Nem Pó"!Isso para mim não foi sonho, mas pesadelo! E tenho dito!

    Beijo, meu querido.

    By Blogger APC, at 13 de novembro de 2007 às 02:10  

  • Por estes dias, anda tudo num afã, no Polo Norte. ele é o Natal, os Russos, os Americanos, os Noruegueses, os Canadianos, os Dinamarqueses, tribos inuit e outros que se lembrem de reclamar o que debaixo lhe está - que gelo ninguém parece querer. José da Silva Modorra - Modo para os conhecidos - discutia os resultados da jornada futebolística com São Nicolau, quando Júlio Machado Vaz e Brad Pitt, abraçados, entraram de rompante na sala.
    - Boas - atirou JMV para o ar.
    - Onde? - perguntou BP. Riram à gargalhada.
    - Onde? - perguntou escusadamente o santo.
    - Sim, onde é que estão as boas... - BP e JMZ trocaram um high five. - Aqui não estão!
    - Deixem-se de criancices - vociferou José da Silva. - Já deram palha às renas?
    - Já sim, Modo - respondeu em coro a dupla, enquanto tentavam não se rir.
    - E já as atrelaram ao trenó?
    - Já começámos, Modo.
    - Demora muito?
    - Está quasi, Modo.

    By Blogger Rui, at 15 de novembro de 2007 às 17:44  

  • Olhó respeitinho, ó faxavor! Ora, querem lá ver?...

    By Blogger APC, at 17 de novembro de 2007 às 04:46  

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