CUOTIDIANO

sábado, janeiro 12, 2008

O meu estudo sobre o novo aeroporto de Lisboa (já que todo o português tem direito a fazer um, aproveito)

1. Os factos (retirados do “Sumário Executivo” do estudo do LNEC, à excepção do último)

- Há já quase quarenta anos que são realizadas análises técnicas sobre possíveis localizações alternativas para a construção de um novo aeroporto internacional para Lisboa;

- Este processo teve início com a criação, em 1969, do Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa (GNAL);

- A localização na zona do Campo de Tiro de Alcochete (CTA) nunca foi considerada como possibilidade alternativa na Margem Sul, atendendo, presumivelmente ("bold" meu), ao facto de ter uma utilização restrita a fins militares;

- No final de 2005, o Governo, tendo em conta os referidos estudos, anunciou a decisão de avançar com a construção do NAL na opção de localização na zona da Ota;

- Em resultado da apresentação ao Governo, pela Confederação da Industria Portuguesa (CIP), de um novo estudo, o Governo entendeu que esta hipótese de localização do NAL que não fora estudada anteriormente, situada na zona do Campo de Tiro de Alcochete (CTA), deveria merecer uma apreciação mais aprofundada, de forma a comprovar a sua viabilidade e, se tal se confirmasse, a compará-la, do ponto de vista técnico, com a opção anteriormente tomada;

- Em 12 de Junho de 2007, o Governo decidiu mandatar o LNEC para, “no âmbito da respectiva liberdade de investigação e autonomia técnica, elaborar um Estudo que proceda a uma análise técnica comparada das alternativas de localização do Novo Aeroporto de Lisboa, na zona da Ota e na Zona do Campo de Tiro de Alcochete”;

- Em 30 de Julho de 2007, o Ministério da Defesa Nacional informou o LNEC que, quanto à possibilidade da eventual localização do NAL na zona do CTA, “…se o superior interesse nacional assim o determinar, o Campo de Tiro de Alcochete (CTA) poderá ser utilizado para implantação”.

- Em 9 de Janeiro de 2008, ao fim da tarde/noite, o relatório do LNEC é entregue ao Governo e, no dia seguinte às duas da tarde, José Sócrates comunica a sua decisão ao País.


2. A mesma história mas contada em coisas giras

Num país cheio de sol e à beira-mar plantado, depois de 40 anos de estudos e especialistas e notáveis e técnicos e comissões e milhões e milhões e milhões gastos e tirados do bolso do povão, surgiu uma confederação patronal que fez, em 6 meses, um estudo que apontava para uma localização que, de tão evidente, nunca havia sido estudada. Essa localização baseava-se na simples premissa de “porque é que os tropas não vão dar tirinhos para outro sítio?”

Três meses depois, o LNEC conclui que sim, sempre era melhor aí. Menos de um dia sobre a recepção do parecer do Laboratório, o Governo, após (sem qualquer dúvida) ter lido atentamente as cerca de 400 páginas do relatório, condensadas em 5,41 Mb de informação digital (sendo que, só o “Sumário Executivo”, tem 20 páginas) e reflectido devida e ponderadamente sobre o assunto, decide que, realmente, os tropas poderiam ir dar tirinhos para outro sítio, já que ali ficaria o novo aeroporto - aeroporto esse cujo custo, somado com o das obras consequentes e envolventes, irá ser de cerca de seis(!) pontes Vasco da Gama. Daí, evidentemente, aquelas intermináveis horas de ponderação governamental.

3. Algumas perguntas que me fazem comichão

- Porque é que nenhum dos super-hiper-mega especialistas em navegação aérea e afins, durante 40 anos, se lembrou de estudar Alcochete? Tinham instruções políticas para o não fazer ou foram, apenas, incompetentes? Já agora, não é curioso que o LNEC diga que “a localização na zona do Campo de Tiro de Alcochete (CTA) nunca foi considerada como possibilidade alternativa na Margem Sul, atendendo, presumivelmente (mais uma vez, "bold" meu), ao facto de ter uma utilização restrita a fins militares”? Então “presume-se” e pronto, fica assim? E ninguém é responsável pela “presunção” e pelos desperdícios de tempo e dinheiro provocados ao País? Será, então, que poderemos presumir que, sem a presunção, presumivelmente já teríamos aeroporto há 30 anos?

- Na sequência da anterior, teriam sido os tropas que inicialmente não deixavam e depois passaram a deixar que se lhes fosse ocupado o recreio? Então, sendo assim, como é que se explica não só a força que tinham (já que, entretanto, passaram inúmeros governos de diversas cores e Alcochete nunca foi hipótese) como, também, a sua mudança de posição?

- Como é possível que 40 anos de estudos sejam facilmente substituídos por um de 6 meses? Estes novos especialistas (pagos por alguém não neutro e com interesses económicos no assunto, relembro) serão assim tão bons e os anteriores assim tão maus?

- Que interesses havia e há, ao nível de terrenos, numa zona e outra?

- Porque é que o Governo só mandou o LNEC comparar Ota com Alcochete e não pediu, também, para estudar soluções que incluam a Portela (+1, +2, +0, o que for)?

- Como é que uma decisão que deveria ser técnica se tornou num combate político?

- Como é que, em menos de um dia, o governo consegue decidir? Já estaria decidido?


4. Conclusão

Que país de opereta!

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