O bilhete
A coberto da noite e de meia dúzia de imperiais, depois de anos a fio de hesitações, alguns avanços e muitos recuos, encheu-se de coragem e foi até casa dela, deixando-lhe um bilhete por debaixo da porta e fugindo de imediato. Tinha escrito
- Eu sei que um dia direi, sem correr o risco de te rires, “boa noite, meu amor”. Por isso vou esperando, esperando pelo dia em que serei eu o teu amor também.
No dia seguinte, por azar, o bilhete foi madrugadora e zelosamente aspirado por uma mãe dona-de-casa em fúria diabética.
Ainda hoje, sentada no alpendre, ela espera por um sinal dele nos diferentes brilhos e pulsares das estrelas, nos entrelaços das cores citadinas reflectidas nas nuvens, nos horóscopos da TV-Guia – ou, nem que seja, numa porra de um bilhete deixado por debaixo da porta.
- Eu sei que um dia direi, sem correr o risco de te rires, “boa noite, meu amor”. Por isso vou esperando, esperando pelo dia em que serei eu o teu amor também.
No dia seguinte, por azar, o bilhete foi madrugadora e zelosamente aspirado por uma mãe dona-de-casa em fúria diabética.
Ainda hoje, sentada no alpendre, ela espera por um sinal dele nos diferentes brilhos e pulsares das estrelas, nos entrelaços das cores citadinas reflectidas nas nuvens, nos horóscopos da TV-Guia – ou, nem que seja, numa porra de um bilhete deixado por debaixo da porta.
Etiquetas: conto/crónica, parvoíces
1 Commenários:
Digam o que disserem, nada como os olhos nos olhos! Esses não se aspiram... inspiram-se! :-)
By APC, at 6 de outubro de 2008 às 21:22
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