CUOTIDIANO

sexta-feira, setembro 26, 2008

Agrafadores

Ela era uma mulher séria, seríssima, praticamente à prova de qualquer defeito mas, infelizmente, com um calcanhar de Aquiles – era completamente louca por agrafadores. Não havia hipótese: assim que passava por um - zás! - tinha forçosamente de ficar com ele. Em consequência disso, já se havia desfeito de quase tudo o que tinha em casa - marido incluído -, pois não havia espaço para praticamente mais nada que não os agrafadores.

Claro está que, em 2089, logo após a Grande Revolta dos Objectos, foi mandada prender pelo Directório Central, sob a acusação de “rapto agravado”, tendo sido condenada a prisão perpétua. O caso, que na altura teve grande cobertura mediática – e de chocolate também, já agora -, acabou revisto apenas em 2095, aquando da Contra Revolução do Papel, tendo sido solta de imediato por “grandes e nobres serviços prestados à Pátria”.

Como é evidente também, os agrafadores foram todos condenados à morte, sob as acusações de “tortura continuada e em massa, papelicídio e canto gregoriano desafinado”, embora a maioria dos observadores tenha manifestado sérias reservas à veracidade desta última.

Quanto a ela, vive internada numa clínica de desintoxicação, devido a manifestos e evidentes sintomas de abstinência prolongada.

Etiquetas: ,

1 Commenários:

Enviar um comentário

<< Home