CUOTIDIANO

quarta-feira, outubro 22, 2008

Fado da Escuridão

Foi naqueles dias estranhos, em que a humidade e a mágoa se colam ao corpo, que tudo aconteceu. Eu sei que eram as noites em que eu chorava saudades, os tempos em que me enlouquecias com a escuridão que transportavas; mas sei, também, que foi aí que nos amámos sem destino a ter nem direcção a tomar – que não a dos corpos, húmidos, pegajosos, com cheiro a monções e a desejos. Com cheiro a loucura. Nocturnos.

Foi nessas noites que enterrei todos os meus breves destinos e me destinei, apenas e só, a ti. E tu trazias a tua escuridão. E tu trazias as tuas tristezas destiladas, escorrendo pelos copos, pelas mãos, pelo olhar. E tu trazias tudo de ti, incluindo a escuridão. Mas eras tudo. Mas eras tu. Assim mesmo. Nua.

Então amei-te. Fiz amor contigo nas primeira e última levas da noite. Foi quando vi a tua escuridão feita vitrais, feita cores, feita solstício, feita escorrência de palavras doces.

Por isso tudo ainda amo a tua escuridão, os teus passos; amo até a tua ausência, enquanto espero pela noite - sabendo que, amanhã, serei eu a anoitecer, abraçando toda essa escuridão com um último, enorme, beijo dorido.

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