Bandeirantes (*)
I
Quando ela lhe perguntou
- Gostas mesmo de mim ou estás
aqui, apenas, para espetar a bandeirinha?
ele teve uma imediata e
consequente crise de impotência.
Para começo… “bandeirinha”?...
nem “tronquito”, nem “canhão-do-amor”, nem “Zé Manel”, nem (ao menos) “bandeira”
que seja?... Para além disso e para piorar a coisa, essa frase trouxe à
evidência que ela desconfiava que ele a queria, apenas e exclusivamente, pelo seu
corpo.
E era verdade. Ele queria-a. Muito.
Sim, a verdade é que ele queria-a pelo corpo - mas inteiro, com tudo o que com
ele ela trazia: lábios, olhos, vagina – mas também desejos, memórias, saudades,
tudo o que o corpo dela arrastava como cicatrizes de tempo, como marcas
profundas de quem existiu e ali o afirmava, desnuda de preconceitos, roupas, olhares
de vizinhos, marcas de quem até ali não se havia limitado a sobreviver. De quem
havia sido, era e seria, a Mulher, a derradeira e decisiva noiva do luar,
docemente reflectida na alma dele. E como ele desalmadamente a amava…
II
Quando se encontraram não houve
tempo para palavras, os corpos foram mais rápidos e elas apanhadas de surpresa –
ou seja e na confusão, os lábios não tiveram tempo de exprimir palavras, apenas
de beijar. Muito. E os lábios dela não eram os lábios dela, eram ela sob a
forma de lábios, eram o Amor sob a forma de beijo.
III
Quando se despediram não houve
tempo para despedidas – ela ficaria para sempre adormecida na alma que ele
escondia. Ou seja, escondidos e abraçados para sempre. Como os Amantes devem
ser – apenas e só, meros personagens invisíveis na maiúscula História do Amor.
(*) – Para quem já não se lembre
da absurda cultura que nos impingiram (infligiram?) na Primária, eram aqueles
malucos que penetravam Brasil adentro à procura de minérios, escravos e mamas.
A que eufemisticamente chamavam “riquezas naturais”. Chamo à atenção que “penetravam”
é a palavra-chave. Ok, podem
continuar a ler.
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