CUOTIDIANO

sexta-feira, setembro 20, 2013

Bandeirantes (*)


I
Quando ela lhe perguntou

- Gostas mesmo de mim ou estás aqui, apenas, para espetar a bandeirinha?
ele teve uma imediata e consequente crise de impotência.

Para começo… “bandeirinha”?... nem “tronquito”, nem “canhão-do-amor”, nem “Zé Manel”, nem (ao menos) “bandeira” que seja?... Para além disso e para piorar a coisa, essa frase trouxe à evidência que ela desconfiava que ele a queria, apenas e exclusivamente, pelo seu corpo.
E era verdade. Ele queria-a. Muito. Sim, a verdade é que ele queria-a pelo corpo - mas inteiro, com tudo o que com ele ela trazia: lábios, olhos, vagina – mas também desejos, memórias, saudades, tudo o que o corpo dela arrastava como cicatrizes de tempo, como marcas profundas de quem existiu e ali o afirmava, desnuda de preconceitos, roupas, olhares de vizinhos, marcas de quem até ali não se havia limitado a sobreviver. De quem havia sido, era e seria, a Mulher, a derradeira e decisiva noiva do luar, docemente reflectida na alma dele. E como ele desalmadamente a amava…
 
II
Quando se encontraram não houve tempo para palavras, os corpos foram mais rápidos e elas apanhadas de surpresa – ou seja e na confusão, os lábios não tiveram tempo de exprimir palavras, apenas de beijar. Muito. E os lábios dela não eram os lábios dela, eram ela sob a forma de lábios, eram o Amor sob a forma de beijo.
III
Quando se despediram não houve tempo para despedidas – ela ficaria para sempre adormecida na alma que ele escondia. Ou seja, escondidos e abraçados para sempre. Como os Amantes devem ser – apenas e só, meros personagens invisíveis na maiúscula História do Amor.

 
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(*) – Para quem já não se lembre da absurda cultura que nos impingiram (infligiram?) na Primária, eram aqueles malucos que penetravam Brasil adentro à procura de minérios, escravos e mamas. A que eufemisticamente chamavam “riquezas naturais”. Chamo à atenção que “penetravam” é a palavra-chave. Ok, podem continuar a ler.

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