Castelo
Lembro quando
parava à tua porta, subia, e tu me abrias o teu coração. Ou seja, a tua/minha
casa, o teu/meu porto, o teu/meu castelo – ou, abreviadamente, o meu/nosso lar.
(Tento de
novo.)
Lembro quando,
lentamente, chegava e parava à tua porta. Desligava o carro e não saía dele,
saboreando os últimos acordes daquela canção que era tua - apenas e só porque eu a
gravara exclusivamente para ti -, aquele conjunto único de sons que me fazia
embrulhar-te na minha imaginação, transformando-te naquele presente (para mim?
obrigado!) lindo, renovado, eternamente diferente por aparentemente igual –
qual labareda hipnótica de uma lareira imaginária que nunca tivemos. Ou seja, saboreava
a espera e depois - aí sim - subia. Até ti. Até às estrelas. Até nós.
Havia
problemas nas canalizações, por isso os armários cheiravam mal - à trampa do
vizinho de cima -, os cd’s eram poucos e repetitivos, o restaurante onde
encomendávamos os bifes “com o molho excepcional da casa” era sempre o mesmo –
mas a verdade é que me sentia seguro no teu regaço, no abraço pelo qual ansiava
todos os minutos de todos os dias, talvez o tal de “abraço excepcional da casa”…
Tinhas um
piano, lembro também. Nenhum de nós sabia tocar mas eu lá ia arranhando uns acordes que (nos) soavam
bem - como o que quer que aconteça a partir do terceiro copo. Aliás, contigo tudo
soava bem, ainda melhor quando dizias que me amavas, sem preconceitos, roupas
ou destinos marcados, apenas tu, apenas nua, apenas desejo. Apenas beijo.
Confesso que,
aí, me sentia privilegiado. Talvez mesmo importante. Não é que a mulher mais
bonita e incrível e fantástica do mundo gostava de mim – e, acessoriamente, eu
dela?! Estaria mesmo a acontecer?!
Mas todos os
sonhos têm um acordar. Então houve um dia em que o meu tempo se esgotou - acabaram-se-me
as histórias com piada, já não te conseguia fazer sorrir, a minha mão já não te
estremecia, o meu beijo já não contava, já discutíamos sobre quem iria primeiro
à casa de banho. Tornou-se evidente, então, que o meu prazo de validade
expirara. Pediste-me a chave de casa de volta – e o que é curioso é que eu
nunca a utilizara, por adorar que me abrisses o coração sob a forma de porta -,
devolvi-ta, e nunca mais te vi, a mulher que tanto amei.
Claro está que
ainda hoje – esporadicamente, é certo - paro à tua porta. Não subo. Mas vou-me
embora ouvindo sempre a mesma canção que ouvia. A que era nossa – melhor, a que
será nossa para sempre.
1 Commenários:
Ter passado é bom. Mas ser passado não. Não estará na hora de futurar?
By CPA, at 2 de abril de 2013 às 01:05
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