Poesia Erótica Censurada
Combinámos encontrarmo-nos
no mesmo café de sempre. Fui mais cedo, só para garantir o prazer
antecipado de a ver aproximar. No fundo, esticando
o prazer. Sentei-me. Pouco depois ela chegou, trazendo a maresia, as pedras e o
cheiro a estrelas com ela. Ao vê-la cada vez maior meu corpo tremia – controla-te,
estúpido! -, só desejando saltar para o seu abraço, qual cão com medo das
trovoadas.
Trocámos
algumas palavras de ocasião mas os corpos desejavam-se mais, muito mais do que
as palavras. Beijámo-nos. Demos as mãos, apertámo-las, beijámo-nos de novo. E
agora?
No quarto
abracei-a. Depois tirámos as roupas, despimo-nos de passados, esquecemos o
futuro e ficámos – como sempre assim deveria ser – vivos no presente. E
abraçados – como sempre assim deveria ser.
Depois
beijei-lhe o que é normalmente inacessível, o que a fez curvar sobre si
própria, pés e cabeça bem seguras na cama, qual ponte que nos levaria à outra
margem do prazer. Ouvi-a gemer. Por dentro sorri, por fora beijei. Beijei mais
ainda.
Depois ainda escalei
montanhas, passando lentamente pelo seu tronco, de um branco tão puro quão
genuína era a espera. Beijei-as devagar enquanto se eriçavam de desejo. Subi o
beijo para o seu pescoço, subi mais ainda e – sempre lentamente - trocámos
línguas, trocámos lábios, sabores, sons. Sem saber fomos trocando sonhos.
Então entrei
nela devagar, à descoberta do mais profundo dela. Entrei e saí, demorada, saborosamente,
enquanto com uma mão lhe segurava a cintura, mantendo o ritmo dos corpos - que
suspiravam almas pelos poros sob a forma de um suor da água mais pura –
enquanto o cabelo dela esvoaçava, entrelaçado pelas pontas dos dedos da minha
outra mão, que suavemente lhe massajavam a nuca, libertando as vontades mais
inconfessáveis e que ela havia reprimido até àquele dia.
O ritmo
aumentou. O sangue subia-me a tudo o que era extremo. As coxas dela ferviam nas
minhas a cada salto de corsa, nem que caíssem tectos e céus e preconceitos eu
não conseguiria parar, em silêncio de gemido ela pedia-me – melhor, ordenava-me
– para viajarmos até a um qualquer lado – diferente de tudo o que já havíamos
experienciado até então - que nos chamava, chamava muito, cada vez mais, mais, mais,
MAIS, MAIS,
MAIS, mais
devagar, devagar, espera, espera…
chegámos…
Sentámo-nos no
mesmo café de sempre, trocámos palavras de ocasião. Curiosamente, os nossos corpos
continuavam a desejar-se mais, muito mais do que as palavras. Dissemos adeus. Beijámo-nos.
Ao vê-la
partir abracei-a com lágrimas. Dentro dela eu havia renascido.
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