Puta de vida!
Para que ela
voltasse ele decidiu fazer tudo o que pudesse excepto, claro, falar com ela
pedindo-lhe – eventualmente implorando-lhe - para voltar.
Fez cenas voodoo, escreveu poesia tão sentida quanto
má ao ponto de ninguém a ter lido, por confusão, miopia ou alcoolismo
declarou-se a uma tipa de alterne, chegou até a fazer sacrifícios de monossílabos
ao Douro, lançando palavras em contra-corrente… mas nada.
Ela limitava-se
a mirar o mar mas não a ele, ela esperava a vida num outro século que não este,
saudava até o senhor da pedra mas não aquele, cantava todas as estrelas
extintas, toda a maresia – mas nunca as do presente. Por isso, para ela ele
havia deixado de existir – havia passado a “recordação número 27” -, pelo que
se limitava a abraçar as palavras optando, desse modo, pela segurança de não
amar e apenas sobreviver à conta de sons, encontros de poesia, reuniões de família
e obrigações conjugais.
(“É mais calmo
e não dá bronca” - citando e não concordando, claro. Adiante. Claro – mais uma
vez.)
Enquanto
passeava o cão pelas ruas antes que fosse a hora sempre exacta e certa de fazer
o almoço sentiu um estranho frio na brisa. Sentiu falta nas mãos. Saudade nos
lábios. Tristeza no riso. Então lembrou-o, enquanto as lágrimas que o coração vertia,
lentamente se espalhavam pelas suas veias.
O cão fez o
que tinha a fazer. Ela recolheu.
(Puta de vida!)
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