Quando os ventos sopraram
Quando os ventos sopraram, eu ouvi tua voz. Tenho a certeza que ouvi. Por entre os assobios da lareira, os gritos das múltiplas frechas de portas e janelas, os queixumes desvairados do exaustor, tudo isso tingindo a minha vida de merda de polvilhados sons inesperados de ti, eu ouvi-te. Eras tu, em carne e vento, em osso e gemidos, eras tu quem me dizia palavras incompreensíveis, mas que chegavam às profundezas do corpo, das dores. Sim, eras tu quem eu esperava pior que parado, talvez paralisado de medo e sede de ti, que te conseguias fazer ouvir. E por entre as brechas da minha vida, por entre os fogos extintos de mim, por entre os momentos exaustos de apenas ser eu mesmo e, invariavelmente, ter de me aturar, aguentar, suportar, surgias tu. Sob a forma de desejo. E música. Rasgando silêncios.
Parei. Atento.
Depois os ventos tornaram a soprar e eu ouvi, de novo mas então bem distintamente – estou certo disso -, tua voz.
Estava confirmado. Eras mesmo tu.
Então adormeci. Embalado pelos ventos.
Parei. Atento.
Depois os ventos tornaram a soprar e eu ouvi, de novo mas então bem distintamente – estou certo disso -, tua voz.
Estava confirmado. Eras mesmo tu.
Então adormeci. Embalado pelos ventos.
Etiquetas: conto/crónica
2 Commenários:
A felicidade é um (bom) vento que passa...!
"(...) por entre as brechas da minha vida, por entre os fogos extintos de mim (...)" - I like it!
By APC, at 25 de novembro de 2008 às 00:23
Gostava muito de ver estas palavras impressas e encadernadas, como merecem (mereces). Lindo. Quem dera à maioria dos apaixonados conseguir declarar o seu amor de forma tão bela que pudesse roçar os teus textos.
By Patrícia, at 19 de janeiro de 2009 às 18:59
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