Alentejo
Havia uma nuvem.
Eles estavam sentados, deitados, numa cadeira, cama – algo com almofadas – mas estavam juntos.
E havia uma nuvem.
Juntos.
De mão dada.
(Já viste que parece mesmo um pato? Olha ali o bico.)
Apertavam as mãos e amavam-se sem corpos – melhor, como se fossem os últimos representantes da alma.
(A mim parece-me mais algo grandioso, tipo Adamastor.)
Ele deu-lhe um beijo, enquanto o silêncio do Mundo a banhava de erva e cigarras. Sem dar por isso, ganhavam a inocência há muito perdida.
(Só se for um primo muito afastado, este não mete medo a ninguém, nem àquele jacto que acabou de o trespassar!)
Sorriram.
Ela deu-lhe um beijo. De novo e de novo.
À medida que o vento soprava cada vez mais, só lhes vinha o cheiro das vacarias próximas, nada de transcendente ou sonhado ou minimamente poético. Mas o Sol aquecia-lhes as entranhas e o sangue, ferviam das mãos apertadas, ficavam mais vivos a cada beijo.
(Estou-te a dizer que é um pato!)
Havia uma nuvem. Deitaram-se nela – algo com almofadas -, abraçaram-se, adormeceram e nunca mais acordaram.
Havia o Alentejo. Uma nuvem. E um Amor enorme.
Etiquetas: conto/crónica
3 Commenários:
Por estes dias há poucas nuvens a percorrerem o Alentejo. E os Amores, mesmo enormes, anseiam por umas gotas de água para poderem florescer em toda a sua magia.
:)
Bonito texto, meu caro.
Forte abraço.
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Nuno Guronsan, at 10 de março de 2012 às 18:40
Belíssimo!
Beijo,
Maria
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Anónimo, at 12 de março de 2012 às 13:02
Quando já se busca uma inocência, porque tudo o resto é fácil. Bonito. Madura, essa procura. Bom Alentejo.
APC
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Anónimo, at 16 de março de 2012 às 03:00
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