CUOTIDIANO

sábado, março 10, 2012

Alentejo

Havia uma nuvem.

Eles estavam sentados, deitados, numa cadeira, cama – algo com almofadas – mas estavam juntos.

E havia uma nuvem.

Juntos.

De mão dada.

(Já viste que parece mesmo um pato? Olha ali o bico.)

Apertavam as mãos e amavam-se sem corpos – melhor, como se fossem os últimos representantes da alma.

(A mim parece-me mais algo grandioso, tipo Adamastor.)

Ele deu-lhe um beijo, enquanto o silêncio do Mundo a banhava de erva e cigarras. Sem dar por isso, ganhavam a inocência há muito perdida.

(Só se for um primo muito afastado, este não mete medo a ninguém, nem àquele jacto que acabou de o trespassar!)

Sorriram.

Ela deu-lhe um beijo. De novo e de novo.


À medida que o vento soprava cada vez mais, só lhes vinha o cheiro das vacarias próximas, nada de transcendente ou sonhado ou minimamente poético. Mas o Sol aquecia-lhes as entranhas e o sangue, ferviam das mãos apertadas, ficavam mais vivos a cada beijo.

(Estou-te a dizer que é um pato!)



Havia uma nuvem. Deitaram-se nela – algo com almofadas -, abraçaram-se, adormeceram e nunca mais acordaram.



Havia o Alentejo. Uma nuvem. E um Amor enorme.

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