TÓPICOS (III) - A LARANJA
Ela chegou e
ofereceu-lhe uma laranja. Trazia duas. Não tinha dinheiro.
Estavam na
consulta, ele o professor doutor psiquiatra psicólogo psicanalista e afins, ela
doente – já agora, pessoa e poucos afins mais.
Quando ela
voltou para casa, cortou a laranja sobrante ao meio e partilhou-a com o marido.
Não sorriram.
Quando ele
voltou para casa, deu-a à empregada, que a juntou a todas as outras na
fruteira. Nem sorriu.
Na semana
seguinte, nova consulta. Ele, num esforço sobre-humano, ofereceu-lhe um
sorriso. Trazia apenas um. Tinha dinheiro. Mas escolheu dar-lhe o sorriso. Por
isso o tratamento estava completo. Estava, enfim, curado.
Voltaram cada
um para sua casa. Definitivamente.
(Ele pela
cura, ela pelo suicídio.)
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