CUOTIDIANO

sexta-feira, julho 28, 2006

Um adeus impossível

... Foi quando ele a viu, no que seria a última vez, que percebeu que nada mais havia a dizer. Ela ainda lhe enviou uma mensagem dizendo “Acho que cada vez gosto mais de ti - Fiquei agarrada ao carro a ouvir o Cohen... Suzanne... Beijos”. Curiosamente, na noite anterior, ela havia-lhe dito o ainda mais apaixonado “É inexplicável a falta que me fazes...”

Mas havia chegado ao fim o prazo de validade dos dois, sem mais dignidade que teria um iogurte à beira de estar estragado. Haviam esgotado as palavras, os gestos, tudo.

Quanto tempo havia passado? Quanto passado haviam tido? Em que sombras se haviam tornado?

A razão era simples – A realidade, a tão propalada dura realidade, havia tomado conta do destino, do futuro, do tempo, dos dois que deixariam de ser um e passariam a ser um e outro, longe, muito longe, demasiado longe.

Ainda hoje ele a ama – Evidentemente, não parece. Escreve coisas com estranhos desdém e azedume, tentando convencer-se que, afinal, nada se passou. Curiosamente, antes de adormecer, tenta convencer-se que ela nunca existiu a não ser em sonhos e... então aí estraga tudo! De facto, ela foi o seu melhor sonho, a sua mulher num sonho, o seu sonho feito mulher!

E agora?

Agora, que foi ontem ou anteontem ou no dia anterior, não interessa, arruinando definitivamente a poesia de tudo, ele ficou a saber que, num dia em que a esperava, ela conheceu outro, bem mais real, bem mais encaixável na sua vida, e que lhe disse as palavras certas, no momento certo, no beijo certo, certamente no momento acertado.

Hoje, ele continua a amá-la, por mais que o tempo passe, por mais que ela lhe doa, por mais que as palavras faltem, por mais que, afinal, o tempo doa.

O Amor, esse, chora.

Ele, por sua vez, permanece. Apenas.

1 Commenários:

  • Dá-me a tua mão,
    Deixa que a minha solidão
    prolongue mais a tua
    - pára aqui os dois de mãos dadas
    nas noites estreladas,
    a ver os fantasmas a dançar na lua.

    Dá-me a tua mão, companheira,
    até ao Abismo da Ternura Derradeira

    José Gomes Ferreira


    Jackie Brown, mesmo.
    Sem anonimatos

    By Anonymous Anónimo, at 31 de julho de 2006 às 22:35  

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