Resolvi espreitar o que escrevias
Em tempos resolvi espreitar o que escrevias. E - nem sei porquê - sentia que cada frase tua me era dirigida. Melhor, até sei – porque, apenas e só, me sabia bem pensar que assim era, dando-me um estranho gozo adolescente essa sensação.
Uns tempos depois resolvi espreitar o que vestias. E - nem sei porquê - achei sempre que havias escolhido cada peça para mim, por mim, só para me agradar, para que fosses flor em cada vez que chovia – provavelmente era apenas o meu feitio de adolescente retardatário a atacar de novo.
Mais tarde espreitei o que despias. Depois amei-te e amámo-nos depressa, em noites sem cansaço e em manhãs nunca tardias. Depois ainda, e continuando sem saber porquê, lentamente me fui esquecendo de ti - enquanto te ias tornando real, com escova de dentes e espaço a menos e roupa suja e tudo o mais que vem com a pessoa que se ama, sogra incluída.
Depois depois ainda, aos poucos e poucos, sem dar por isso e sem de novo saber porquê, deixei de te ver, por mais palavras que dissesses ou escrevesses, por mais despida que estivesses ou quisesses.
Hoje? Hoje limito-me a espreitar outra vez o que escreves, enquanto vestes e despes as capas com que não me deixas ver-te.
Era apenas isto que tinha para te dizer.
Adeus.
Uns tempos depois resolvi espreitar o que vestias. E - nem sei porquê - achei sempre que havias escolhido cada peça para mim, por mim, só para me agradar, para que fosses flor em cada vez que chovia – provavelmente era apenas o meu feitio de adolescente retardatário a atacar de novo.
Mais tarde espreitei o que despias. Depois amei-te e amámo-nos depressa, em noites sem cansaço e em manhãs nunca tardias. Depois ainda, e continuando sem saber porquê, lentamente me fui esquecendo de ti - enquanto te ias tornando real, com escova de dentes e espaço a menos e roupa suja e tudo o mais que vem com a pessoa que se ama, sogra incluída.
Depois depois ainda, aos poucos e poucos, sem dar por isso e sem de novo saber porquê, deixei de te ver, por mais palavras que dissesses ou escrevesses, por mais despida que estivesses ou quisesses.
Hoje? Hoje limito-me a espreitar outra vez o que escreves, enquanto vestes e despes as capas com que não me deixas ver-te.
Era apenas isto que tinha para te dizer.
Adeus.
Etiquetas: conto/crónica
9 Commenários:
Em tempos idos "vestia" esta crónica. Era moda! Diziam...
Um beijo.
By Maria P., at 22 de fevereiro de 2007 às 10:05
que cru!!!
Tens mesmo de pôr as coisas tão a nu?!
Uma pessoa até perde momentaneamente o romantismo!
:)
Beijo
By a miúda, at 22 de fevereiro de 2007 às 14:51
Acho graça a estes teus contos/crónicas.
By M., at 22 de fevereiro de 2007 às 15:44
Lindo... Consegues ir pintando os quadros de várias vidas...
By Patrícia, at 22 de fevereiro de 2007 às 15:59
Saberá ela disso?
By Rui, at 22 de fevereiro de 2007 às 18:06
Este comentário foi removido pelo autor.
By APC, at 23 de fevereiro de 2007 às 00:59
Fantástico!
Pois é!...
Primeiro o desejo do que se não tem. Depois qualquer coisa que já não pode ser isso. E depois qualquer outra coisa ainda ou, quem sabe a mesma... Quem sabe senão quem sente?
Bem escrito, meu querido. Muito bem (des)escrito!
Um beijo-xpxialista! ;-)
By APC, at 23 de fevereiro de 2007 às 01:01
Sublime! Qualquer outro comentário caía no ridículo... Abraço.
By Pedro Branco, at 23 de fevereiro de 2007 às 01:17
Tudo isto me é mto familiar, podia ter sido escrito por outra pessoa q ñ tu.
E aí sim, ser-me-ia direccionado...
Kiss
By Miss Kin, at 14 de março de 2007 às 02:37
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