CUOTIDIANO

domingo, fevereiro 03, 2008

Certidão

Fui à clínica buscar os resultados dos meus exames médicos. Abri o envelope mas, lá dentro, em vez de um relatório, estava uma certidão de óbito em meu nome. Que chatice, tinham-se enganado! Chamei a enfermeira, expliquei-lhe a situação, mas ela argumentou que, não tendo eu formação específica - já que não era nem médico, nem enfermeiro, nem sequer coveiro -, não estava habilitado para afirmar que estava vivo. E se um médico havia passado aquele documento...

- O senhor sabe quantos anos estuda um médico?

- Mas o...

- Espere! Sabe ou não sabe?

- Mas o que é que isso interessa?! Não vê...

- Espere lá, tenha calma! Nunca vi um morto tão agitado, caramba!

- Morto?! Mas não vê que eu...

- Que é um ignorante, claro está! E convencido! Um fulaninho que nem a 4ª classe deve ter, a desmentir a palavra de um médico! Que descaramento, ao que este país chegou! Se ele diz que está morto, é evidente que o senhor está morto, não acha?!

Não valia a pena. Vim-me embora.


Em casa, à noite, liguei a televisão. No telejornal noticiavam que havia sido avistado um morto a sair, pelo seu próprio pé, de uma clínica de Lisboa. Afinal era verdade.


Voltei lá e pedi desculpa à enfermeira. Saí. Fiz sinal a um caixão que passava na rua.

- Está livre?

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