Certidão
Fui à clínica buscar os resultados dos meus exames médicos. Abri o envelope mas, lá dentro, em vez de um relatório, estava uma certidão de óbito em meu nome. Que chatice, tinham-se enganado! Chamei a enfermeira, expliquei-lhe a situação, mas ela argumentou que, não tendo eu formação específica - já que não era nem médico, nem enfermeiro, nem sequer coveiro -, não estava habilitado para afirmar que estava vivo. E se um médico havia passado aquele documento...
- O senhor sabe quantos anos estuda um médico?
- Mas o...
- Espere! Sabe ou não sabe?
- Mas o que é que isso interessa?! Não vê...
- Espere lá, tenha calma! Nunca vi um morto tão agitado, caramba!
- Morto?! Mas não vê que eu...
- Que é um ignorante, claro está! E convencido! Um fulaninho que nem a 4ª classe deve ter, a desmentir a palavra de um médico! Que descaramento, ao que este país chegou! Se ele diz que está morto, é evidente que o senhor está morto, não acha?!
Não valia a pena. Vim-me embora.
Em casa, à noite, liguei a televisão. No telejornal noticiavam que havia sido avistado um morto a sair, pelo seu próprio pé, de uma clínica de Lisboa. Afinal era verdade.
Voltei lá e pedi desculpa à enfermeira. Saí. Fiz sinal a um caixão que passava na rua.
- Está livre?
- O senhor sabe quantos anos estuda um médico?
- Mas o...
- Espere! Sabe ou não sabe?
- Mas o que é que isso interessa?! Não vê...
- Espere lá, tenha calma! Nunca vi um morto tão agitado, caramba!
- Morto?! Mas não vê que eu...
- Que é um ignorante, claro está! E convencido! Um fulaninho que nem a 4ª classe deve ter, a desmentir a palavra de um médico! Que descaramento, ao que este país chegou! Se ele diz que está morto, é evidente que o senhor está morto, não acha?!
Não valia a pena. Vim-me embora.
Em casa, à noite, liguei a televisão. No telejornal noticiavam que havia sido avistado um morto a sair, pelo seu próprio pé, de uma clínica de Lisboa. Afinal era verdade.
Voltei lá e pedi desculpa à enfermeira. Saí. Fiz sinal a um caixão que passava na rua.
- Está livre?
Etiquetas: parvoíces
5 Commenários:
Brilhante. Brilhante...
*lzzwb
By Balbino, at 3 de fevereiro de 2008 às 19:45
Nããããã.......demais!!!!! Adorei, simplesmente fantástico! Bjos
By Anónimo, at 4 de fevereiro de 2008 às 10:48
Se me tivesses perguntado, eu ter-te-ia dito se estavas vivo ou morto! :-P
By APC, at 6 de fevereiro de 2008 às 04:02
Inauguraste a Estranha Forma de Morte? E muito bem, diga-se.
Ando atenta, em silêncio.
Beijinho.
By Licínia Quitério, at 6 de fevereiro de 2008 às 13:10
Não gostarias de inscrever-te no próximo atelier de escrita? Arranca em finais de Março...
By redonda, at 8 de fevereiro de 2008 às 01:45
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