CUOTIDIANO

segunda-feira, abril 16, 2012

Porra de canção

Acordou a meio da noite com o som de aviso de uma mensagem. Que horas seriam?
Hesitou entre acordar e ver e talvez fosse quem não queria ou só e apenas a porra de um anúncio do Continente ou não acordar e ficar na expectativa e depois talvez não adormecer e se calhar até que não era o Continente e
Mas quem raio é a estas horas? Perguntou ele
Espera, vou ver – decididamente, ele havia decidido por ela -, que chatice, é uma amiga minha, coitada, anda cheia de problemas com o marido, que chatice
Não era. Era, afinal, apenas o seu inconveniente amigo que, a desoras, lhe enviara uma canção. Para ela. Feita única e exclusivamente para ela, mal cantada, mal tocada, mas apenas e só para ela, ela que lhe povoava todos os mais estranhos e recônditos espaços dentro de si, muito para além das obscuras zonas erógenas do lobo frontal
Que chatice, amanhã vou-lhe dizer que não me volte a fazer destas. Dorme bem, amor, desculpa

Quando, no dia seguinte, ouviu a tal canção pela décima, vigésima vez às escondidas do mundo, achou que, afinal, por mais mal cantada e mal tocada que estivesse (e estava), apesar de tudo e mais alguma coisa e alguma mais também, soava bem melhor e mais alto que qualquer ressonar ou relação instituída ou instituição assumida. Por isso, na noite seguinte, abraçada ao seu companheiro de sempre e para sempre, embalou-se para adormecer – mas desta vez ao som roufenho da porra daquela estúpida canção, mal cantada e mal tocada, mas que lhe continuava a ecoar na alma

Porra de canção!

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3 Commenários:

  • Porque no peito dos desafinados também bate um coração...

    By Blogger rita, at 17 de abril de 2012 às 00:21  

  • Quando, um dia, ela, sem lhe dizer que ele podia, lhe mostrou que ele podia, ele podia. Quando, sem querer que ele pudesse, acabou por desistir evitar o seu não poder, ele pôde. Mas depois de ele ter podido o que ela não deveria ter deixado que pudesse, ele deixou de poder. E o que deixa de poder não mais pode ser como dantes pôde ser. Mesmo que o tenha podido ser apenas por ínfimos momentos de "podetude". Ou em lembranças que ainda podem...

    (peço desculpa pela ficção, mas...)

    By Blogger APC, at 5 de junho de 2012 às 01:43  

  • Vigésima vez menos 17, seria a conta certa. Mas 3 é a conta que Deus fez!

    By Blogger APC, at 16 de julho de 2012 às 03:29  

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