CUOTIDIANO

sexta-feira, abril 21, 2006

Lendo o "Público" (2006/04/20)

“Dois anos depois do Apito Dourado ainda não foi aberta a instrução”


Versão A

O copo avançou mesa fora e parou mesmo na beirinha. Como se tratava de um passo decisivo, hesitou por momentos.

“Salto ou não? O meu sonho sempre foi ser uma cadeira, uma 'chaise longue', e este tipo de vida - enchido e depois beijado e esvaziado por qualquer um, depois máquina da tortura (de lavar, dizem eles...), a seguir prateleira onde me atafulham contra todos os outros copos – tornou-se completamente insuportável. Não posso continuar a viver desta maneira. Se ao menos eu fosse um 'flûte' para champagne...Ai, ai... mas a realidade é que sou só um reles copo do Continente e não posso aspirar a estar numa mesa da Paula Bobone...”

Não aguentou mais. Atirou-se para o frio chão da sala e milhares de pequenos vidros ficaram espalhados por todo o lado. Estava completamente destruído. Que morte terrível – E era um copo tão novo, tinha tanta vida pela frente...


Versão B

O puto Zé passava pela mesa quando, sem querer, atirou o copo ao chão, tendo-o desfeito completamente.


Qual será a versão mais realista? Neste País, por certo a primeira – desde pequenos que ouvimos dizer “o copo partiu-se”, “a máquina avariou-se”, ou seja, nunca ninguém tem responsabilidade por nada que acontece. Assim, e em coerência com tudo o que nos ensinaram, ninguém será responsabilizado, anos e anos passarão até que prescreva o processo e depois, de um modo semelhante ao que aconteceu com o Secretário de Estado de Leonor Beleza, ainda haverão de processar o Estado português pela difamação dos seus bons nomes...

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