CUOTIDIANO

quarta-feira, junho 14, 2006

Despejando o lixo

Descia eu, calmamente, no elevador para a cave, dirigindo-me para o meu carro e sonhando com alguém que nunca vi mas com aspecto de marmota, quando parei no 4º andar. Entraram duas senhoras, cada qual com seu saco de lixo, em amena cavaqueira, que continuou sem parar, independentemente de eu ali estar ("ainda bem!", pensei).

- Então, já viu isto, o tempo anda péssimo, em pleno Verão e a chover...
- É verdade, isto deve ser derivado daquelas porcarias que põem no céu às voltas, os satélites ou lá o que é.
- Saiteles, emendou a outra, enquanto se peidava... mas com ar culto, o que ainda piorava o cheiro a lixo.

Chegados ao rés-do-chão, e antes de saírem, pediram-me para segurar o elevador, que iam só despejar e voltavam logo. Assim fiz. Enquanto esperava, reparei que me tinha esquecido da chave do carro e que teria de regressar lá acima ao escritório. “Que chatice...”

Voltaram. Perguntei “voltamos para o quarto?”, o que me soou mal e com toques foleiros de piada brejeira- Mas não liguei muito, que isto de emendar uma asneira, normalmente, dá uma asneira ainda maior. Enquanto subíamos, e sem nada para fazer a não ser fingir que consultava as mensagens de telemóvel, ia ouvindo o diálogo:

- Fechaste bem o contentor? - É que cheiravam mal com’ó caraças!
- Sim, claro que fechei. Mas ouve, vamos mas é falar de alguma coisa que interesse – Tu já viste a injustiça que fazem com Cristóvão Colombo, eu acho lamentável; então não é que andam para aí a dizer, nomeadamente os gajos do 5º esquerdo, que ele queria ir para a Índia e que foi parar, por acaso, às Caraíbas?
- Ouve lá, mas pior do que isso, então não é que aqueles matarruanos do 2º direito dizem que ele podia ter sido português, catalão, basco, galego e mesmo grego; de Génova é que nunca!
- Há gente para tudo, o que é que queres....

Chegámos ao 4º andar. Os sacos saíram, voltando para casa - Graças a Deus tinham despejado as mulheres-a-dias no contentor, sempre se ouvia alguma coisa de jeito.

Eu? Eu, nessa noite, esvaziei-me sem ajuda de ninguém e atirei-me, em total nudez, para dentro do vidrão aos gritos “ORGIA!”

3 Commenários:

  • Eu é que daqui a pouco me corto às postas e enfio-me dentro do vidrão...

    Sim, porque ninguém cabe dentro dum vidrão, aquilo tem um buraco muito pequeno :)

    By Anonymous Anónimo, at 15 de junho de 2006 às 02:15  

  • ...Por isso é que um vidrão tem conotações tão eróticas que chegam a dar origem a orgias!

    By Blogger cuotidiano, at 15 de junho de 2006 às 02:43  

  • Eu é mais papelão...
    Não sei porquê, mas a ideia de me escortaçar não me agrada sobremaneira...

    Já agora... há uma posta de pescada à espera de ser comida num blog por aí algures (ou nenhures), tão tímido que até mudou de cor... para azul, o azul do meu (des) contentamento.

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    By Anonymous Anónimo, at 15 de junho de 2006 às 03:17  

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