Os títulos das notícias
Como toda a gente que não esteja a dormir 24 horas por dia constatará, as notícias já não são notícias – são apenas espectáculo e como tal são vendidas. E por onde é que se começa a venda de um espectáculo? Pelo título. Há uns anos atrás, Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas perceberam-no bem e contrataram, na época áurea do “Independente”, uma equipa que se dedicava, em exclusivo, a criar os títulos bombásticos que usavam - que, reconheça-se, eram normalmente inteligentes, com sentido de humor e sem alarvidades (pelo menos a maioria ...).(*)
Mas, actualmente, a que é que assistimos? Na sistemática transformação dos títulos na forma mais baixa e rasca de chamar à atenção das pessoas (de que é um bom exemplo o “24 horas”, aquela coisa a que há quem chame de “jornal”), manipulando os seus sentimentos e instintos mais básicos, num crescendo de absurdo, espalhafato e idiotice, cuja única virtude é a coerência com a disparatada “notícia” que normalmente a seguir se desenvolve.
Vem isto a propósito de hoje, a caminho do escritório (outro absurdo de Agosto...), ter ouvido na rádio uma "notícia" sobre os devastadores incêndios na Grécia e o anúncio a uma revista, cujo maior chamariz era o título citado de mais uma outra “notícia” sobre o caso Maddie.
O primeiro título era “Grécia – após os incêndios, as inundações”. Fiquei atento – será que, de repente, tinha começado a chover copiosamente? Será que alguém tinha rogado uma praga (no caso, duas) para cima dos desgraçados dos gregos? Parecia-me improvável mas, sabe-se lá, com as alterações climáticas que estão a acontecer... (recordo que, ainda há pouco tempo, nevava na África do Sul, pelo que tudo seria possível). Afinal não. A "notícia" continuava dizendo que “peritos advertem para posterior perigo de inundações, consequência das condições do solo após os incêndios”. Ou seja, como uma catástrofe já “estava gasta” do ponto de vista noticioso, inventa-se logo outra, mesmo não tendo acontecido! Há coisas fantásticas, não há?
Quanto ao segundo título (o da revista) era “Caso de Natasha Kampus reforça teoria de que Maddie está viva”. Hã? Diga lá outra vez! Então se a criança austríaca raptada tivesse morrido o título seria “Caso de Natasha Kampus reforça teoria de que Maddie está morta”? Mas o que é que uma coisa tem a ver com outra? Há (infelizmente) centenas de casos de raptos de crianças por dia e uns acabam em bem, outros nunca são deslindados, noutros a criança é morta... em que é que um (um, sublinho) exemplo que acaba (mais ou menos) bem reforça qualquer teoria? Mais uma vez, o título-espectáculo ataca! Usando a angústia e o desejo das pessoas de que a criança se encontre bem, cria-se uma “teoria” (palavra que soa sempre a credibilidade e respeitabilidade – só os cientistas têm teorias, os “mortais” têm opiniões), sabendo-se à partida que, com esse jogo de emoções, se vai vender mais facilmente o sabonete disfarçado de notícia.
Como a fome já não vende e os aumentos da gasolina também não, há que explorar o novo filão: os mais básicos sentimentos das pessoas. E assim, em pequenos passos de que os títulos das notícias são só um minúsculo exemplo, lá vamos, placidamente, transformando o nosso mundo em apenas mais um execrável “reallity show”.
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(*) - Depois, com as tiragens a baixar, vendo que não conseguiriam ultrapassar a do “Expresso” e já não havendo Cavaco para chatear, borrifaram no assunto e saíram de cena. Após umas quantas confusões, aquela coisa de Inês Serra Lopes (na sua única oportunidade de ser Directora do que quer que seja) pegou no dinheiro do Papá e ficou Chefe, conseguindo ainda ir a tempo de dar o seu cunho pessoal ao naufrágio do “Independente”.
Mas, actualmente, a que é que assistimos? Na sistemática transformação dos títulos na forma mais baixa e rasca de chamar à atenção das pessoas (de que é um bom exemplo o “24 horas”, aquela coisa a que há quem chame de “jornal”), manipulando os seus sentimentos e instintos mais básicos, num crescendo de absurdo, espalhafato e idiotice, cuja única virtude é a coerência com a disparatada “notícia” que normalmente a seguir se desenvolve.
Vem isto a propósito de hoje, a caminho do escritório (outro absurdo de Agosto...), ter ouvido na rádio uma "notícia" sobre os devastadores incêndios na Grécia e o anúncio a uma revista, cujo maior chamariz era o título citado de mais uma outra “notícia” sobre o caso Maddie.
O primeiro título era “Grécia – após os incêndios, as inundações”. Fiquei atento – será que, de repente, tinha começado a chover copiosamente? Será que alguém tinha rogado uma praga (no caso, duas) para cima dos desgraçados dos gregos? Parecia-me improvável mas, sabe-se lá, com as alterações climáticas que estão a acontecer... (recordo que, ainda há pouco tempo, nevava na África do Sul, pelo que tudo seria possível). Afinal não. A "notícia" continuava dizendo que “peritos advertem para posterior perigo de inundações, consequência das condições do solo após os incêndios”. Ou seja, como uma catástrofe já “estava gasta” do ponto de vista noticioso, inventa-se logo outra, mesmo não tendo acontecido! Há coisas fantásticas, não há?
Quanto ao segundo título (o da revista) era “Caso de Natasha Kampus reforça teoria de que Maddie está viva”. Hã? Diga lá outra vez! Então se a criança austríaca raptada tivesse morrido o título seria “Caso de Natasha Kampus reforça teoria de que Maddie está morta”? Mas o que é que uma coisa tem a ver com outra? Há (infelizmente) centenas de casos de raptos de crianças por dia e uns acabam em bem, outros nunca são deslindados, noutros a criança é morta... em que é que um (um, sublinho) exemplo que acaba (mais ou menos) bem reforça qualquer teoria? Mais uma vez, o título-espectáculo ataca! Usando a angústia e o desejo das pessoas de que a criança se encontre bem, cria-se uma “teoria” (palavra que soa sempre a credibilidade e respeitabilidade – só os cientistas têm teorias, os “mortais” têm opiniões), sabendo-se à partida que, com esse jogo de emoções, se vai vender mais facilmente o sabonete disfarçado de notícia.
Como a fome já não vende e os aumentos da gasolina também não, há que explorar o novo filão: os mais básicos sentimentos das pessoas. E assim, em pequenos passos de que os títulos das notícias são só um minúsculo exemplo, lá vamos, placidamente, transformando o nosso mundo em apenas mais um execrável “reallity show”.
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(*) - Depois, com as tiragens a baixar, vendo que não conseguiriam ultrapassar a do “Expresso” e já não havendo Cavaco para chatear, borrifaram no assunto e saíram de cena. Após umas quantas confusões, aquela coisa de Inês Serra Lopes (na sua única oportunidade de ser Directora do que quer que seja) pegou no dinheiro do Papá e ficou Chefe, conseguindo ainda ir a tempo de dar o seu cunho pessoal ao naufrágio do “Independente”.
Etiquetas: comentário
4 Commenários:
Excelente post, na minha opinião,em teoria...
Bjos*
By Maria P., at 29 de agosto de 2007 às 14:11
Adorei! Penso sobre o assunto vezes sem fim e gostei imenso de o ler concretizado aqui, por ti.
(Gosto de te ver concretizado, pois é).
By APC, at 2 de setembro de 2007 às 03:54
As técnicas de título, não são nada mais que recursos para despertar a atenção do leitor e fazer com que ele se interesse pelo restante da história.
E é triste ver o sensacionalismo cada vez que se olha para certo tipo de revista ou jornal.
Enfim...parece que tudo vale a pena quando o motivo mete vendas (dinheiro)
By Ana Luar, at 6 de setembro de 2007 às 09:32
[Seguindo o comentário da Ana], é caso para dizer que tudo vale a pena quando a alma é pequena! :-)
Ah, e volta, tás perdoado! ;-)
By APC, at 7 de setembro de 2007 às 23:39
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