Fui ao Brasil com o meu pato de loiça
Tirei uns dias de férias e fui até ao Brasil com o meu pato de loiça, que conheci da forma mais estranha que se possa imaginar. Querem saber como? Não? Então eu vou contar.
O Ministério da Saúde, como todos os mistérios (palavra que deu origem a “Ministério” - nota para os menos cultos, como eu, cuja etimologia só inventei ontem à noite) em Portugal, incluindo o de Fátima, de vez em quando resolve actualizar-se. No Ministério da Saúde comprando computadores; em Fátima, aumentando o tamanho da árvore que, pretensamente, teria abrigado “Nossa Senhora” - o que a faria aumentar de tamanho provável de um metro e pouco para um metro e pouco e mais alguns cagagésimos, mais coisa menos coisa. Bom, mas isso não interessa nada, como diria a grande filósofa da actualidade, Teresa Guilherme, da Guilherme e Guilherme e ainda mais Guilherme, Lda - ou seja, adiante.
Dizia eu que o Ministério resolveu actualizar-se e criou uma Comissão (como sempre acontece nestes casos – quando não se quer fazer o que quer que seja, cria-se uma Comissão) que estaria encarregue da “modernização”. Ou seja, e à sombra do slogan “um funcionário, um computador” (aliás, primo direito dos slogans “um homem, um voto” e do “nem mais um soldado para as colónias”, embora ninguém - nem eu que sou parvo - consiga perceber a relação), resolveu distribuir um computador a cada funcionário. Pequeno pormenor – ninguém sabia, sequer, como se ligaria aquilo, quanto mais como funcionaria!
Episódio seguinte: uma funcionária, sem saber o que fazer, agora com o filho, levou-o para o Serviço. Como é evidente, o puto sabia mais de informática que cem funcionárias juntas, pelo que resolveu fazer alguma coisa com “aquilo”. Ou seja, começou a utilizá-lo. No caso, jogando.
No dia seguinte surgiu, em todo o seu esplendor, o Chefe – perguntou, em tom agreste, o que se passava, e escreveu uma magnífica ordem de serviço em que mandava que todos os computadores, por forma a não serem uns promíscuos colaboradores de jogos infantis e, consequentemente, do despesismo nacional, iriam, de imediato, para cima dos armários. Assim foi.
Dois anos depois, com a saúde tão moderna quanto antes estava, exibindo estatísticas de mais negligentes mortos que nunca, os brilhantes crânios dirigentes resolveram rentabilizá-la – ou seja, venderam os computadores, já obsoletos, substituindo-os por moderníssimos patos de loiça no cimo dos armários, atingindo uma estética renovada e moderna, para além de um lucro tão surpreendente que o Secretário de Estado foi promovido a Secretário de Estado - só que com direito a mais acessores!
Donde, e para rentabilizar mais ainda a saúde, resolveram vender os patos Porque, evidentemente, eram tão inúteis quanto os computadores.
E aí surjo eu – carente por afecto, doido por meiguice, que mais é que eu poderia pedir que um pato de loiça todo nu?
Comprei-o. Preço acessível, aspecto decente e lavado, inegavelmente submisso, tal e qual uma das “existências” de um harém.
Assim, e como a realidade é, apenas, o que queremos que ela seja, decidimos fazer umas férias no Brasil, nus e felizes – eu e o pato, obviamente; nunca iria com o Secretário de Estado, um palerma que nunca toma banho!
Ah, antes que me esqueça. parti-o todo (ao pato, claro outra vez)! Ou seja, voltou em cacos! Comigo é assim – se não for violento, não é Amor! Nem moderno.
PS – Este texto é baseado num episódio real, passado no Departamento de Modernização da Saúde, do Ministério da Saúde, Avenida Miguel Bombarda, em Lisboa. Como é evidente, se o Sr. (ás vezes “Engenheiro”) Sócrates me resolver processar, eu direi que tudo isto é só uma brincadeira – caso contrário, baseia-se na realidade!
O Ministério da Saúde, como todos os mistérios (palavra que deu origem a “Ministério” - nota para os menos cultos, como eu, cuja etimologia só inventei ontem à noite) em Portugal, incluindo o de Fátima, de vez em quando resolve actualizar-se. No Ministério da Saúde comprando computadores; em Fátima, aumentando o tamanho da árvore que, pretensamente, teria abrigado “Nossa Senhora” - o que a faria aumentar de tamanho provável de um metro e pouco para um metro e pouco e mais alguns cagagésimos, mais coisa menos coisa. Bom, mas isso não interessa nada, como diria a grande filósofa da actualidade, Teresa Guilherme, da Guilherme e Guilherme e ainda mais Guilherme, Lda - ou seja, adiante.
Dizia eu que o Ministério resolveu actualizar-se e criou uma Comissão (como sempre acontece nestes casos – quando não se quer fazer o que quer que seja, cria-se uma Comissão) que estaria encarregue da “modernização”. Ou seja, e à sombra do slogan “um funcionário, um computador” (aliás, primo direito dos slogans “um homem, um voto” e do “nem mais um soldado para as colónias”, embora ninguém - nem eu que sou parvo - consiga perceber a relação), resolveu distribuir um computador a cada funcionário. Pequeno pormenor – ninguém sabia, sequer, como se ligaria aquilo, quanto mais como funcionaria!
Episódio seguinte: uma funcionária, sem saber o que fazer, agora com o filho, levou-o para o Serviço. Como é evidente, o puto sabia mais de informática que cem funcionárias juntas, pelo que resolveu fazer alguma coisa com “aquilo”. Ou seja, começou a utilizá-lo. No caso, jogando.
No dia seguinte surgiu, em todo o seu esplendor, o Chefe – perguntou, em tom agreste, o que se passava, e escreveu uma magnífica ordem de serviço em que mandava que todos os computadores, por forma a não serem uns promíscuos colaboradores de jogos infantis e, consequentemente, do despesismo nacional, iriam, de imediato, para cima dos armários. Assim foi.
Dois anos depois, com a saúde tão moderna quanto antes estava, exibindo estatísticas de mais negligentes mortos que nunca, os brilhantes crânios dirigentes resolveram rentabilizá-la – ou seja, venderam os computadores, já obsoletos, substituindo-os por moderníssimos patos de loiça no cimo dos armários, atingindo uma estética renovada e moderna, para além de um lucro tão surpreendente que o Secretário de Estado foi promovido a Secretário de Estado - só que com direito a mais acessores!
Donde, e para rentabilizar mais ainda a saúde, resolveram vender os patos Porque, evidentemente, eram tão inúteis quanto os computadores.
E aí surjo eu – carente por afecto, doido por meiguice, que mais é que eu poderia pedir que um pato de loiça todo nu?
Comprei-o. Preço acessível, aspecto decente e lavado, inegavelmente submisso, tal e qual uma das “existências” de um harém.
Assim, e como a realidade é, apenas, o que queremos que ela seja, decidimos fazer umas férias no Brasil, nus e felizes – eu e o pato, obviamente; nunca iria com o Secretário de Estado, um palerma que nunca toma banho!
Ah, antes que me esqueça. parti-o todo (ao pato, claro outra vez)! Ou seja, voltou em cacos! Comigo é assim – se não for violento, não é Amor! Nem moderno.
PS – Este texto é baseado num episódio real, passado no Departamento de Modernização da Saúde, do Ministério da Saúde, Avenida Miguel Bombarda, em Lisboa. Como é evidente, se o Sr. (ás vezes “Engenheiro”) Sócrates me resolver processar, eu direi que tudo isto é só uma brincadeira – caso contrário, baseia-se na realidade!
Etiquetas: conto/crónica
5 Commenários:
Mas é incrível!...
Por mais que o Estado se esforce por querer agradar a funcionários e contribuintes; por mais que invista em soluções e prossiga uma prática de modernização constante, há sempre uns e outros que não estão satisfeitos.
Eu gostava era de saber: se o xô-ministro não tivesse decidido comprar uns computadores que de tão inúteis tivessem que ser trocados por equivalente inutilidade, como pensa o cavalheiro que teria tido direito a um pato na sua vida, hem? Por acaso faz ideia daquilo por que passa um cidadão vulgar para conseguir um pato novo e saudável, grandito e firme, devidamente depenado e com um quê de verniz?
A D. Hermínia da Contabilidade já vai para a pré-reforma, e ainda só lhe deram rolos de alcatifa obsoleta! E ela que não contou
com os ácaros, coitadita!... Não fosse trabalhar para o mistério, e ainda estaria à espera de consulta.
Pois muita sorte tem V. Exa., pelo que seria de mostrar mais respeito ao falar de quem lhe paga, ouviu? E tenho dito.
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PS - Esse "parti-o todo" foi sentido; ah, pois foi!...
By APC, at 25 de junho de 2007 às 04:17
Esmeraste-te! Está muito bom, o texto. :)
Infelizmente retrata na perfeição o que se passa no nosso Estado (no geral, como é óbvio, haverá um ou outro local salvos do analfabetismo funcional geral).
Não vale a pena partires a loiça toda, o pato não tem culpa e colado perde o encanto.
Beijo
By a miúda, at 25 de junho de 2007 às 10:57
Ah, e adorei o ritmo, o encadeamento e a fluidez da narrativa que te leva ao pato (aliás, que traz o pato a ti!:-)
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By Anónimo, at 25 de junho de 2007 às 13:03
E dessa viagem, garanto que voltou com montes de episódios reais pra contar. É o que mais o Brasil tem pra exportar, no momento. Muito mais até que as moças alegres e descontraídas que andam a ir para Portugal, culpadas pelo preconceito que já sofro, mesmo não sendo tão descontraída assim.
By Leticia Gabian, at 26 de junho de 2007 às 17:49
Nem sei que diga de tamanha saga, mas espero sinceramente que consideres a aquisição de outro patinho porque vem aí o Natal e Português que se preze embarca sempre nesta altura para o Brasil engordando assim a divida dos seus fantásticos cartões de crédito.
E agora perguntas tu…ou se não te apetecer pergunto eu…: e esta caramela agora apareceu de que planeta???!! Juro que não saí do Miguel Bombarda, vim directamente de Alfredo Da Costa onde fui dar á luz uma ninhada de patos requisitados por um qualquer ministério misterioso!
Enfim…gostava que me lesses..a mim e ao meu meme…ao meu meme e ao meu “convite”:))
Fica bem com um beijo de moi!
By Anónimo, at 29 de junho de 2007 às 22:30
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