CUOTIDIANO

sábado, maio 10, 2008

Já passaram tantos anos e eu ainda te esqueço (sabes?)

Já passaram tantos anos e eu ainda te esqueço – suor da lua, desejo incontrolável, sorriso aberto, encontro de mil desejos que nem consigo desejar, pôr-do-sol mais que tardio, corpo quente, olhar hipnótico de todo e qualquer sentido que ainda estou por definir e longinquamente imaginar. Enfim... mulher!

Sim, a cada dia que passa esqueço mais e mais a cor dos teus olhos, o som do teu orgasmo, o cheiro infindo da tua pele, a cor de ti e muito particularmente do teu cabelo – não sei porquê mas é verdade –, do teu cabelo, qual impossível, improvável esboço de corpo, espaço feminino definitivo, recanto encantado do desejo, pão à espera da fome. E não quero, juro-te, não quero, não quero que isso aconteça, mesmo, mesmo, por mais que te relembre e me esforce à brava à brava e à brava e te esqueça sem dar por isso, dando-me, sacrificando-me, dando-me sempre à tristeza.

(...E depois - sabes? - não sabemos aproveitar nada.. Há 20 anos atrás estávamos no Paraíso, conduzidos pelo Brian Adams e pelos nossos desejos adolescentes. E hoje, estamos onde?)

Hoje? Hoje nem sequer sei porque ainda aqui estou, porque escrevo, porque Te escrevo - tu que és a minha maiúscula preferida - porque ainda ouço as dez milhões de biliões de músicas (lentas, sempre lentas, sabes?) que ouvia e ouço e ouvirei, quando tu és o meu enorme, pequeno, particular anjo com sexo, excelso pedaço e pormenor de Paraíso, que eu não vejo, que não toco, mas que me faz falta - sim, que me falta tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto.

E depois (sabes?) sobra sempre a música, sobram as guitarras, o refrão da sede, do cio, do estar à tua espera – pior que tudo, a tua recordação, sempre presente como uma marca de fogo, como um pontapé nos tomates, como um grito de uma puta ferida sem orgulho, como um instancável sangue de ti que me percorre as estranhas profundezas das entranhas, até se dissolver nas infindas, prementes, urgentes, queimadas imagens de ti.

Mas o pior de tudo (sabes?) é que te vou esquecendo em cada vez que te relembro – aprendi há uns dias atrás que o cérebro aprende os erros. Digo bem – aprende os erros e não aprende com os erros. Ou seja, habitua-se a eles e repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os, repete-os.

Tanto que não te consigo esquecer - por mais que te relembre.

(Tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto tanto)

Ah, esqueci-me – da palavra “dor”.

(Amo-te tanto – tanto tanto tanto)

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4 Commenários:

  • Quiça uma bela homenagem. Com a palavra "dor", como se quer... Repetidamente tanto!

    By Blogger APC, at 10 de maio de 2008 às 20:36  

  • Já reparei na constante temática do casamento. Há uma peça , dizem, muito boa sobre o mesmo tema: "O Parasita" de Marius Von Mayenburg, vou tentar encontrar.

    *nnwyvsj

    By Blogger Balbino, at 20 de maio de 2008 às 22:46  

  • ...fiquei sem palavras mesmo
    Só...se for real é triste, mas seja o que for, tu deves escrever cartas de amor incríveis

    By Blogger redonda, at 13 de junho de 2008 às 12:25  

  • Continuo a perguntar-me por que razão vemos tanta baboseira à venda nas prateleiras das livrarias e lemos sem pagar um tostão linhas cheias de mestria... É uma injustiça, no mímino. Por favor não te esqueças de me avisar se (FINALMENTE) publicares os teus contos, as tuas crónicas, os teus devaneios, os teus poemas. Faço questão de usar o meu dinheiro neles.

    By Blogger Patrícia, at 10 de julho de 2008 às 18:27  

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