Botânica
Quando a vi passar avisei-a, delicada e discretamente, que tinha um pessegueiro na bilha. Ela sorriu e esclareceu-me que não era um pessegueiro mas sim uma nespereira.
- “Peço imensa desculpa, mas... tem a certeza?”, perguntei quase a medo.
Amavelmente, ela retirou um fruto de um ramo que saía, com dificuldade, de sua bilha e deu-me a provar. Era, de facto, uma nêspera - por sinal, deliciosa.
- “Só lhe posso pedir desculpa, minha senhora, lamento a confusão”, disse envergonhadamente, ensaiando uma pequena vénia.
- “Não faz mal, acontece-me muito, sabe, há imensa gente que também se engana como o senhor e me vem chamar à atenção; é que, hoje em dia, ninguém percebe quase nada de Botânica - sinal dos tristes tempos em que vivemos...”, retorquiu, entrecortando as palavras com pequenos e suaves suspiros de lamento pela cada vez maior ignorância da Humanidade.
Constrangido e embaraçado, pedi desculpa mais uma vez, agradeci a nêspera e vim-me embora, sob os olhares reprovadores, embora discretos, de todos os que observavam aquela triste figura que eu havia feito.
- “Como pude cometer um erro tão grosseiro, confundir um pessegueiro com uma nespereira, meu Deus, como é possível?”, perguntei-me simultaneamente indignado e envergonhado, enquanto voltava em passo apressado para casa, prometendo a mim próprio começar, nesse mesmo dia, a estudar Botânica, para que situações completamente humilhantes como aquela não mais me voltassem a acontecer.
Chegado a casa vi meu Pai passar com um ananás na bilha, cantarolando um sambinha, numa singela mas sentida homenagem a Carmen Miranda. Ou... seria um abacaxi?
- “Peço imensa desculpa, mas... tem a certeza?”, perguntei quase a medo.
Amavelmente, ela retirou um fruto de um ramo que saía, com dificuldade, de sua bilha e deu-me a provar. Era, de facto, uma nêspera - por sinal, deliciosa.
- “Só lhe posso pedir desculpa, minha senhora, lamento a confusão”, disse envergonhadamente, ensaiando uma pequena vénia.
- “Não faz mal, acontece-me muito, sabe, há imensa gente que também se engana como o senhor e me vem chamar à atenção; é que, hoje em dia, ninguém percebe quase nada de Botânica - sinal dos tristes tempos em que vivemos...”, retorquiu, entrecortando as palavras com pequenos e suaves suspiros de lamento pela cada vez maior ignorância da Humanidade.
Constrangido e embaraçado, pedi desculpa mais uma vez, agradeci a nêspera e vim-me embora, sob os olhares reprovadores, embora discretos, de todos os que observavam aquela triste figura que eu havia feito.
- “Como pude cometer um erro tão grosseiro, confundir um pessegueiro com uma nespereira, meu Deus, como é possível?”, perguntei-me simultaneamente indignado e envergonhado, enquanto voltava em passo apressado para casa, prometendo a mim próprio começar, nesse mesmo dia, a estudar Botânica, para que situações completamente humilhantes como aquela não mais me voltassem a acontecer.
Chegado a casa vi meu Pai passar com um ananás na bilha, cantarolando um sambinha, numa singela mas sentida homenagem a Carmen Miranda. Ou... seria um abacaxi?
3 Commenários:
Devia ser um abacaxi...
By redonda, at 30 de agosto de 2006 às 15:57
Seria seu pai ou Inês que ia descalça à fonte?
Uma bilha ou um alguidar?
Um ananás ou a insustentável leveza de não ser?
Nem tudo é o que parece... :)
By A, at 4 de setembro de 2006 às 11:48
E serias tu a ver a dita fruta no dito... hum... lugar?
By APC, at 16 de setembro de 2006 às 05:46
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