CUOTIDIANO

terça-feira, abril 10, 2007

Sócrates por um cano

Segundo notícia de hoje à tarde da “Lusa”, “José Sócrates foi apresentado como engenheiro no Parlamento em 1993, surgindo na Biografia dos Deputados da Assembleia da República como licenciado em engenharia civil em 1993 - um diploma que, eventualmente, obteve em 1996 na Universidade Independente”. Tal era a ganância de ser “sôrengenheiro”!

Ainda a propósito deste caso, algumas perplexidades que me continuam a atormentar (bom, a comichão por causa do pé-de-atleta atormenta-me mais mas, em todo o caso, isto também é chato):

- Não sendo o curso da Universidade Independente (UnI), em 1996 (e, muito menos, agora...), reconhecido pela Ordem dos Engenheiros, porque é que se transferiu do ISEL - não completando ali a licenciatura, ficando-se pelo bacharelato - para lá terminar os seus estudos, num curso pelo qual nunca poderia usar o tão desejado (conforme demonstra a notícia da “Lusa”) título de “engenheiro”?

- Será que o fez porque, no ISEL, ainda lhe faltavam 12 cadeiras ministradas por desconhecidos e, na Independente, apenas 5(!) cadeiras dadas por um amigo e com processos mais (digamos) “soft” de as tirar?
- Porque é que não tendo (conforme o próprio já admitiu publicamente) a “pós-graduação em Engenharia Sanitária, na Escola Nacional de Saúde Pública” (que consta do Portal do Governo) mas sim um MBA em Gestão pelo ISCTE (de acordo com o que disse ontem o ministro Mariano Gago), na biografia oficial continua a aparecer o primeiro e não o segundo? Será que, este último, também mete confusões?

Tudo isto é estranho, muito estranho. Mas, aparentemente, mais estranho ainda é o silêncio do PSD que, meio moribundo e com uma gigantesca garrafa de oxigénio à mão, prefere não a usar. Mas... e se, afinal, não é tão estranho assim, mas apenas o costumeiro “bloco central” a fazer a sua gestão?

Explicando. A maioria das universidades privadas alberga, como administradores, professores ou alunos, grande parte da nossa classe política “central” que, assim, vai conseguindo estatuto e cargos “mais à sua medida” - vejam-se as coincidências do líder do PSD, Marques Mendes, ser, em 1996 (curiosamente o ano da eventual licenciatura socrática), docente da UnI ou de Armando Vara, do PS, acabar o seu curso (na Independente, pois claro!) exactamente uma semana antes de ser nomeado para a administração da Caixa Geral de Depósitos.

Por outras palavras: para além de serem locais de fácil lucro (os pais que querem que um seu filho entre numa universidade para tirar um curso e ele não consegue notas de admissão às estatais, sacam das notas – se as tiverem, evidentemente – para o conseguir), como também são o sítio onde alguns “centrais” vão administrando o alto fluxo monetário (e acumulando riqueza e poder), outros vão dando aulas (e acumulando notoriedade e prestígio) e outros “centrais” ainda, disfarçados de alunos, vão fazendo cursos à medida, bem cozinhados e... na brasa!

Então será que, a esta luz, não se perceberá porque é que os sucessivos relatórios e recomendações de inúmeras inspecções efectuadas aos estabelecimentos de ensino superior privado nunca tiveram consequências? E não se perceberá melhor, também, que só seja agora, quando se dá uma bronca de lavagem de dinheiro e tráfico de diamantes – ou seja, quando já não seria possível continuar a tapar o sol com a peneira - que se tenha reparado na “manifesta degradação pedagógica”, citando Mariano Gago?

Por fim, uma nota mais pessoal: Considero José Sócrates dos melhores (se não o melhor) primeiro-ministros que Portugal teve e, conforme já escrevi em texto anterior, é-me totalmente irrelevante qual a sua profissão de origem. Mas, infelizmente, toda esta situação parece reveladora de um carácter que não se encaixa, minimamente, com a imagem sempre transmitida por Sócrates de trabalho e perseverança, para além do respeito por todas as regras socialmente aceites - e, diga ele o que disser na quarta-feira, o facto é que enganou os portugueses ao fazer-se passar, anos a fio, pelo que efectivamente não era. Para além disso, mesmo que, nesse dia (na televisão e não no Parlamento – fantástico o respeito pelas regras da democracia!), dê uma explicação credível e cabal para toda esta confusão, não acredito que lhe reste cara para falar em sacrifícios, trabalho ou moralidades, acabando por sair desta trapalhada completamente enfraquecido.

E tudo isto só para não ser tratado por “Sr. Sócrates”...

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