Celebração
Pediram uma garrafa do melhor champanhe, umas deliciosas entradas. Olharam-se como da primeira sede. Tudo estava perfeito. Entrelaçaram as mãos, esboçaram graçolas, trocaram de copos, trocaram risadas.
Celebravam o seu próprio divórcio, decretado nesse mesmo dia por um juiz que tinha por companhia um canário numa gaiola – condenado, portanto, a prisão perpétua. Lembraram o convicto padre, uns anos atrás
- Prometem amar-se, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a Morte vos separe?
e riram às gargalhadas. Estavam bem vivos e continuavam a amar-se, sentiam que se amariam para sempre - e a eternidade era ali, naquele momento -, pois amar é um estado de alma, não um estado civil.
Depois de jantar, perderam-se pela noite, pelas luzes, pelos sons, pelas calçadas, pelas danças dos corpos e das almas, pelos beijos; perderam-se um pelo outro, só se achando depois de trocarem, sem quaisquer promessas, mais uma e outra vez de corpos - as verdadeiras e únicas alianças.
O juiz há muito dormia, feliz por outro dia de dever cumprido.
O Amor, esse, continuava livre, ainda a dançar - algures por ali, pelo tecto, pelos ares, ou apenas pelo sangue de todos os Amantes que resistem.
Celebravam o seu próprio divórcio, decretado nesse mesmo dia por um juiz que tinha por companhia um canário numa gaiola – condenado, portanto, a prisão perpétua. Lembraram o convicto padre, uns anos atrás
- Prometem amar-se, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a Morte vos separe?
e riram às gargalhadas. Estavam bem vivos e continuavam a amar-se, sentiam que se amariam para sempre - e a eternidade era ali, naquele momento -, pois amar é um estado de alma, não um estado civil.
Depois de jantar, perderam-se pela noite, pelas luzes, pelos sons, pelas calçadas, pelas danças dos corpos e das almas, pelos beijos; perderam-se um pelo outro, só se achando depois de trocarem, sem quaisquer promessas, mais uma e outra vez de corpos - as verdadeiras e únicas alianças.
O juiz há muito dormia, feliz por outro dia de dever cumprido.
O Amor, esse, continuava livre, ainda a dançar - algures por ali, pelo tecto, pelos ares, ou apenas pelo sangue de todos os Amantes que resistem.
Etiquetas: conto/crónica
6 Commenários:
Este comentário foi removido pelo autor.
By APC, at 5 de maio de 2007 às 19:11
Está lindo... Está "tudo".
Faz cair a capa da hipocrisia ao chão (quase se escuta o som dela) e fica um nó na garganta e qualquer coisa a mais ou a menos (mas mesmo a que é menos, é a mais)... E fica a beleza nua de quem a tenha, a infinitude do que é verdade.
Olha... Eu abracei este texto como a nenhum outro que hajas publicado, digo-te!
(Optei por manter inalteradas as palavras e um dia primeiro).
By APC, at 5 de maio de 2007 às 19:12
"... pois amar é um estado de alma, não um estado civil."
Pois
By Leticia Gabian, at 5 de maio de 2007 às 22:08
Ressalva: "DE um dia primeiro".
(Como este... como qualquer um!)
By APC, at 6 de maio de 2007 às 06:54
Breve passagem só para dizer que também te nomeei para o Thinking Blogger award.
By redonda, at 7 de maio de 2007 às 19:54
Interessante seria se todos os divórcios assim fossem
:)
Onde estaria a passionalidade latina dos verdadeiros acontecimentos trágicos?
E o Amor? Onde estaria ele? a Dançar, livre??!!?...
O Amor é uma doença, já dizia o Espadinha... e tinha razão.
Beijos
By A, at 7 de maio de 2007 às 21:17
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