Polónia, 1 – Maddie, 0
De uma maneira geral, a única e verdadeira razão da escolha das notícias a dar e da forma de o fazer é o lucro, lucro esse consequência quase directa das audiências e tiragens conseguidas. Claro está que, por exemplo, jornais de referência como o “Público” ou o “DN”, podem dar-se ao luxo de ter colunas de opinião ou artigos de análise e reflexão, já que ganham dinheiro suficiente para o poder fazer – tanto mais que esse tipo de enquadramento lhes permite continuar como “de referência”, o que traz como consequência uma tabela de preços mais elevados para publicidade e, assim, lá vamos nós parar ao lucro outra vez. Mas o lucro, por si só, não é nenhum crime – numa empresa privada é mesmo esse um dos principais parâmetros para a avaliar (e positivamente). O problema está é na forma como se chega lá.
Tudo começou com o “síndrome TVI” em que, a propósito de tudo e mais alguma coisa, se entrevistam “populares” que passam na rua para dar a sua extraordinária, abalizada e fundamental (para além de sempre loooonga...) opinião sobre o tema, qualquer que ele seja. Claro está que, à excepção dos que realmente sabem do assunto (que, provavelmente, se escusariam a dá-la) e que só por uma coincidência rara e notável seriam “apanhados”, toda a gente sabe e opina sobre tudo, desde o mais recôndito Decreto-Lei até à Lei da Gravidade, passando pela cor das borboletas da Amazónia e pela previsão do tempo para as Honduras Norte. Ou seja, pede-se uma opinião e normalmente sai um palpite idiota, conforme seria de esperar.
Nos jornais, também afectados pelo mesmo “síndrome TVI”, passaram da coluna dos escritos ao Director para o pedido de envio de “reportagens populares”, de preferência com imagens de telemóvel – isto para além de andarem a reboque e terem de “desenvolver” tudo o que as televisões tornam em notícia, usando todos os truques possíveis e imaginários no tal “desenvolvimento” (e até no título...).
Assim, aos poucos mas seguramente, lá se foi popularizando e criando o tal monstro, monstro esse que, contrariamente ao que é normal referir-se, não é a comunicação social nem o famoso “circo mediático” mas sim o monstro popular que a própria comunicação social criou e com o qual se terá de aguentar, para o bem e para o mal.
Um bom exemplo disto tudo tem sido a repetição “ad nauseam” de tudo o que os McCann fazem ou deixam de fazer, sempre entre palmas e beijocas e histerias de afecto populares. No entanto, nas 30 vezes que Kate McCann (que, curiosamente, nem se chama McCann mas sim Healy – mas que se lixe o rigor jornalístico!) entrou anteontem de manhã na Polícia Judiciária de Portimão (pelo menos na “SIC Notícias” ela entrou 30 vezes – à falta de mais imagens coloca-se em ciclo as existentes...) já foi apupada e vaiada, porque nos jornais saiu que ela seria eventualmente suspeita. Ou seja, o instável e volúvel monstro da “opinião pública”, ou melhor, do palpite em público, atacou de novo e os jornalistas têm a cara de pau de acharem demais os apupos! Mas foram eles que criaram a situação, ao terem alimentado “estados de alma” e jogado com os sentimentos mais básicos, tudo isto à conta da ganância dos “furos” e dos consequentes lucros...
Entretanto, ontem houve um jogo de futebol com a Polónia, muito mais facilmente vendável, e já se está tudo a borrifar para a pobre criancinha e aos gritos pelo Cristiano Ronaldo – que, se não tivesse marcado um golo, claro está, também seria apupado e vaiado. Ou seja, há que alimentar o monstro com os seus pratos preferidos.
(...E o que é curioso é que, com toda esta “evolução populista”, cada vez mais as pessoas só acreditam nos acontecimentos sérios e reais quando descritos e parodiados em programas de humor - Jay Leno, Gato Fedorento...- e não quando apresentados nos jornais e telejornais. Ou seja, é o regresso do bobo da corte, o único que tinha direito a dizer as verdades – e a conservar o pescoço, por mais alarvidades que dissesse).
Tudo começou com o “síndrome TVI” em que, a propósito de tudo e mais alguma coisa, se entrevistam “populares” que passam na rua para dar a sua extraordinária, abalizada e fundamental (para além de sempre loooonga...) opinião sobre o tema, qualquer que ele seja. Claro está que, à excepção dos que realmente sabem do assunto (que, provavelmente, se escusariam a dá-la) e que só por uma coincidência rara e notável seriam “apanhados”, toda a gente sabe e opina sobre tudo, desde o mais recôndito Decreto-Lei até à Lei da Gravidade, passando pela cor das borboletas da Amazónia e pela previsão do tempo para as Honduras Norte. Ou seja, pede-se uma opinião e normalmente sai um palpite idiota, conforme seria de esperar.
Nos jornais, também afectados pelo mesmo “síndrome TVI”, passaram da coluna dos escritos ao Director para o pedido de envio de “reportagens populares”, de preferência com imagens de telemóvel – isto para além de andarem a reboque e terem de “desenvolver” tudo o que as televisões tornam em notícia, usando todos os truques possíveis e imaginários no tal “desenvolvimento” (e até no título...).
Assim, aos poucos mas seguramente, lá se foi popularizando e criando o tal monstro, monstro esse que, contrariamente ao que é normal referir-se, não é a comunicação social nem o famoso “circo mediático” mas sim o monstro popular que a própria comunicação social criou e com o qual se terá de aguentar, para o bem e para o mal.
Um bom exemplo disto tudo tem sido a repetição “ad nauseam” de tudo o que os McCann fazem ou deixam de fazer, sempre entre palmas e beijocas e histerias de afecto populares. No entanto, nas 30 vezes que Kate McCann (que, curiosamente, nem se chama McCann mas sim Healy – mas que se lixe o rigor jornalístico!) entrou anteontem de manhã na Polícia Judiciária de Portimão (pelo menos na “SIC Notícias” ela entrou 30 vezes – à falta de mais imagens coloca-se em ciclo as existentes...) já foi apupada e vaiada, porque nos jornais saiu que ela seria eventualmente suspeita. Ou seja, o instável e volúvel monstro da “opinião pública”, ou melhor, do palpite em público, atacou de novo e os jornalistas têm a cara de pau de acharem demais os apupos! Mas foram eles que criaram a situação, ao terem alimentado “estados de alma” e jogado com os sentimentos mais básicos, tudo isto à conta da ganância dos “furos” e dos consequentes lucros...
Entretanto, ontem houve um jogo de futebol com a Polónia, muito mais facilmente vendável, e já se está tudo a borrifar para a pobre criancinha e aos gritos pelo Cristiano Ronaldo – que, se não tivesse marcado um golo, claro está, também seria apupado e vaiado. Ou seja, há que alimentar o monstro com os seus pratos preferidos.
(...E o que é curioso é que, com toda esta “evolução populista”, cada vez mais as pessoas só acreditam nos acontecimentos sérios e reais quando descritos e parodiados em programas de humor - Jay Leno, Gato Fedorento...- e não quando apresentados nos jornais e telejornais. Ou seja, é o regresso do bobo da corte, o único que tinha direito a dizer as verdades – e a conservar o pescoço, por mais alarvidades que dissesse).
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2 Commenários:
Obrigada por teres escrito isto!
Nem imaginas o que foi para aqui hoje, familiarmente falando, à conta exactamente desse tema. Reparei, com mágoa, que nos tornamos os arrogantes e os armados-em-superiores se não somos coniventes com a especulação alucinadamente conspiratória dos poucochinhos (que se informam poucochinho, que pensam poucochinho, que opinam e inventam e cegam muitíssimo); e hoje foi um dia especialmente estúpido para mim por isso... Porque eu só queria que as pessoas se calassem com aberrações; pelo menos que se abstivessem de me exigir que as oiça, de tão brejeiras, infundadas e vis. Enfim...
E queria apenas o que qualquer ser humano que o seja quereria: um rápido e feliz desfecho! Já não vou sequer sonhar com um povo feito de gente humana.
Um beijo*
By APC, at 10 de setembro de 2007 às 00:51
* que se abstivessem se me exigir que as ouvisse, sorry.
By APC, at 19 de setembro de 2007 às 18:25
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