Recordações
Aqui estou, nesta cama de hospital, a contar moscas e a conferir o número de mamas de cada enfermeira.
(se calhar seria melhor começar pelo princípio)
Passavam três anos, dois meses e vinte e dois dias desde que ela havia saído de casa. Levara tudo – quadros, livros, cheiros, bibelots, talheres e, principalmente, recordações. Mas, por acaso, esquecera-se de uma delas - infelizmente não de alguma das vezes em que fizemos amor,
(deduzo que tenhamos feito, quase de certeza - não tenho é recordação disso)
mas sim de uma ida ao jardim zoológico em que eu tropecei junto ao sino do elefante - mas que se lixe, já era alguma coisa. Alguma coisa dela me havia ficado.
Tocaram à porta – era ela. Sorri-lhe instintivamente.
- Olá. Venho buscar a recordação que me esqueci de levar da última vez – disse-me secamente.
Foi-se embora com a minha última recordação dela, tudo o que me restava daquele grande amor.
(de certeza que havia sido um grande amor, só pode ter sido – quase que garanto, apesar de não ter qualquer recordação)
Não consegui aguentar, quis morrer. Atirei-me da janela, adeus mundo.
Para meu azar, nesse preciso instante ela saía da porta do prédio. Ao aterrar-lhe em cima, sobrevivi - mas esmaguei-a, o que fez com que levasse com ela, agora de um modo definitivo, todas as minhas
(estou absolutamente convicto que sim, mas não me recordo)
mais belas recordações.
E assim aqui estou, nesta cama de hospital, a contar moscas e a conferir o número de mamas de cada enfermeira. Ah, é verdade, ontem um elefante veio visitar-me, querendo saber se eu já estava recuperado do tropeção. Não me recordo é de que raio é que ele estava a falar – mas que se lixe
(simpático o bicho, não?)
(se calhar seria melhor começar pelo princípio)
Passavam três anos, dois meses e vinte e dois dias desde que ela havia saído de casa. Levara tudo – quadros, livros, cheiros, bibelots, talheres e, principalmente, recordações. Mas, por acaso, esquecera-se de uma delas - infelizmente não de alguma das vezes em que fizemos amor,
(deduzo que tenhamos feito, quase de certeza - não tenho é recordação disso)
mas sim de uma ida ao jardim zoológico em que eu tropecei junto ao sino do elefante - mas que se lixe, já era alguma coisa. Alguma coisa dela me havia ficado.
Tocaram à porta – era ela. Sorri-lhe instintivamente.
- Olá. Venho buscar a recordação que me esqueci de levar da última vez – disse-me secamente.
Foi-se embora com a minha última recordação dela, tudo o que me restava daquele grande amor.
(de certeza que havia sido um grande amor, só pode ter sido – quase que garanto, apesar de não ter qualquer recordação)
Não consegui aguentar, quis morrer. Atirei-me da janela, adeus mundo.
Para meu azar, nesse preciso instante ela saía da porta do prédio. Ao aterrar-lhe em cima, sobrevivi - mas esmaguei-a, o que fez com que levasse com ela, agora de um modo definitivo, todas as minhas
(estou absolutamente convicto que sim, mas não me recordo)
mais belas recordações.
E assim aqui estou, nesta cama de hospital, a contar moscas e a conferir o número de mamas de cada enfermeira. Ah, é verdade, ontem um elefante veio visitar-me, querendo saber se eu já estava recuperado do tropeção. Não me recordo é de que raio é que ele estava a falar – mas que se lixe
(simpático o bicho, não?)
Etiquetas: conto/crónica
3 Commenários:
Quem não tem recordação alguma de ter gostado, dificilmente terágostado. Há, de facto, relações bem menos importantes do que um tropeção no jardim zoológico. Bom tema. Gostei. E sim, o elefante foi um querido.
By APC, at 3 de março de 2008 às 04:35
Ela finou-se com o atropelo aéreo? Quando a porta se fechou, tive uma certeza das minhas: que ela ia sucumbir ao peso da memória do paquiderme.
By Rui, at 11 de março de 2008 às 15:42
Opa... Só hoje reparo que meti água no meu comentário. Queria ter escrito:
Quem não tem recordação alguma de ter gostado, dificilmente terá gostado. Há, de facto, RECORDAÇÕES bem menos importantes do que um tropeção no jardim zoológico. Bom tema. Gostei. E sim, o elefante foi um querido.
By APC, at 14 de março de 2008 às 04:35
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