CUOTIDIANO

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Superstição

Antes de sair de casa, ela cumpriu com todos os seus rituais costumeiros: regou o trevo de quatro folhas com a água benta fanada na igreja do bairro, espalhou dentes de alho pelas várias divisões como se de Haze Alfazema se tratasse, recitou umas quantas rezas ensinadas pelo Professor Ketanga e, para que a sorte não a abandonasse no emprego, guardou na mala um termo cheio de chá feito com umas ervas místicas (ou míticas, não se lembrava bem) vindas das profundezas do Brasil – chá esse que beberia de duas em duas horas, de forma a que, adicionalmente, lhe provocasse uma belíssima e sempre agradável limpeza intestinal. Colocou também na mala a sua inseparável ferradura, benzeu-se sete vezes e, finalmente, saiu para a rua sentindo-se completamente protegida. Sorriu.

Mal pisou o passeio, um gato preto atravessou-se-lhe pela frente. Qual Texas Kid, com uma mão despejou-lhe em cima o chá ainda a ferver e, com a outra, atirou-lhe a ferradura à cabeça, fazendo com que o crânio do animal desse todo um novo colorido e significado à palavra puzzle – que, aliás e curiosamente, tem a tradução de “quebra-cabeças”.

É que, de facto, gato preto dá azar.

Ao gato.

Etiquetas: ,

3 Commenários:

Enviar um comentário

<< Home