Um isqueiro
Ao tirar um livro da estante, sem querer fiz cair ao chão um isqueiro que estava – vá lá saber-se porquê – poisado nele.
Era o último resquício de ti – sim, era teu, tinha de ser que eu não fumo –, tu que não quiseste que eu ficasse com nada relacionado contigo, nem a mais leve recordação ou toque a desvanecer; tu que, imediatamente antes de partires, fizeste uma ronda pela casa, desinfectando-te dos móveis, dos objectos, das fotografias, das lembranças, do tempo, das imagens, dos prazeres.
Enquanto o isqueiro voava, lembrei-te na praia, em nudez de onda e maresia (está quase no chão), lembrei-nos no banco da frente do carro a fazer amor porque era urgente ou apenas porque sim (está quase, mas agora mesmo quase no chão), lembrei-me entrelaçado em teu corpo enquanto a noite, grávida de estrelas, surgia só e exclusivamente por ti (quase, quase, no chão) – lembrei, lembrei tudo.
Quando, finalmente, o isqueiro caiu, apanhei apenas o barulho. Quanto ao isqueiro, deixei-o no chão para que, no dia seguinte, inadvertidamente, tropeçasse em ti. E te dissesse que ainda te amo.
Era o último resquício de ti – sim, era teu, tinha de ser que eu não fumo –, tu que não quiseste que eu ficasse com nada relacionado contigo, nem a mais leve recordação ou toque a desvanecer; tu que, imediatamente antes de partires, fizeste uma ronda pela casa, desinfectando-te dos móveis, dos objectos, das fotografias, das lembranças, do tempo, das imagens, dos prazeres.
Enquanto o isqueiro voava, lembrei-te na praia, em nudez de onda e maresia (está quase no chão), lembrei-nos no banco da frente do carro a fazer amor porque era urgente ou apenas porque sim (está quase, mas agora mesmo quase no chão), lembrei-me entrelaçado em teu corpo enquanto a noite, grávida de estrelas, surgia só e exclusivamente por ti (quase, quase, no chão) – lembrei, lembrei tudo.
Quando, finalmente, o isqueiro caiu, apanhei apenas o barulho. Quanto ao isqueiro, deixei-o no chão para que, no dia seguinte, inadvertidamente, tropeçasse em ti. E te dissesse que ainda te amo.
Etiquetas: conto/crónica
4 Commenários:
Amor estranho. Pisando-o!
;-)
By Conversa Inútil de Roderick, at 9 de setembro de 2009 às 08:42
Essa do "tempus fugit" tem que se lhe diga. E as memórias das coisas boas que nos aconteceram são intemporais: duram apenas o tempo suficiente até se tornarem ténues memórias na cave das nossas emoções. Não há ninguém insubstituível. Esta é, porventura, a primeira máxima do amor.
Abraço
Jorge
By Madrigal, at 10 de setembro de 2009 às 12:37
Gostei
By redonda, at 28 de setembro de 2009 às 15:04
Mas também não há ninguém igual a ninguém...
;-)
By APC, at 12 de fevereiro de 2010 às 00:27
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