Hoje pensei escrever-te. Mas não o fiz
I
Hoje pensei escrever-te – sem saber onde iria dar. Dar-te palavras – como sempre – não chegaria. (E que tal abraçar-te?). Pensei escrever-te e ir por aí fora, como em campos de Van Gogh, sem destino mas com girassóis, sem saudade mas com vontade – até não sentir tempo nenhum nem sequer a falta dele. Se calhar, apenas andando. E pronto. E saboreando sol, vento. E talvez ponto. “E agora?”, pensei. (“E depois?”, pensei melhor). Sim, dar-te palavras. Seria bom. Definitivamente. Bom.
Lembrei-te – pelo menos é certo que lembrei. Mas hoje, estranhamente ou não, não sei se és alguém que já vi, se em quem já tropecei, se com quem já vivi, ou se com quem nunca (mas nunca) estive, nem em palavras, nem em sexo, nem em dor, nem em temporais. Mas – como te disse – resolvi continuar. Ou aqui ficar. À beira de ti. Como água.
Dizia eu – dar-te palavras. Oferecer-te tempo. Como oferendas a deuses. Como sacrifícios. Mas, principalmente, dar-te silêncios sob a forma de palavras. Para que melhor me entendesses. Dando-te, apenas, palavras. Sob a forma de nada. Ou de tempo.
De repente - mas tão suavemente que me embalou - lembrei o “Siddhartha”, o tal poema indiano, nem sei porquê - ou talvez saiba ou, pelo menos, imagine. Pensei na busca e no encontro – e no desencontro -, no prazer do caminho e não da chegada – nem da partida -, pensei que, se calhar, tu não eras tu mas, curiosamente, me seria totalmente irrelevante se o fosses. Ou que talvez me agradasse. E me quisesses. Ou se serias a soma de todos os tempos com todos os momentos com todas as pessoas com todos os espaços com todos os tempos que vamos atravessando sem atravessar - porque o “todo” é tudo e único e nada mais. Ou, se calhar, apenas nada. Ou apenas nós.
Depois lembrei – houve tempos em que tu eras a soma de todos os meus desejos. Ou então nunca exististe ou, mais simplesmente, surgiste sob a estranha forma de uma travessia de estrada velha por uma formiga disfarçada de D’ Artagnan – em nu, claro! – ou de uma torneira com ar maternal ou sendo apenas um sítio em que ainda não estive e no qual nunca viverei mas que, simultaneamente, já se me atravessou ao caminho, num espaço sonâmbulo de um autocarro que perdi - mas no qual ia. Ou, afinal, o espaço todo. Ou apenas nós.
Estava eu a dizer que hoje pensei em ti sem saber quem és – ou se existirás existindo ou não - e, simultaneamente, sabendo que és aquela rapariga ou pássaro ou fonte que conheci na infância, por momentos, numa fugaz troca de olhares, numa esquina, num momento, num sonho. Ou então – quem sabe? – talvez sejas parte integrante dos ponteiros de um estranho relógio apodrecido na cave de um canto de um pulmão – como ar perdido, como tempo, como som, como pele. Ou como nada – ou tudo, ou tempo. Ou, afinal, sendo o tempo todo.
Estava eu sem dizer que te relembro – como já te disse sem o ter feito ou desfeito – em cada canção lenta, nos guilty pleasures que me vou permitindo, sem nunca te ter conhecido mas estando agora de mão dada contigo – sem ser de bandeja, mas apertada. Num tempo que será ontem, num tempo que há-de ser e que já foi, agora mesmo e amanhã e aqui. E, por mais que queiramos, inexistentemente presente. Ou futuro. Ou apenas ali.
Lembrei-te – pelo menos é certo que lembrei. Mas hoje, estranhamente ou não, não sei se és alguém que já vi, se em quem já tropecei, se com quem já vivi, ou se com quem nunca (mas nunca) estive, nem em palavras, nem em sexo, nem em dor, nem em temporais. Mas – como te disse – resolvi continuar. Ou aqui ficar. À beira de ti. Como água.
Dizia eu – dar-te palavras. Oferecer-te tempo. Como oferendas a deuses. Como sacrifícios. Mas, principalmente, dar-te silêncios sob a forma de palavras. Para que melhor me entendesses. Dando-te, apenas, palavras. Sob a forma de nada. Ou de tempo.
De repente - mas tão suavemente que me embalou - lembrei o “Siddhartha”, o tal poema indiano, nem sei porquê - ou talvez saiba ou, pelo menos, imagine. Pensei na busca e no encontro – e no desencontro -, no prazer do caminho e não da chegada – nem da partida -, pensei que, se calhar, tu não eras tu mas, curiosamente, me seria totalmente irrelevante se o fosses. Ou que talvez me agradasse. E me quisesses. Ou se serias a soma de todos os tempos com todos os momentos com todas as pessoas com todos os espaços com todos os tempos que vamos atravessando sem atravessar - porque o “todo” é tudo e único e nada mais. Ou, se calhar, apenas nada. Ou apenas nós.
Depois lembrei – houve tempos em que tu eras a soma de todos os meus desejos. Ou então nunca exististe ou, mais simplesmente, surgiste sob a estranha forma de uma travessia de estrada velha por uma formiga disfarçada de D’ Artagnan – em nu, claro! – ou de uma torneira com ar maternal ou sendo apenas um sítio em que ainda não estive e no qual nunca viverei mas que, simultaneamente, já se me atravessou ao caminho, num espaço sonâmbulo de um autocarro que perdi - mas no qual ia. Ou, afinal, o espaço todo. Ou apenas nós.
Estava eu a dizer que hoje pensei em ti sem saber quem és – ou se existirás existindo ou não - e, simultaneamente, sabendo que és aquela rapariga ou pássaro ou fonte que conheci na infância, por momentos, numa fugaz troca de olhares, numa esquina, num momento, num sonho. Ou então – quem sabe? – talvez sejas parte integrante dos ponteiros de um estranho relógio apodrecido na cave de um canto de um pulmão – como ar perdido, como tempo, como som, como pele. Ou como nada – ou tudo, ou tempo. Ou, afinal, sendo o tempo todo.
Estava eu sem dizer que te relembro – como já te disse sem o ter feito ou desfeito – em cada canção lenta, nos guilty pleasures que me vou permitindo, sem nunca te ter conhecido mas estando agora de mão dada contigo – sem ser de bandeja, mas apertada. Num tempo que será ontem, num tempo que há-de ser e que já foi, agora mesmo e amanhã e aqui. E, por mais que queiramos, inexistentemente presente. Ou futuro. Ou apenas ali.
II
Pensei que te tinha e tu passaste a meu lado. Pensei que te esperava e o tempo nem tampouco apareceu.
Depois pensei que, aqui, estava à espera - mas (sabes?) quem esperava nem sequer era eu.
Hoje pensei escrever-te. Mas - entretanto e enquanto pensava - o tempo morreu.
Depois pensei que, aqui, estava à espera - mas (sabes?) quem esperava nem sequer era eu.
Hoje pensei escrever-te. Mas - entretanto e enquanto pensava - o tempo morreu.
III
(Nem sonhas o quanto te amo).
Etiquetas: sei lá o que é isto...
3 Commenários:
Como o Cem e o Sem da memória podem estar tão perto do tudo e do nada, do sempre e do nunca, do aqui connosco e/mas em lado nenhum! Tão unos e apartados, que ora segredam, ora gritam (dizem o quê? - não lembro já...).
"Houve tempos em que tu eras a soma de todos os meus desejos (...), ou serias a soma de todos os tempos com todos os momentos com todas as pessoas com todos os espaços com todos os tempos que vamos atravessando sem atravessar - porque o “todo” é tudo e único e nada mais. Ou, se calhar, apenas nada. Ou apenas nós".
... Este, um quadro lindo, que Van Gogh não saberia pintar! Para quê os girassóis, se foram luas (e luas...) que giraram; e entonteceram?!...
Hoje pensei escrever-te, mas não o fiz (queria não lhe por aspas, posso?).
... É que pensei que te tinha e tu passaste a meu lado!
E tudo isto é uma espécie de memória esquecida, esgazeada, adormecida, anestesiada de incertezas que já se fazem antigas (que dizem elas? - lembras-te tu?)
... Num tempo que será ontem, num tempo que há-de ser e que já foi, agora mesmo e amanhã e aqui.
No sem tempo [lento] de uma estória!...
Ou "sei lá o que é isto"! :-)
By APC, at 3 de outubro de 2007 às 02:22
"Num tempo que será ontem, num tempo que há-de ser e que já foi, agora mesmo e amanhã e aqui. E, por mais que queiramos, inexistentemente presente. Ou futuro. Ou apenas ali."
Este texto parece ser,não a soma de todos os desejos, mas a soma de todos os erros e de todos os medos. Olhássemos nós mais em frente e menos para trás, seríamos mais felizes. Quiséssemos nós fazer planos e ter esperança, esse elixir poderoso e perigoso, ao invés de derramar as lágrimas sobre o ocorrido e sobre o passado, seríamos mais completos.
Tivéssemos mais Tempo nas mãos, sei também que não olharíamos tanto para trás, não pensaríamos na areia que já vai mais que a meio no vidro da ampulheta.
Não cantássemos tanto a Saudade, o sofrer, a dor e o amor não pesariam tanto na poesia das nossas vidas. Mas não seríamos também, nós, portugueses.
By A, at 10 de outubro de 2007 às 12:47
IV
Nem sonhas o quanto me sinto sem te sentir!
Como é lógico este capítulo extra não é nosso, é apenas meu…imbuído num teu que de alguma forma desejava para mim!
Um beijo, vou desanuviar com os sarcasmos que se seguem:)
By Anónimo, at 12 de outubro de 2007 às 21:27
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