CUOTIDIANO

domingo, setembro 03, 2006

No 75º Aniversário do Elefante Babar (com os gentis patrocínios “Air France” e “Chocapic”)

No dia em que fez 75 anos (e que foi a semana passada), o elefante Babar, após uma reforçada e bem regada refeição com filhos, netos, restante família e amigos, pediu silêncio. Quando verificou que já todos estavam voltados para si, comunicou em tom firme:

- Vou até à selva! E não vale a pena virem com aquelas histórias todas da idade, da incontinência e da obsessão por “Chocapic”, que nada me irá demover. Nada. São as minhas auto-bodas de diamante e vou ver se encontro alguns dos meus antigos amigos e colegas das histórias infantis, que isto de viver aburguesadamente em Paris já cheira mal. A propósito, peidei-me.

De facto, não valia a pena. Estava mesmo decidido. Apanhou o primeiro avião da “Air France” com destino a um qualquer país africano e, algumas horas depois, já estava a entrar na selva com ar altivo. Mas mal ali chegou...

- Úi, chiça, piquei-me! Será que aqui não há varredores de rua eficazes? Mal chego espeto logo a minha pobre pata?
- Eh pá, tu, sim tu, ó gordo, tira-me mas é a pata de cima – disse o porco-espinho meio esborrachado que se tentava libertar do peso de Babar.
- Desculpa, não te vi. Sabes, é da idade, já sou um pouco míope – respondeu Babar, um pouco embaraçado.
- Deixa lá, não faz mal – disse o porco-espinho, saindo apressadamente debaixo da pata levantada do elefante.
- Já agora – perguntou Babar – não viste por aqui nenhum dos meus antigos colegas das histórias infantis?
- Teus colegas? Histórias infantis? Estás maluco, ou quê? Mas de que raio estás tu a falar?
- Bom, sabes, já foi há algum tempo e...

Estava Babar em longas explicações ao seu novo amigo quando, cortando abruptamente a conversa, se ouviu um enorme estrondo que fez estremecer a própria selva – era o Noddy, que tinha espatifado mais um carro amarelo contra uma árvore. Correram até lá, tendo deparado com um cenário de horror, já que para além do carro todo destruído, o Orelhas Grandes estava no lugar do morto, fazendo jus ao nome. O Noddy, por sua vez, saíra ileso do acidente e ria-se demorada e sadicamente, num tom que até arrepiou a impenetrável pele de Babar.

- Ouve lá, ó boneco, apesar da cara de puto o facto é que tens quase sessenta anos, já tens idade para ter juízo; não me digas que continuas a conduzir sem carta como quando fazias na infância?
- “Ó boneco?” - respondeu o Noddy – será que és um maricão a querer engatar-me? É que já não és o primeiro que tenta e...
- Não consegue? – completou Babar.
- Não. Que consegue – gritou histericamente Noddy, enquanto se atirava, em voo picado, para os braços do elefante. Azar. Ele não tinha braços, apenas patas dianteiras e não o conseguiu agarrar, tendo Noddy caído de cabeça, desamparado no chão, o que lhe provocou morte imediata.

Pouco depois anoitecia e o frio começava a apertar. Por isso, e com os restos mortais do Noddy, os dois novos amigos aproveitaram para fazer uma bela fogueira, tendo-se sentado junto dela, tagarelando e rindo-se da última história, “Noddy e o seu primeiro salto mortal”. “O gajo devia julgar que ia num avião amarelo!”, foi a piada mais elaborada que conseguiram fazer. Entretanto e enquanto saboreavam, sob a forma de gargalhadas, a morte de Noddy.

- Olá, rapazes, não me reconhecem?

... E não é que era o rato Mickey, aquele perverso tarado sexual, louco por ratas “mins” (e cervejas “mins” e croissants “mins”...), acabado de sair duma clínica de desintoxicação?

- Olha quem é ele, aquele nojento pervertido - na juventude, nada lhe escapava (é que marchava tudo!); desde o cão até a um pateta amigo dele, era tudo, “ganda” ratão que este gajo era. Então e agora, quase aos oitenta anos, já na terceira (ou até quarta...) idade, o que te traz aqui? - perguntou Babar, babando-se de espanto (grande trocadilho!).
- Olha, acabo de sair da clínica TMN e disseram-me que, após o tratamento, o melhor era fazer longos passeios com ar puro. E que melhor sítio poderia haver do que este?
- Vieste de uma clínica TMN?
- Sim, é para a desintoxicação de “Tarados da Masturbação Nasal”. Como o resto já não funcionava, passava o tempo todo a assoar-me, até cheguei a fazer um filme pornográfico, não sei se viste, o “Narina Funda”.
- Estranho... em França existem clínicas TMN mas é para “Tarados por Mensagens Necrófilas”, gajos que passam o tempo todo a mandar mensagens de telemóvel do tipo “dava-te uma trombada de morte” ou “tens uma tromba de morrer a rir” ou, até, “vou ao Iraque mas volto para jantar”.
- Ouve lá, tenho mas é a impressão que te descuidaste outra vez. É que eu preciso de ar puro, que é o que aqui havia antes de teres chegado, meu elefante peidófilo. Sim, porque toda a gente sabe que és um peidófilo, escusas de disfarçar.
- Não sou não, tenho apenas um ligeiro problema de incontinência gasosa.
- Eh pá, isso são maneirismos de médicos franceses com queda para a mariquice. És um peidófilo e pronto.

Babar começava a ficar irritado. Ainda não havia comido “Chocapic”, tinha fome, o raio do drogado que não se calava, tinha frio, já só havia um braço e um pé do Noddy para atirar para a fogueira e o sacana do rato a dar-lhe com a peidofilia. Tomou uma decisão.

Já ardia o Mickey na fogueira, agora de novo viçosa e de labaredas de múltiplas cores, quando Babar perguntou ao porco-espinho:

- Ouve lá, onde é que há aqui uma “Loja de Conveniência”, ou um “Mini-Preço” ? É que estou cá com uma “traça”!
- “Loja de Conveniência”? “Mini-Preço”? Na selva? Ó meu amigo, isto aqui é o salve-se quem puder. Queres comer? Desenrasca-te! - respondeu o porco-espinho.
- Olha que chatice, lá em França era bem mais fácil do que isto. Como é que agora me vou salvar?

De repente... Plim! Do nada surge Tintin, o repórter, com Milou, seu jovial cão em cadeira-de-rodas e “Alzheimer”, nos seus lindos 77 anos de idade.

- Precisam de ajuda?
- Tu, aqui? - perguntou Babar, embasbacado (outro belo trocadilho!).
- Estou acampado ali ao fundo, com a restante equipa; sou o actor principal de um anúncio de bengalas electrónicas com purificador de ar incorporado (e que, adicionalmente, se forem engolidas com muita água, são boas para a diarreia) – sabes como é, tenho que fazer pela vida, já não há mundos submarinos para explorar, já foram à lua e mais longe ainda, já caiu o império soviético... ia fazer o quê? Ainda queriam mandar-me para o Afeganistão, mas com esta idade... olha, optei pela carreira comercial.
- Ouve lá, já que estás aí acampado, não me arranjas qualquer coisa para comer? É que estou completamente esfomeado!
- Ah, ah, ah. Deves estar mas é a gozar. Um balofo como tu a pedir comida a um lingrinhas como eu? Deves, deves...
- Bom, desculpa lá, eu não me quero chatear contigo. Se não te importas, se faz favor, vais até ao teu acampamento e trazes-me qualquer coisa para comer, está bem?
- Ah, ah, ah. Deves estar mas é a gozar. Um balofo como tu a pedir comida a um lingrinhas como eu? Deves, deves...
- Mas o que é que te aconteceu, dizes sempre o mesmo? Estás riscado ou quê?
- Ah, ah, ah. Deves estar mas é a gozar. Um balofo como tu a pedir comida a um lingrinhas como eu? Deves, deves...

Era demais. Poucos segundos depois, Tintin já estava na fogueira e Milou a grelhar, no que seria um belo prato de entrecosto.

Finda a refeição e já com a manhã a clarear, Babar palitou os dentes com o que restava do seu amigo porco-espinho, que havia marchado como sobremesa. Peidou-se, acordando toda a selva, levantou-se e regressou ao aeroporto onde, após esperar dois dias devido à greve, que havia em Paris, dos lavadores de espelhos de casas-de-banho (indispensáveis para uma segura aterragem de qualquer avião), lá arrancou de volta a casa em mais um voo da “Air France”, essa bela companhia, onde até servem “Chocapic” às refeições.

Chegado a Orly, um taxista argelino não o quis transportar sem pagar taxa de excesso de cheiro. Babar, claro, recusou-se, tendo seguido a pé para casa, praguejando contra a selva em que Paris se havia tornado durante a sua ausência.

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