CUOTIDIANO

quinta-feira, setembro 14, 2006

“Pais de cartão ‘substituem’ militares dos EUA em missões no Iraque e Afganistão”




“O programa começou no Maine e visa ajudar as famílias a ultrapassar as longas ausências dos soldados que servem no estrangeiro”, in “Publico” de 13/09/2006


À primeira vista, este programa parece algo insólito (apesar de, dos EUA, já nada ser de estranhar!); no entanto... um psicólogo clínico contactado pelo “Cuotidiano”, o Dr. Paulo Ito (ainda parente afastado do Sigesmundo), esclareceu que tal medida poderá ser, inclusive, muito vantajosa para as crianças e, mesmo as que não têm pais na guerra, deveriam também adoptar o seu “pai de cartão” ou “cartopai”, em linguagem mais técnica. Esclarece Paulo Ito:

“Numa primeira fase, ou seja, até que as crianças se apercebam que não é o pai real (o que demorará, pelas minhas contas, entre seis meses, na Papua Nova Guiné e três anos nos EUA), verificar-se-á uma enorme melhoria no ambiente familiar já que, entre outros:

- O acompanhamento paterno é muito superior pois, por exemplo, quando as crianças vão à aula de dança... lá vi o ‘cartopai’ com elas; vão à natação... cada vez que olham para a bancada lá está o “cartopai” embevecido, e assim sucessivamente;
- Existirá uma efectiva diminuição da taxa de violência familiar, já que o ‘cartopai’ não necessita de ocupar a casa-de-banho durante horas (não faz a barba, não faz cócó...), o que conduz normalmente a grandes discussões e, mais ainda do que isso, será extremamente dificil o ‘cartopai’ ingerir bebidas alcoólicas sem se desfazer todo, o que diminuirá o número de insultos e espancamentos;
- Os putos deixarão de ouvir ‘não!’ cada vez que queiram ir ao cinema às três da manhã com os seus amigos ‘dealers’ de coca;
- Haverá uma enorme poupança em bebidas e alimentação, o que permitirá um aumento do orçamento familiar, libertando dinheiro para todas as actividades familiares (passeios ao campo, lançamento de anões, aulas de canto gregoriano incluindo vómito...) e, não esqueçamos, sempre com acompanhamento paterno!

Numa segunda fase, ou seja, quando as crianças se apercebem que não é o pai real - e contrariamente ao que os leigos possam pensar - tal também poderá ser vantajoso, nomeadamente porque assim elas aprendem mais cedo a tratar do abandono a que irão ser vetadas quando o pai sair de casa com o divórcio, já que passaram pelo estado intermédio ausente/presente, estado esse que nós, técnicos especializados, chamamos de (e peço desculpa pelo jargão técnico). ’estado intermédio ausente/presente’.

Numa terceira fase, aquando do regresso do pai da guerra, aí sim, poderão começar a surgir alguns problemas, consequência do que poderemos chamar de ‘transfer afectivo-cartonal’, ou seja, e traduzindo para linguagem mais simples e acessível, ‘merda da grossa’. No entanto, não se preocupem, nessa altura cá estaremos nós, psicólogos clínicos, para ajudar.

Já agora, queria apenas referir que, na minha clínica, inaugurámos o pioneiro programa ‘Psicólogo de cartão’, à base de cenouras e de – e aqui a novidade – um psicólogo de cartão, que é tão inóquo quanto o real mas mais fácil de transportar, permitindo que o paciente se possa sentir também acompanhado em casa. Finalmente, para o seu cão temos o programa ‘Liberte o Freud que há em si’ (que traz como oferta uns óculos redondos de plástico para dar um ar profissional), o que permitirá que, em menos de dez sessões, o seu cão se possa divertir connosco, também fingindo que o trata. Ah, e também vendemos limpa-vidros para automóveis.”


Só me resta perguntar - sr. Ministro da Saúde,: esqueça os hospitais, esqueça os centros de saúde, observe e aprenda com o que há de mais evoluído e moderno no mundo e diga-nos: para quando em Portugal, para quando???

3 Commenários:

  • Nasceste para escrever humor, Cuotidiano. Escreves bem de um modo geral, mas gosto particularmente dos teus textos "ridendo castigat mores".

    Mas olha que, em certos casos, não se perdia nada se se pais de carne e osso fossem substituídos por pais de cartão canelado...

    By Blogger Patrícia, at 14 de setembro de 2006 às 19:44  

  • Já estou a imaginar o bloguista de cartão... e, já agora, os comentadores de cartão...talvez quiçá um pouco silenciosos demais...

    By Blogger redonda, at 14 de setembro de 2006 às 20:07  

  • Entrei para te deixar um abraço e não pude deixar de atentar no último pedacinho do comentário da Patrícia. É... Sem dúvida!;-)
    Este fds ainda cá tou, e decidi "aromatizar" as camuflagens. Também as tuas "fragrâncias" serão bem vindas (saberá dizê-las, um homem do humor?;-)
    Desejo-te um excelente cuotidiano durante a minha próxima semana de ausência.
    & "até já"!:-)

    By Blogger APC, at 17 de setembro de 2006 às 04:11  

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