Quando se viram (pela primeira e última vez)
Quando ela o viu pela primeira vez, sorriu.
Quando ele a viu, sentiu. Pela primeira vez, outra vez.
Os barcos (a entrar, a sair das entranhas da terra?) passavam, vindos e idos do mar, o Sol nascia (ou punha-se, ou ressuscitava?) criando o horizonte nas algas, a brisa ia (ou vinha, ou existia apenas?) pestanejando os olhares, o calor da manhã impunha-se lentamente, como o corpo dela - feito de ar quente e de palavras e imagens e desejos, desfeito e desprovido de tempo e preconceitos e tempo outra vez e modos verbais e adjectivos, feito, outra vez também, dos cheiros, das pausas, dos sonhos, das essências, da vida, das essências de vida. Melhor – o corpo dela era feito, excelsamente, de Vida.
Falaram de tudo – de nada mais que nada e pouco menos que tudo - sentiram o cheiro, o sabor da manhã que passava, dos pescadores que morriam dia a dia de vivos, da areia que não sujava porque aquecia e inundava a catarse do momento, do momento feito mar, feito sujo mas feito puro, de tudo ao contrário até que a manhã não chegasse, que o tempo nem sequer aconchegasse, que o desejo não partisse e não bastasse, que as palavras também não servissem para nada, que tudo não fosse mais que aquele momento, aquele desejo, aquela fonte, aquela fome, aqueles corpos, aquele suor e aquele desejo outra vez, pela primeira, pela última vez, até que o beijo que deram, sem dar por isso, não fosse mais que a vertigem da sede.
Não se casaram, não tiveram filhos e não foram felizes - a Vida impôs-se e, tanto ou tão pouco tempo depois, tudo morreu como nasceu - como um sorriso, com um sorriso.
(Como queres que diga que te amo, sem ser com lágrimas?)
Quando ele a viu, sentiu. Pela primeira vez, outra vez.
Os barcos (a entrar, a sair das entranhas da terra?) passavam, vindos e idos do mar, o Sol nascia (ou punha-se, ou ressuscitava?) criando o horizonte nas algas, a brisa ia (ou vinha, ou existia apenas?) pestanejando os olhares, o calor da manhã impunha-se lentamente, como o corpo dela - feito de ar quente e de palavras e imagens e desejos, desfeito e desprovido de tempo e preconceitos e tempo outra vez e modos verbais e adjectivos, feito, outra vez também, dos cheiros, das pausas, dos sonhos, das essências, da vida, das essências de vida. Melhor – o corpo dela era feito, excelsamente, de Vida.
Falaram de tudo – de nada mais que nada e pouco menos que tudo - sentiram o cheiro, o sabor da manhã que passava, dos pescadores que morriam dia a dia de vivos, da areia que não sujava porque aquecia e inundava a catarse do momento, do momento feito mar, feito sujo mas feito puro, de tudo ao contrário até que a manhã não chegasse, que o tempo nem sequer aconchegasse, que o desejo não partisse e não bastasse, que as palavras também não servissem para nada, que tudo não fosse mais que aquele momento, aquele desejo, aquela fonte, aquela fome, aqueles corpos, aquele suor e aquele desejo outra vez, pela primeira, pela última vez, até que o beijo que deram, sem dar por isso, não fosse mais que a vertigem da sede.
Não se casaram, não tiveram filhos e não foram felizes - a Vida impôs-se e, tanto ou tão pouco tempo depois, tudo morreu como nasceu - como um sorriso, com um sorriso.
(Como queres que diga que te amo, sem ser com lágrimas?)
4 Commenários:
lindo.
By Patrícia, at 3 de setembro de 2006 às 22:05
Eu prefiro finais felizes...
By redonda, at 4 de setembro de 2006 às 02:42
é
quando assim é ... é imenso de facto.
muito sentido.
By inBluesY, at 4 de setembro de 2006 às 20:01
"Quando ela o viu tremeu...
As coisas que nunca poderemos assegurar em dias noites em que nem sequer a Lua surge para nos dar uma Luz apaziguadora e em que o Sol não sai porque o escuro lá dentro é muito maior. Infinito.
Barcos que entram, barcos que saem das entranhas de nós, do que queremos pensamos e sentimos.
Barcos de destino incerto porque o mapa cuja rota está perdida é muito maior e a viagem mais penosa.
Pessoas como viagens como mundos assim não se esquecem, momentos ficam registados e tudo parece uma alvorada demasiado tardia, como nos dias em que acordamos nas horas erradas, em que nascemos em anos errados e de repente todo o mundo está ao contrário.
O turbilhão, a incerteza amarga e a queda livre dum trapézio sem rede nunca garantem uma recuperação rápida.
A recuperação leva anos,talvez toda uma vida. Nunca o saberemos. Talvez como a Morte da qual pouco mais conhecemos a não ser o caminho chamado Vida, mas não sabemos nunca o mistério da transgressão operada para lá da mesma. Apenas o trajecto, o caminho que percorremos agora e até lá chegar.
O fim nunca está à vista, por isso é tão difícil definir o fim do que quer que seja. Até do próprio Amor.
Sem lágrimas dizer Amo-te custa muito mais. Porque secaram e ninguém sabe o fim nem a certeza da queda."
By A, at 6 de setembro de 2006 às 02:54
Enviar um comentário
<< Home