CUOTIDIANO

sexta-feira, junho 22, 2012

Banzão (para o MEC, que nunca me lerá)


Eu sei que morres a cada instante em que a vês morrer. E finges que nada acontece, e finges que amanhã tudo estará melhor - pela simples razão que acreditas, mesmo não acreditando. Mas sabes que isso lhe fará bem – e todos sabemos como o lado psicológico é benéfico, talvez às vezes fodido - como o Amor. Normalmente benéfico. Como o Amor.

Sei que, com ela – a Amada -, percorres os dias, as noites, os restaurantes, as douradas grelhadas, como se fossem as primeiras, apesar de suspirares e rezares sem rezas algumas para que não sejam as últimas. Sei que sabes que a amas como se fora – e será por certo – a última. Também sei que não há nada como o último Amor, o único, o único sem talvez, sem dúvidas, sem nada que atrapalhe, sem ser a puta da Senhora Morte. Mas – sim, talvez assim seja – talvez só assim saibamos o que é o Amor.

(Estranha forma de aprender, não é?)

Se calhar Amor é só passearmos de mão dada no perímetro do vulcão, saber que, de tão perto, nos irá escorregar a mão da Amada - mas sabendo que, com ela, conseguimos sentir o calor do limite, o calor limite, o calor, o limite. Ou ela. Ela. Sentimo-la.



Depois vêm os tempos do fim, sentimo-lo. O último peixe grelhado no Neptuno (que não sabemos ou fingimos não saber que será o último), os primeiros alperces (que não sabemos se não serão os últimos), o último beijo (que sabemos que será o primeiro). Depois o último grito de nós, sendo que quem amamos nos deixará sem que possamos fazer nada - a não ser morrer, numa estranha solidariedade interior a que os químicos chamam osmose e a que os mortais chamam “Foda-se!”

Sei que nunca amarei ninguém como tu a amas, sei que ela sabe que o expões para que te doa menos (como se isso fora possível…), ao espalhares as dores por nós, mortais. Mas sabes? Trocava a minha vida pelo vosso Amor, por segundos que fosse. Por isso, aproveitem tudo, até ao último instante dourado, até que a vida não vos troque os alperces, até que a mão dela não consiga apertar a tua. Até que o Amor se adie para o reencontro das almas. Na total e completa felicidade. Sabes? Aquela coisa em forma de assim.



Eterna.


sábado, junho 16, 2012

Ecos da tequilla


Saídos do Mexicano, na beira luz espelhada do Tejo, sentámo-nos na areia, apertámos as mãos e nada dissemos. Esperámos. O quê não sei. Mais margaridas? Talvez. Ou talvez e apenas as quiséssemos, já que eram elas que, na altura, nos floreavam as palavras, enquanto nos íamos querendo mais e mais e mais ainda, enquanto apenas as palavras nos afastavam dos recíprocos corpos, reciprocamente desejosos, sedentamente tequillados. Apenas sei que esperei por ti, que esperaste por mim, que nos esperámos no combro da saudade, por entre as tequilas feitas de madrugada.


Até que, hoje, nos reencontrámos aqui. No ponto certo, no momento certo, à beira rio, à beira nós, de novo à beira luz que sempre espalhaste. Olhámos o Tejo. De novo. De novo de mãos dadas. Paciente e vagarosamente. Em sabores.


Quando a tequila tomou conta do momento, calámo-nos. Então, e sem darmos por nada - nem por nós -, a cada beijo bebemo-nos, a cada abraço embriagámo-nos de corpos, e depois e depois e depois, a cada golo de ti eu achei que não morreria nunca, que aquele momento era o perfeito amuleto contra a morte, que aquele perfeito instante era o momento em que a vida se embriagava de morte, renegando-a para sempre. E sobrávamos nós e nós e nós. E para sempre nos eternizaríamos, nem que fosse apenas nos imaculados reflexos do luar no Tejo.





No dia seguinte fui à Loja de Conveniência e comprei uma garrafa de tequila. Cheguei a casa, dei um golo. Soube-me mal. Faltavas-me, talvez.


(Confesso, aliás, que depois de tudo o que passámos a vida me sabe mal.)


Mas será que?...




(Faltas-me)