CUOTIDIANO

quinta-feira, maio 31, 2007

Bimboa


- Todas as minhas amigas têm e eu não; porque carga de água é que me fazes isto?

Todos os dias, todo o santo dia a mesma conversa. Alfredo já amaldiçoava a hora em que tinha comprado, para a sua querida Maria do Carmo, dona de casa extremosa e mulher tipo esposa mas sem bigode (ou, pelo menos, não retorcido), uma televisão para a cozinha. “Desde que lhe comprei aquela porcaria que não me fala noutra coisa; são aqueles malditos anúncios dos programas da tarde! Rais parta!”, praguejava.

- Sim, a nova Bimboa, amiga do ambiente e multi-funções ocasionais. Se todas as minhas amigas têm, porque é que eu não posso ter? Achas que eu não valho nada e elas são bestiais, é isso? Serei assim tão inferior a elas? Hã?? Vá, diz lá, sê homem, diz!

“Porra”, pensou Alfredo, “acho que vou ter de abrir os cordões à bolsa, ‘tou feito!”

Era verdade – quando uma mulher teima não há hipótese. Ou então não há hipótese de sexo. O que é pior. Assim, e bem vistas as coisas, mais valia comprar a porcaria da Bimboa. Assim foi.

- Pronto, aqui tens o que tanto sonhaste – disse Alfredo, na ilusão de voltar a ter vida sexual, enquanto desembrulhava o novo membro da família, quem sabe se não o mais importante.

- Obrigada, querido – disse Maria do Carmo, entrecortando a frase com um ternurento beijo de hálito cebolante, por sinal borrifando completamente na ilusão de Alfredo que, claro, esbarraria, como habitualmente, numa cirúrgica dor de cabeça.

A Bimboa instalou-se.


(Mais tarde, às tantas da madrugada).

– Estou, Sofia, desculpa acordar-te a esta hora, mas diz-me só uma coisa: para que é que serve a Bimboa? – perguntou Maria do Carmo, sussurrando ao telefone. – O quê, não sabes? ‘Tou lixada!

Não estava. À mesma hora mas via telemóvel, Alfredo telefonava a Miguel, seu velho amigo de patuscadas, perguntando:

- Desculpa lá, lembrei-me agora nem sei porquê: mas para que raio serve aquele monitor 3D que eu comprei caríssimo para pôr na caixa do carro?

Do outro lado da linha, silêncio.


Do outro lado do Atlântico, lucro a dobrar.

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sábado, maio 26, 2007

Adeus

Quando o frio desceu sobre a cidade, eu soube que me havias esquecido. Eras nuvem, eras gelo, eras a voz do vento que me esfriava. Eras tu sem ser tu. Mas eras tu quem ali estava. E doía.

Depois lembrei o medo que havia tomado conta do que éramos, do quanto eu estava vazio. E - então sim - foi fácil dizer adeus, porque era o sangue que doía em teu nome, porque eras tu sem ser tu quem partia. Mas eras tu quem ali estava. E doía.

Não ficaram móveis ou cortinas, nem mãos ou fotografias – apenas palavras, expressões, desejos, sentimentos avulso, um copo de medronho e uma voz de uma vez inteira. Apenas tu e mais nada. Apenas tu. Como um nada.

Disseste que eu estava esgotado, que não mais mudaria. E era verdade. A mesma verdade que, até hoje, te havia atraído. Com piadas parvas, ideias parvas e uma sinceridade parva que te atraíra. Mas agora, não. Eras só o vento, a voz sem voz da vez última de estarmos. Eras a dor que ali estava. Como tudo o que me matava.


Como eu não mudava, partiste. Hoje que lembro, acho que fizeste bem.

Por azar, dóis.

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quinta-feira, maio 24, 2007

Dei-me

Dei-te tudo o que tinha
E não tinha
Amei-te como sei amar
E não sei
Dei-te a vida que era minha
Sem o ser
Dei-me todo sem saber
O que dei

Dei-te a chuva e até as fontes
Sem água
Dei-te o tempo que era meu
Sem hesitar
Dei-te o corpo e a alma
Sem me doer
Enquanto a dor me matava
Sem avisar

Dei-te as noites que quisemos
Sem amanhãs
Dei-te luares que escorriam
Sem madrugada
Dei-te as brisas onde voámos
Sem ter destino
Perdi-me, ao dar-te tudo
Sem te dar nada

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quinta-feira, maio 17, 2007

Lendo o "Público" (16/5/2007) - “Bebé de dez meses obtém licença de porte de arma nos Estados Unidos”

“Aos dez meses de idade, Howard David Ludwig ainda não fala, não come sozinho e não anda, mas as autoridades do estado norte-americano do Illinois consideram que ele já é suficientemente crescido para ter licença de porte de arma. O documento mostra a fotografia da criança e um rabisco infantil no lugar da assinatura e atesta as suas medidas: 67 centímetros de altura e nove quilos de peso.

A ideia partiu do pai de ‘Bubba’ (como é tratado em família), Howard Ludwig, que preencheu a requisição através da Internet e pagou cinco dólares. A emissão deste documento é da responsabilidade da Polícia Estadual do Illinois, cujo porta-voz disse que não foi estipulado qualquer limite mínimo de idade para a requisição do documento.

Apesar de ter obtido o cartão que o autoriza a disparar uma arma de fogo, o pequeno "Bubba" terá que esperar até aos 18 anos para poder comprar uma caçadeira e até aos 21 para comprar um revólver.

Mas esta imposição não será um problema para o pequeno atirador de fraldas — o seu avô já lhe ofereceu uma Beretta, que terá autorização legal para experimentar mal tenha forças para lhe pegar.”


No entanto, apesar de já ser considerado suficientemente responsável para dar tiros, o pobre coitado ainda vai ter de esperar mais de 15 anos para que possa conduzir e para cima de 20 para beber uma cerveja sem se arriscar a ser preso – e depois não querem que as crianças fiquem traumatizadas e se comecem a matar umas às outras nas escolas... francamente!

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terça-feira, maio 15, 2007

A última comunicação

Daqui Titanic. Fala o comandante, todo nu abraçado a um marinheiro negro que não sei quem é mas também não interessa. A chatice é que estou com frio. Para que conste, ele diz que me admira como homem, como comandante e como gajo de fato azul. Ah, e também como gordo. Como tartaruga é que não. Está quieto, Lasagna! (é o nome do sacana do preto, sussurrou-me ele há pouco ao ouvido).

Bom, mas o que mais me irrita são aqueles pinguins parvos que se estão a rir à brava, por cima dos icebergues, aos gritos “cegueta, cegueta!”. Olha, um deles lixou-se – foi papado por uma morsa. Bem feito! Então – dizia eu - mas os barquitos, é para hoje? Está quieto, Lasagna! Que chatice, não vês que estou a falar no rádio para ver se nos salvo?

- Tu pinguim, Lasagna morsa

disse o negro, num sorriso de piano.


A chamada caiu.

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domingo, maio 13, 2007

Lisboa – o beco sem saída que julga que ainda é uma avenida (yô!)

Algumas reflexões, provavelmente parvas, que vos deixo.

Os independentes

Os partidos, sabendo do desgaste e descrédito da maioria dos políticos (chamemos-lhe) profissionais, normalmente arranjam uns quantos políticos amadores, de perfil mais técnico – aos quais chamam de “independentes” – e põe-nos nas listas eleitorais, dando um ar de algum desprendimento pelo poder e, até, um certo toque esquizofrénico de afastamento de si mesmos. Ora, algum tempo depois, já após a eleição, normalmente surgem os problemas, ou seja: Ou a coisa corre bem e a cria tenta enxotar o criador dizendo que a obra é dela e que já não precisa de mentor nenhum; ou a coisa corre mal e o criador tenta enxotar a cria tendo, aí, que engolir que a sua obra (no caso, a cria) falhou, ao autonomizar-se, disfarçando esse sapo atirando sapos à cara dos outros. Em qualquer dos casos, o facto permanece - o líder político lixou-se. Assim, a única solução é criar os independentes “ma non troppo”, aqueles que, no fim do mandato, é garantido que se inscrevem no partido, tendo já em vista as benesses e a evolução numa carreira política que começou, precisamente, porque se apresentou ao eleitorado com o trunfo de não querer fazer carreira política. Mas uma verdade permanece – os “independentes” concorrem (quase) sempre pelos partidos, pois sabem que listas verdadeiramente independentes perdem, apesar da tal má imagem dos partidos perante os eleitores. Curioso, não é?

As intercalares

A câmara de Lisboa caiu não porque o seu “top-3” - curiosamente, todos “independentes” pelo PSD, sendo que, para além do presidente, eram os responsáveis pelas Finanças e pelo Urbanismo - fosse constituído arguido num gravíssimo caso de corrupção (o famigerado “Bragaparques”) mas sim porque, na verdade, a câmara está submersa num caos total – tem dívidas de milhões, não paga a fornecedores, há serviços, funcionários e acessores a mais, falta dinheiro para ordenados (e, até, para papel higiénico...), não tem crédito bancário, está paralisada pela burocracia e pelas competências sobrepostas; enfim, as consequências de sucessivas gestões desastrosas, praticadas nos últimos anos por um conjunto de condes falidos - sem dinheiro, sequer, para pagar ao mordomo mas continuando a exigir que ele lhes calce as meias já rotas.

O logro da “devolução da palavra ao povo” (Parte I)

Quando empurrou Carmona pela borda fora de um navio há muito encalhado, esperando (ó vã ilusão!) que ele se estilhaçasse nas rochas sem espernear, Marques Mendes disse o que lhe ficava bem dizer, ou seja, que a sua avaliação política (e não judiciária, apesar de esta última lhe ter dado muito jeitinho...) era de que havia chegado a hora de devolver a “palavra ao povo”, sendo que não era fácil a um partido político que está no poder fazê-lo (o que também me parece um belo conceito democrático...). Bom, mas isto é só meia verdade. O que ele não disse foi que a Assembleia Municipal, de maioria absoluta PSD, não se demitia, pelo que estas eleições são um verdadeiro “presente envenenado” – com a maioria na Assembleia, não “passa” nada que o PSD não queira que passe; ou seja, quem quer que ganhe a Câmara ou continua paralisado ou, em alternativa, terá que “engolir” o que o PSD quiser. Por outras palavras, após as eleições o poder social-democrata, provavelmente, até será maior do que actualmente é, pois, na Assembleia, não mandam os “independentes” mas sim os filiados, comandados pela fiel e acelerada loura de pacote, Paula Teixeira da Cruz.

O logro da “devolução da palavra ao povo” (Parte II)

Outro aspecto do qual não nos podemos esquecer é o de que, nestas eleições, previsivelmente haverá um elevado número de candidatos, provavelmente um valor recorde - o que, aliás, só vem demonstrar a propensão lisboeta para o masoquismo, o fado e a desgraça. Senão vejamos:

BE – “Usará” o “independente” Sá Fernandes, já que é o seu único processo de obter um mandato.
PCP – Recusará qualquer acordo com o PS, já que não se pode, sem correr o risco de perder a credibilidade, aos dias ímpares estar contra a política Sócrates e, aos pares, estar coligado com pessoas da sua máxima confiança. Assim, e mais uma vez, lá irá Ruben de Carvalho desempenhar o seu papel.
PS – Sócrates irá (terá de) apostar em grande na capital, depois do “flop” Carrilho (apesar dessa derrota ter tido o positivíssimo aspecto de nos livrar a todos, definitivamente, desse pavão depenado). Digo “terá” não só porque as únicas eleições que ganhou foram aquelas em que obteve a “sua” maioria absoluta, como também porque sabe que uma derrota do PSD encolherá, ainda mais, o já diminuto Marques Mendes. No entanto, e sobre o nome do qual se tem falado, estranho que António Costa se sujeite a entrar num jogo em que não há nada a ganhar (mesmo que vença as eleições, a câmara estará mais ingovernável que nunca, pelas razões que atrás referi e pelas que adiante apontarei), tendo de sair do Governo, provocando uma remodelação numa altura-chave, não só de reformas de fundo do próprio Estado como na véspera de uma presidência europeia.
PSD – Por razões semelhantes ao PS, também apostará em força na capital, tanto mais que “joga com rede” – a Assembleia Municipal.
CDS - Por forma a marcar a diferença e a afastar-se das últimas “gestões danosas” da Câmara, também apresentará um candidato próprio, alguém da absoluta confiança de Portas - tão absoluta, tão absoluta que, se calhar, só poderá ser ele mesmo...
Helena Roseta – Ao ver-se, nos últimos tempos, encostada a um canto no PS e por forma a não dar o outro canto, o do cisne - tanto mais que, diga-se em abono da verdade, não o merece, pois é alguém reconhecidamente inteligente, culta e competente – a nossa “Manuel Alegre sem barba” é garantido que concorrerá, dispersando, ainda mais, os votos da esquerda, mas tentando capitalizar a votação e a “independência” nas presidenciais do “Helena Roseta sem saias”, Manuel Alegre.
Carmona Rodrigues – Ainda é incerto que concorra mas não é uma hipótese a pôr de parte, tanto mais que se sente injustiçado, com um trabalho(?) a meio caminho e a gloriosa vantagem de poder fazer um discurso de vitimização, ainda por cima contra os partidos.
Outras coisas - Pinto-Coelho, Manuel Monteiro... no comments.

Como é fácil de imaginar, esta previsível proliferação de candidatos conduzirá a uma tal dispersão de mandatos que a Câmara ficará ainda mais ingovernável do que já agora é. Ou seja, estas eleições, que teoricamente surgem para tornar a câmara funcional, irão colocá-la numa situação ainda pior. Mais uma vez, curioso, não?

E agora?

Na minha opinião, a única solução é uma que não é legalmente possível – cairia, também, a Assembleia Municipal e seria nomeado um “governo de salvação municipal” para os próximos dois anos, com pessoas reconhecidamente competentes que não poderiam concorrer às eleições seguintes, sendo escolhidas por maioria de 2/3 de votos dos partidos proporcionalmente representados na actual vereação. Ao ser apoiada por uma alargada maioria política, estaria mais imune a críticas e tricas partidárias e só responderia perante, por exemplo, a Assembleia da República, que fiscalizaria a sua acção. As suas principais funções seriam pôr as contas em ordem e reformar a câmara, não tendo qualquer objectivo eleitoral que não fosse preparar as eleições seguintes em clima de total isenção, tanto mais que a elas não poderiam concorrer.

Como atrás disse, tal é impossível. Assim, e como infelizmente se verá, nós, os lisboetas, continuaremos a ser os mordomos não pagos dos condes falidos e esquizofrénicos que nos (des)governam, sem conseguir sair deste beco sem saída - a que ainda chamamos avenida (yô!).

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terça-feira, maio 08, 2007

Prémio “coisa não-pensante” ou, em estrangeiro, “non-thinking blog award”


Desde há uns tempos a esta parte, algumas pessoas (demais, já que foram mais que zero) enganaram-se e resolveram chancelar esta coisa como pensante. Nada de mais errado. À semelhança de seu amo e senhor, este blog não pensa. E, mais fantástico ainda, este blog nem sequer consegue fazer sapateado lateral, algo que me parece perfeitamente indispensável para que se mereça mínimo reconhecimento. Sublinhando: este blog é, à semelhança do seu Querido Líder, apenas e só uma coisa. Ou, se se quiser aprofundar um pouco mais, uma coisa má.

Enquadrando historicamente: este blog apareceu, apenas e só, porque eu, o seu Sumo Pontífice, tinha uma louca inveja do Jardim – sim, o Fidel da Madeira, ao qual já só faltam 35% de votos para igualar o seu Inspirador em Coma. Ou o Rei da Coreia. Ou assim. Por outras palavras: criando um blog, haveria como que um órgão de desinformação e um consequente universo que eu dominaria completamente, podendo escrever as coisas mais absurdas que me passassem pela cabeça (ou pelo estômago, ou pelo pâncreas, ou...), sem quaisquer consequências legais ou de saúde (*).

Como já se percebeu, foi apenas por uma razão estúpida e não-pensante que esta coisa surgiu, criada por esta outra coisa a que poderemos chamar (novamente em estrangeiro, para dar um ar culto tipo whatever), Master of This Universe. E, em completa sintonia com o seu trágico nascimento, continua a ser algo razoavelmente estúpido e irracionalmente parvo. (Sim, também falo de mim e do cavalo do Zorro).

Por tudo isto e porque sim também, resolvi atribuir a mim mesmo e a este blog o magnífico e personalizado prémio “coisa não-pensante” que, pleno de esperança de que salvem as baleias e os palitos de cozinha da extinção - e também (porque não?) com o peito cheio de orgulho e de dois pulmões extremamente giros – resolvi não aceitar, pela simples e modesta razão que acho que há quem pense ainda menos que eu. Que seja do meu conhecimento, pelo menos três cadáveres. Acho.

Bom, mas antes de me ir embora, manda a verdade que vos diga que o que mais me irrita é que os blogs não tenham pernas. Não sei porquê mas irrita-me.

Boa noite.


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(*) Sim, de saúde, leram bem. Não me digam que já ouviram alguém dizer algo como “Eh pá, hoje escrevi uma frase tão, mas tão profunda que até fiquei com uma perfuração de intestinos”?! Bom, agora que perceberam o conceito, voltem lá para cima, faxavor.

sábado, maio 05, 2007

Celebração

Pediram uma garrafa do melhor champanhe, umas deliciosas entradas. Olharam-se como da primeira sede. Tudo estava perfeito. Entrelaçaram as mãos, esboçaram graçolas, trocaram de copos, trocaram risadas.

Celebravam o seu próprio divórcio, decretado nesse mesmo dia por um juiz que tinha por companhia um canário numa gaiola – condenado, portanto, a prisão perpétua. Lembraram o convicto padre, uns anos atrás

- Prometem amar-se, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, até que a Morte vos separe?

e riram às gargalhadas. Estavam bem vivos e continuavam a amar-se, sentiam que se amariam para sempre - e a eternidade era ali, naquele momento -, pois amar é um estado de alma, não um estado civil.

Depois de jantar, perderam-se pela noite, pelas luzes, pelos sons, pelas calçadas, pelas danças dos corpos e das almas, pelos beijos; perderam-se um pelo outro, só se achando depois de trocarem, sem quaisquer promessas, mais uma e outra vez de corpos - as verdadeiras e únicas alianças.

O juiz há muito dormia, feliz por outro dia de dever cumprido.

O Amor, esse, continuava livre, ainda a dançar - algures por ali, pelo tecto, pelos ares, ou apenas pelo sangue de todos os Amantes que resistem.

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terça-feira, maio 01, 2007

5 minutos (ou Variâncias avariadas)

Quando ele chegou ao pé dela e lhe disse

- A estimação da autocovariância de campos vectoriais aleatórios isotrópicos dedica-se à generalização multidimensional dos conceitos da geoestatística: campos vectoriais aleatórios, funções matriciais de covariância, variogramas multidimensionais ou multivariogramas; presta, também, especial atenção à propriedade da isotropia e às funções matriciais de autocovariância, podendo introduzir-se o conceito de pseudovariograma, como substituto do variograma, na análise espacial

ela caiu-lhe nos braços, apaixonada. Por azar, 5 minutos antes, ele tinha dito exactamente a mesma frase a um seu amigo, que lhe respondera entre imperiais:

- Eh pá, tu queres é que eu te vá ao Napoleão!

Como ainda faltava uma hora para o jogo do Benfica e não tinha nada de especial para fazer entretanto, resolveu aceitar. No fim agradeceu, por tanto lhe terem agradado aqueles breves e inesperados momentos.

Adiante. Voltando, outra vez, para os 5 minutos seguintes do tempo – ficámos, assim, a saber a razão pela qual a paixão dela por ele não foi mais que tempo inutilmente gasto. E que poderia ter sido muito melhor aproveitado estudando a estimação da autocovariância de campos vectoriais aleatórios isotrópicos. Ah, e sem dúvida também, teria sido muitíssimo mais divertido.


- Estou mesmo farto destes programas do National Geographic; agora têm a mania das intelectualices sobre as espécies!

resmungou um pinguim - que, por opção, vivia sozinho algures na Antártida - enquanto desligava a televisão para ir dormir. “Que porcaria!”, foi a última coisa que pensou, exactamente 5 minutos antes de adormecer como uma pedra de gelo.

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