Última hora - Drama em Escola Secundária
Neste momento são quase sete horas e o aluno já se encontra isolado no ginásio, cercado pelo Grupo de Amorosas Intervenções (GAI) da PSP que, soltando gases naturais e urros contranatura, tenta atordoar o suspeito. Assinale-se que foi ali encurralado após uma tentativa frustrada de fazer amor com um espaldar – curiosamente, a causa da rejeição foi o mau hálito.
Entretanto, a equipa de negociadores policiais, em que se inclui um psicólogo, um anão careca, um culturista que arrota esteróides e uma mulher barbuda com um pato de loiça ao ombro, tenta convencê-lo a sair dali sem tentar beijar o agente Silva. O aluno recusou pois, citando as forças de segurança, diz que “seja esse, seja outro qualquer, nem até que – com ‘k’ - me beije a mim mesmo, assim é que - com ‘k’ - eu não fico. É que – com “k” -, atenção; estou quase a explodir de amor!”, ameaçou, com a voz embargada de tanto e tão perigoso afecto por expressar.
Entrementes, e num inaudito assomo de coragem, Carlos Castro, o verdadeiro Fernão Lopes da actualidade, ofereceu-se como voluntário para substituir o dito agente da autoridade - o que provocou ainda mais o aluno, ao ponto de ele ter, inclusive, ido ao espelho da casa-de-banho piscar o olho a si mesmo. Este facto foi considerado “muito grave, pois está a um passo do auto-engate”, segundo nos confidenciou o psicólogo da equipa da PSP (ou teria sido a mulher barbuda? bom, também não interessa...).
Contactado por nós em sua casa, o pai do aluno mostrou-se totalmente incrédulo com toda esta situação. “Como é possível? Desde pequeno que leva pancada, só vê filmes do Rambo e do Jackie Chan, na consola só joga ao Tekken e agora... isto?! Digam-me, digam-me lá, onde é que eu errei, digam-me, por favor!”. E ali ficou, ainda sem acreditar no que se passava. (Tão desconsolado estava que mal conseguiu dar umas bofetadas na mulher. Era, de facto, o retrato da angústia e do sofrimento).
Entretanto, são agora quase oito horas da noite e, finalmente, conseguimos chegar à fala com a Presidente do Conselho Executivo, Drª Doutora que, na condição de total anonimato, nos confidenciou também não entender como tudo isto terá sido possível. “Nós até retirámos do programa o Canto IX de ‘Os Lusíadas’, com todo aquele deboche da ‘Ilha dos Amores’; até censurámos, no canto seguinte, o nome da deusa “Tétis”, à qual chamámos “Zé”, evitando aquelas graças tipo “Ó Deusa, mostra-me aí as tuas tétis!” e coisas do género. Abolimos, também, o Eugénio de Andrade por causa daquelas manias de que “é urgente o amor” e parvoíces do mesmo tipo, incluímos as artes marciais no programa obrigatório de Português Z... francamente não percebo, não tenho explicações para nada disto”, concluiu a Presidente, ainda sob o mais rigoroso anonimato.
Mas, esperem... o aluno está a sair agora, escoltado pelos GAI, perante os apupos da multidão que, com o passar das horas, se foi aglomerando junto à Escola. Observamos também que, por certo para não arriscar a integridade moral de ninguém, já lhe foi colocada uma armadura medieval de segurança prevenindo, assim, todo e qualquer contacto físico. E, atenção, lá vai ele a entrar no carro da polícia... estão a tentar outra vez, já que o capacete da armadura bateu contra o tejadilho... nova tentativa... bonk...novamente... bonk...
Bom, fechamos aqui esta transmissão (bonk) em directo – tudo está bem quando acaba bem, não é verdade? - , vamos (bonk) regressar aos estúdios onde, a partir (bonk) das 22h, teremos mais um “Prós e Contras” com (bonk) o tema escaldante da actualidade (bonk) que este caso veio, mais (bonk) uma vez, trazer à ribalta - o excesso de amor (bonk) nas Escolas. Não perca.
Bonk.