CUOTIDIANO

segunda-feira, outubro 30, 2006

Última hora - Drama em Escola Secundária

Passavam poucos minutos das cinco horas da tarde de hoje quando, na Escola Secundária de Alguém, o caos se instalou. Conta quem assistiu que “eram gritos, livros pelo ar, correrias desenfreadas, enfim, a confusão total”. Quanto à causa, foi possível descobrir que tudo isto foi provocado por um (de todo inesperado) ataque de Amor Universal por parte de um aluno do 10º ano que, alegadamente, atacou cinco outros com beijos, abraços e frases simpáticas, não lhes dando tempo nem hipótese, sequer, para efectuar qualquer movimento de defesa.

Neste momento são quase sete horas e o aluno já se encontra isolado no ginásio, cercado pelo Grupo de Amorosas Intervenções (GAI) da PSP que, soltando gases naturais e urros contranatura, tenta atordoar o suspeito. Assinale-se que foi ali encurralado após uma tentativa frustrada de fazer amor com um espaldar – curiosamente, a causa da rejeição foi o mau hálito.

Entretanto, a equipa de negociadores policiais, em que se inclui um psicólogo, um anão careca, um culturista que arrota esteróides e uma mulher barbuda com um pato de loiça ao ombro, tenta convencê-lo a sair dali sem tentar beijar o agente Silva. O aluno recusou pois, citando as forças de segurança, diz que “seja esse, seja outro qualquer, nem até que – com ‘k’ - me beije a mim mesmo, assim é que - com ‘k’ - eu não fico. É que – com “k” -, atenção; estou quase a explodir de amor!”, ameaçou, com a voz embargada de tanto e tão perigoso afecto por expressar.

Entrementes, e num inaudito assomo de coragem, Carlos Castro, o verdadeiro Fernão Lopes da actualidade, ofereceu-se como voluntário para substituir o dito agente da autoridade - o que provocou ainda mais o aluno, ao ponto de ele ter, inclusive, ido ao espelho da casa-de-banho piscar o olho a si mesmo. Este facto foi considerado “muito grave, pois está a um passo do auto-engate”, segundo nos confidenciou o psicólogo da equipa da PSP (ou teria sido a mulher barbuda? bom, também não interessa...).

Contactado por nós em sua casa, o pai do aluno mostrou-se totalmente incrédulo com toda esta situação. “Como é possível? Desde pequeno que leva pancada, só vê filmes do Rambo e do Jackie Chan, na consola só joga ao Tekken e agora... isto?! Digam-me, digam-me lá, onde é que eu errei, digam-me, por favor!”. E ali ficou, ainda sem acreditar no que se passava. (Tão desconsolado estava que mal conseguiu dar umas bofetadas na mulher. Era, de facto, o retrato da angústia e do sofrimento).

Entretanto, são agora quase oito horas da noite e, finalmente, conseguimos chegar à fala com a Presidente do Conselho Executivo, Drª Doutora que, na condição de total anonimato, nos confidenciou também não entender como tudo isto terá sido possível. “Nós até retirámos do programa o Canto IX de ‘Os Lusíadas’, com todo aquele deboche da ‘Ilha dos Amores’; até censurámos, no canto seguinte, o nome da deusa “Tétis”, à qual chamámos “Zé”, evitando aquelas graças tipo “Ó Deusa, mostra-me aí as tuas tétis!” e coisas do género. Abolimos, também, o Eugénio de Andrade por causa daquelas manias de que “é urgente o amor” e parvoíces do mesmo tipo, incluímos as artes marciais no programa obrigatório de Português Z... francamente não percebo, não tenho explicações para nada disto”, concluiu a Presidente, ainda sob o mais rigoroso anonimato.

Mas, esperem... o aluno está a sair agora, escoltado pelos GAI, perante os apupos da multidão que, com o passar das horas, se foi aglomerando junto à Escola. Observamos também que, por certo para não arriscar a integridade moral de ninguém, já lhe foi colocada uma armadura medieval de segurança prevenindo, assim, todo e qualquer contacto físico. E, atenção, lá vai ele a entrar no carro da polícia... estão a tentar outra vez, já que o capacete da armadura bateu contra o tejadilho... nova tentativa... bonk...novamente... bonk...

Bom, fechamos aqui esta transmissão (bonk) em directo – tudo está bem quando acaba bem, não é verdade? - , vamos (bonk) regressar aos estúdios onde, a partir (bonk) das 22h, teremos mais um “Prós e Contras” com (bonk) o tema escaldante da actualidade (bonk) que este caso veio, mais (bonk) uma vez, trazer à ribalta - o excesso de amor (bonk) nas Escolas. Não perca.

Bonk.

quinta-feira, outubro 26, 2006

A suprema generosidade da banca

Segundo o “Diário de Notícias” de hoje, “a banca está disposta a negociar os arredondamentos das taxas de juro do crédito à habitação com os seus clientes”. Fiquei estupefacto quando li. Quão generosos eles estão!

Mas recuemos um pouco. Conforme aqui escrito em 15 de Julho último, “os lucros da banca subiram 30 por cento no ano passado, em comparação com o ano anterior, e os impostos pagos ao Estado cresceram 15 por cento, para 528 milhões de euros”. Na altura assinalou-se, também, a curiosidade de que “a taxa de imposto paga pela banca é de cerca de 12%, ou seja, aproximadamente metade(!) da taxa de IRC, o imposto pago pelas empresas” - isto para já não falar dos contribuintes individuais, grande parte das vezes com taxas (muito) superiores às da banca. Já agora, se dividirmos os 528 milhões de euros de impostos pagos por 12%, obteremos 4.400 milhões de euros de lucro. Para que se veja melhor: 4.400.000.000€!

Bom, mas regressando à actualidade. As taxas de juro já subiram, salvo erro, dez(!) vezes este ano, os impostos que a banca paga continuam tão baixos quanto estavam, os lucros continuam a subir e agora, num acesso de generosidade suprema, a banca admite “negociar os arredondamentos” – Lindo! Ou seja, não muda a forma de arredondamento actual (sempre para cima, claro está!), nem sequer a negoceia – apenas admite a hipótese de a negociar!

Palavras para quê? É o nosso triste fado (É uma banca portuguesa, com certeza, é com certeza uma banca portuguesa!).

terça-feira, outubro 24, 2006

Odeio manhãs!

Todos os dias de manhã chego atrasado, é um facto; ainda por cima bastante irritante, principalmente para o tipo que me abre a porta do escritório que, por ser pontual e estupidamente servil, fica sempre com cãibras no braço de tanto esperar por mim, enquanto a segura (à porta, claro!) – sim, porque eu sou um tipo importante, com motorista fardado e dívidas fiscais exorbitantes.

Retomando. Há uns dias atrás, resolvi fazer alguma coisa para resolver este problema - inventei um novo tipo de despertador, a que chamei de “Pozito Inter-Digital Extraordinário” – sim, porque somente digitais há muitos, seus palermas! (desculpem, não resisti...).

Bom, dizia eu e abreviando, “Pozito Inter-Digital”. E porquê? Em primeiro lugar porque é um despertador em pó e apenas em pó, não sendo necessário misturar água para que funcione. Em segundo, porque se coloca entre os dedos dos pés da(o) parceira(o) sexual dessa noite (ou da nossa avó, se ainda for ela a adormecer-nos), regula-se para a hora pretendida – como é que isso se faz? não digo, senão iam logo registar a patente, seus palermas outra vez! – e, a essa hora exacta, o pó começa a fazer comichão à nossa, digamos, companhia. É “trigo limpo” - acordamos imediatamente ao som das suas risadas parvas! Só que (suspiro...) este invento, para mim, é completamente ineficaz E porquê? Porque, confesso, o mais próximo de parceira que encontrei nos últimos anos foi uma pomba que aterrou na minha janela e só não se pirou porque tinha uma asa partida (suspiro outra vez...).

Então, ontem, tive uma nova ideia, ainda mais revolucionária que a anterior – inventei um outro despertador, a que baptizei de “Caverna mas é o Tanas”, cujo princípio de funcionamento se baseia num anel com um compartimento para morcegos que se abre à hora marcada, libertando-os para uma galhofagem voadora de tal ordem que até acordaria um morto. Ah, e para os mais preguiçosos, criei um topo de gama que, num segundo compartimento, libertará (exactamente seis minutos depois dos morcegos) elefantes míopes que, ao chocarem com tudo e mais alguma coisa, conseguirão até acordar um deputado, às cinco da tarde, no parlamento.

Apesar disto tudo, hoje, infelizmente e mais uma vez, adormeci de manhã. Porquê? Porque coloquei o “Pozito” para despertar os morcegos da “Caverna”, mas a rambóia nocturna com os elefantes do compartimento ao lado foi de tal ordem que nem deram pela abertura matinal do seu compartimento. E lá fiquei eu a dormir outra vez...

Por outro lado, nem tudo é mau – dormi até às duas da tarde e ainda estou na cama, apreciando o pôr-do-sol, bebendo champanhe e vendo mais um episódio de animais nus no “National Geographic”. Como é óbvio, atirei as minhas invenções sanita abaixo - decididamente, odeio manhãs!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Conceptualizando

Ela vive com um conceito. Gosta dele de tal forma que, sempre que se encontra com suas amigas, passa o tempo todo a gabá-lo; diz, por exemplo, que é “um bom conceito, um pouco intelectual mas, simultaneamente (risadas), bastante físico”. Quando uma vez, ao terceiro copo - a altura em que as pessoas começam a sentir o cérebro a dilatar, levando-as a concluir que ficaram mais inteligentes - lhe contrapuseram se esse conceito não teria bases infundadas, ela respondeu que “a única chatice é que tem a mania de entrar na casa-de-banho quando eu já lá estou”. E aí arrumou a questão.

Antes de o conhecer, vivia com um preconceito que cheirava a cavalo medieval acabadinho de exumar – por isso (e não só, mas principalmente) o tinha abandonado. Andava ela, depois disso, ainda numa fase a dar para o “arrastado”, quando surgiu, quase do nada, aquele belo conceito - ideias fixas, aspecto atraente. De imediato pensou: “É com este conceito que quero passar o resto dos meus dias”.

E assim foi - pelo menos até agora.

(Como é que eu sei isto tudo? Porque anteontem à noite fizemos uma saída de casais – ela com o seu conceito e eu com a minha parábola).

quarta-feira, outubro 18, 2006

Nobel da Paz – um sinal de viragem?

O Nobel da Paz foi atribuído ao economista Muhammad Yunus, do Bangladesh, e ao seu banco Grameen, pelo esforços na criação de desenvolvimento económico e social através de projectos de microcrédito.

Segundo o seu criador, o microcrédito consiste em “conceder empréstimos de valor muito reduzido a pessoas que não teriam acesso à banca tradicional, para que possam lançar os seus próprios negócios”. Ressalta ainda Yunus que “o direito ao crédito é um direito humano básico”.

O que este processo tem de realmente inovador é que rompe o ciclo de pobreza, permitindo aos mais pobres “renascerem” a partir de um empréstimo reduzido que lhes possibilita, por exemplo, montar o seu próprio pequeno negócio, sendo que essa ajuda a banca tradicional - que normalmente só empresta cem a quem tem duzentos - nunca lhes concederia.

Terminando com as palavras do novo Nobel da Paz, “eu tenho um sonho: que o Banco Grameen venha a ser não o banco dos pobres mas sim dos ex-pobres” e que, também consequência disso, “em 2050 se tenha um mundo sem pobreza”.


PS - Infelizmente, até 2050, muitos milhões morrerão devido a causas próximas como doenças e sub-nutrição - na realidade, consequência da pobreza extrema a que os países mais ricos vetaram e continuam, efectivamente, a vetar os mais pobres.

sábado, outubro 14, 2006

“Lisboa vive à custa do resto do país” – mentira ou verdade?

Na sequência do meu post “Só para rir (I)”de terça-feira, 3 de Outubro, no qual escrevi três linhas sobre a redução das transferências de verbas para a Região Autónoma da Madeira, houve um amigo comentador anónimo que escreveu a frase citada em título, ou seja, que “Lisboa vive à custa do resto do país”. Por forma a evitar o regime de “bocas” e, ao invés, se fazer uma análise mais séria, resolvi consultar os dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) quer sobre o Produto Interno Bruto, quer sobre a população de cada região, tendo chegado a algumas conclusões interessantes (peço desde já desculpa por os dados se referirem a 2002 pois – não sei se por eu ser um “não-pagante”... – não tive acesso a mais recentes; no entanto, e para o presente efeito, tal não é minimamente relevante). Apresentemos, então - e a partir da simples leitura do Quadro I - algumas delas:

Quadro I – Comparação de Regiões em Termos de PIB (PIB em milhões de euros, PIB per capita em euros)

1) A região de Lisboa contribui com 38% para o PIB nacional (mais de 1/3), sendo a região de maior contributo. Só esta primeira constatação refuta, desde logo, a afirmação do nosso amigo comentador anónimo. Em termos da Região Autónoma da Madeira, “fulcro” do post inicial, a sua contribuição foi de, apenas, 3% - ou mais precisamente, e fazendo o quociente do PIB das duas regiões por forma a compará-las, 14 vezes menor;
2) Poder-se-á dizer que estamos a falar de dimensões populacionais muito distintas entre as várias regiões do País. É verdade. Então, e para que isso não influencie a nossa análise, dividamos o valor do PIB pela população de cada uma, obtendo o PIB per capita (para maior facilidade de análise, criou-se uma coluna de “Índice”, tomando todo o Portugal como o “Índice 100”). E o que é que se pode concluir? Várias coisas, a saber:
a. Que a região de Lisboa tem um contributo 47% acima da média nacional;
b. Mais em particular, a da Grande Lisboa (Lisboa com a exclusão da península de Setúbal) apresenta um valor 72% superior ao do país;
c. De todas as outras, só a Madeira (com 14%) e o Algarve (com apenas 4%) apresentam valores acima da média nacional;
d. Como corolário dos anteriores, e se olhássemos apenas para estes números, poderíamos dizer não que Lisboa vive à custa do resto do país, mas sim que o resto do país vive à custa de Lisboa, principalmente, da Madeira secundariamente e em menor escala ainda, do Algarve;
e. Finalmente, e comparando apenas a Região da Madeira com a da Grande Lisboa, vem que esta última tem um contributo 50% superior à primeira. Por outras palavras e simplificando, em média dois lisboetas “valem”, em termos de PIB, o mesmo que três madeirenses.

Como é evidente, não se pode deduzir daqui que os lisboetas são mais trabalhadores que os outros portugueses; de modo algum se pretende fazer afirmações desse tipo pois, como é óbvio, não se pode comparar uma parte sem olhar para o todo, pelo menos sem correr o risco de se obter conclusões precipitadas. Por outras palavras, para uma análise completa da realidade produtiva havia que analisar, região a região, que investimentos (qualitativa e quantitativamente) houve, qual o grau de desenvolvimento tecnológico, que sectores da economia estarão mais desenvolvidos, qual o seu nível sócio-cultural, etc., etc., etc. Um exemplo: numa dada zona um trabalhador agrícola possui um tractor - evidentemente, produz mais que, numa outra, dois que não disponham desse instrumento. Ora daqui não se pode inferir que o primeiro é mais trabalhador mas, apenas e só, que nessa região a produção é, de facto, maior.

No entanto, e no caso em apreço (Lisboa/Madeira), o valor das transferências de verbas para a Madeira para investimento e desenvolvimento regional quer vindas do Continente, quer de Bruxelas, têm tido dimensões (per capita) incomparáveis com qualquer outra região do país – verdade seja dita, o Dr. Alberto João Jardim tem conseguido, com toda a sua “habilidade” e ao longo do seu (mais que longo) “reinado”, fundos e mais fundos e, até hoje, ninguém lhe fez frente. Assim, não há-de ser por falta de fundos investidos que a Madeira produz menos per capita que “Lisboa”.

Em conclusão, apenas se quis aqui desmistificar a ideia de que “Lisboa vive à custa do resto do país” pois tal não corresponde minimamente à verdade, como atrás ficou demonstrado. As razões que o determinam não são objecto de análise deste texto, por evidente incompetência na matéria do autor destas linhas. No entanto, e como se julga que deixou claro, o facto é que "Lisboa" não vive à custa do resto do país (quando muito quase que se poderia dizer o contrário, coisa que não farei por não concordar com esse tipo de afirmações, seja em que “sentido” for).


PS – Não se pretende aqui abrir uma “guerra inter-regional” mas sim e conforme atrás referi, apenas rebater uma afirmação menos correcta que, de tanta repetição (escrita e oral), corria o risco de passar por verdadeira.

sexta-feira, outubro 13, 2006

Lendo o “Público” (2006/10/12): “Iraque – Estudo aponta 655 mil mortos desde a invasão”

“Desde a invasão norte-americana, em 2000, morreram cerca de 655 mil iraquianos, civis e militares, o que representa cerca de 500 mortos por dia”


Matemática elementar – Como morreram cerca de 3.000 pessoas no ataque às torres gémeas do 11 de Setembro vem que, em termos médios, a cada 6 dias “caem duas torres gémeas” no Iraque, ou seja, de 3 em 3 dias “cai uma”.

Matemática ainda mais elementar – No total e desde o início da invasão, já morreu no Iraque um número de pessoas equivalente à queda de cerca de 440 torres gémeas.

Corolário dos anteriores – Cada americano vale , até ao momento, cerca de 220 iraquianos.

Curiosidade final – No mesmo dia em que “sai” este estudo, embateu uma avioneta contra um prédio em Nova Iorque, em acidente que provocou dois mortos. Curiosamente, foi esta última notícia que teve honras da quase totalidade dos telejornais, tendo a primeira passado despercebida. Como diria o grande filósofo contemporâneo Mário Jardel “Porque será?”

quarta-feira, outubro 11, 2006

As balas teleguiadas da GNR

Hoje o “Cuotidiano” traz aqui uma sugestão que em muito poderá ajudar no equilíbrio da nossa balança comercial e na redução do malfadado deficit – exportem-se, rapidamente e em força (nomeadamente para o Iraque), as já famosas balas teleguiadas da GNR, especialistas na detecção e abate de criminosos por mais camuflados que estejam. Para os mais cépticos, relembro algumas das inovações tecnológicas incorporadas nessas magníficas balas, expoente máximo do desenvolvimento tecnológico lusitano:

a) Conseguem acertar nos alegados(*) criminosos, mesmo quando se dispara a arma para o ar;
b) Quando se aproximam do suspeito, com o seu sensor de cheiros, conseguem detectar se o mesmo tem cadastro; se tiver, continuam em frente e acertam-lhe; se não - e aqui está uma fantástica inovação, só ao alcance de grandes cérebros - continuam também;
c) Permitem a possibilidade de se lhes incorporar um “kit” anti-desperdício, que faz com que a bala, quando disparada contra um pneu de um carro em fuga, ao verificar que não é o material mais correcto para acertar, rodopia, fareja, e reformula a rota por forma a acertar no fugitivo.

PS – E ainda dizem que o Iraque é o campo de treinos da Al Qaeda – Portugal é que, por este andar, é o campo de treinos para o Iraque!

(*) – “Cuotidiano” em versão politicamente correcta

domingo, outubro 08, 2006

Merlim poisou a palavra

Merlim poisou a palavra, a cabeça, o tempo, sobre a almofada disfarçada de deuses extintos. Julgou voar enquanto a poisava. Julgou viver, estava certo de viver ainda mais intensamente enquanto morria.

A verdade é que já tinha passado o seu tempo, a sua vontade, o seu desejo de ter desejos – só lhe sobrava tempo e, mesmo assim, pouco.

Do princípio. Merlim era mágico – não transformava sapos em príncipes mas fazia com que príncipes não se deixassem transformar em sapos, o que já não era mau, tanto mais atendendo à sua provecta idade

Do meio. Merlim nem sequer existia mas todos julgavam, pensavam, sabiam que sim – Merlim era o seu lado mágico, aquele lado só possível de ver após trezentas poções mágicas à base de cenouras e ervas estranhas (havia sempre aqueles cépticos que achavam que o viam ao centésimo copo de whiskie, mas isso era só uma lenda). Seja como for, Merlim era um pássaro, um dragão, um ser humano, qualquer coisa – desde que fizesse bem a alguém, desde que desse jeito.

Do fim. Merlim poisou a cabeça, já disse. O tempo final também poisou sobre ele. Estranhos perguntaram-lhe::

- Tu que já leste milhões de livros, já estudaste a Humanidade, a desumanidade, o desespero, o tempo, tudo, diz-nos antes de morrer – O que é a vida, qual o seu significado, porque estamos aqui, qual a nossa função, destino e objectivo?

Merlim tentou responder-lhes num último esforço:

- gnhic grunf plic ploc puc!

Então morreu. Felizmente, a Humanidade ficou na ignorância

Hoje, tentamos fazer o nosso próprio destino. Sem Merlim para nos ajudar. Sem Merlim. Ponto. Feliz e estranhamente, somos os nossos próprios amigos e inimigos, simultaneamente. Sem Merlim para nos ajudar. Sem Merlim. Ponto.

PS - Mais um roubo, mais uma viagem - obrigado ao "Fotoescrita", que recomendo vivamente!

sexta-feira, outubro 06, 2006

Última hora: assaltante de banco de Setúbal exige regresso de Souto Moura


Segundo informou a agência “Lusa”, uma das condições impostas pelo assaltante da dependência do BES em Setúbal para a libertação dos quatro reféns é a do regresso de Souto Moura ao cargo de Procurador Geral da República. Quando questionado pelo negociador policial sobre as razões que o levariam a semelhante exigência, o assaltante refugiou-se no silêncio, invocando o segredo de justiça e um deus grego de nome esquisito Quanto às restantes condições exigidas para a libertação dos reféns, as mesmas foram classificadas de “bastante mais pacíficas” pelo Comandante do Grupo de Operações Especiais (GOE) da GNR, o tenente Grande Cabral, nomeadamente no que toca às sete pizas familiares com anchovas e guardanapos e o regresso de Alberto João Jardim às árvores. Mais informou o Comandante que as conversações decorriam a bom ritmo, nomeadamente de hip-hop.

Contactado pelos jornalistas, o ex-Procurador disse que não podia prestar declarações sobre o assunto invocando, novamente, o segredo de justiça. No entanto, quando questionado sobre quais as declarações que não podia prestar, Souto Moura disse que “não posso dizer-vos que o assaltante é branco, 45 anos, casado, três filhos, frequência até ao 9º anos da C+S do Barreiro, estranho hábito de cuspir na avó octogenária e tem como ‘hobby’ o estudo de múmias e de robalos. Peço imensa desculpa mas não posso dizer-vos isto”. Aproveitando a ocasião, os jornalistas inquiriram o ex-Procurador sobre os seus planos para o futuro, ao que Souto Moura respondeu que não podia responder, tornando a invocar o segredo de justiça. Quando os jornalistas se preparavam já para se retirar do local, Souto Moura chamou-os de volta para uma conferência de imprensa improvisada em que forneceu alguns detalhes sobre o seu eventual futuro. “Tive proposta de um ventríloquo de Miami para fazer de Pato Donald mas estou relutante em aceitar porque, aceitando esse emprego, só posso fazer intervenções quando for a minha vez de falar. Outra proposta que tenho em carteira e que estou a estudar é a de protagonista do filme “Garganta Funda III”, contracenando com Linda Lovelace, Marcelo Rebelo de Sousa e Hot Lips, o cavalo do Texas”. Após estas declarações e quando os jornalistas se preparavam, novamente, para regressar às redacções, o ex-Procurador tornou a chamá-los, mas estes fingiram que não ouviram e desataram a correr para os seus carros de exteriores.. “Porra que o gajo é chato!”, ainda se ouviu por entre a correria.

Finalmente, e notícia ainda não confirmada, julga-se que um dos reféns se terá tentado suicidar quando reparou que o assaltante, enquanto lhe deitava um olhar lascivo, trazia debaixo do braço o livro “Direito ao Assunto”, da autoria de Souto Moura.

quinta-feira, outubro 05, 2006

Era a nossa casa

Era a nossa casa. Sim, disse “nossa” de propósito, apesar de tu nunca lá teres morado, onde só foste uma vez, por breves minutos. A mesma que eu quis. Melhor - que eu para ti fiz, passo a pedra, pedra a passo, verde a ver-te por entre as árvores, por entre mim. Essencialmente “longe de tudo menos de nós”, como me havias dito num dia que foi noite, numa noite que foi nossa, adormecida pela ponta dos meus dedos e por teus olhares camuflados.

Sim, foi a casa que eu fiz, de respiração presa à espera dos pássaros que te chamavam cantando, à espera do teu olhar que julguei meu, das fontes, daquele teu sorriso inexplicável que te rasgava os olhos enquanto suspendia do tempo todos os sons, todos os temporais, todos os medos, todas as esperas – sim, era então o tempo em que o tempo era real e completamente teu.

Depois escolhi cores, mobílias. Depois escolhi toalhas e talheres e pratos e mais pratos e copos. Depois, à última da hora, lembrei-te mais um pouco e comprei também aquele quadro que namoravas há muito. Depois, apressadamente porque estavas quase a chegar, espalhei pedaços da nossa vida pela casa, como pétalas disfarçadas de bibelôs. E no último minuto, ainda consegui arranjar tempo para escolher uma camisa azul que tu me havias dado (hoje está catalogada de foleira, apodrecendo no meu armário).

Então chegaste. Olhaste à volta, provavelmente não gostaste mas, educadamente, nada disseste – no entanto eu ouvi. Esperei um beijo, tocou teu telefone – tinhas de ir, qualquer emergência que se calhar não o era, mas que achaste importante atender. Nada perguntei, não mais lá voltaste. Alguns meses depois, eu próprio também me vim embora - faltavas lá, faltavas-me no ar, nos cheiros, faltavas-me, apenas.

Ainda hoje não sei porque tudo aconteceu assim e também não procuro saber. Mas sei que, estranhamente e desde então, comecei a catalogar tudo; ao que aconteceu, cataloguei de “a Vida acontece”; a ti, que todas as noites relembro, que todas as noites me dóis, cataloguei como “grande amor da minha vida” - imagino que me catalogaste como “foleiro” e apodreço no teu armário, longe da memória, dos afectos , dos lugares.

Entretanto, as árvores cresceram e tomaram a casa, cada vez mais apodrecida, como sua - seus ramos abraçaram-na, suas folhas mobilaram-na e, com a ajuda dos Invernos, decoraram-na.

Hoje carrego em mim árvores desesperadas carregadas de ramos desesperados à procura de ti, como uma casa para abraçar. No entanto, e passadas as palavras, sei que a verdade é que, apenas e só, cá vou apodrecendo num armário de ninguém.


PS – Fotografia roubada a “Camuflagens”, que a “adquiriu” em “Fotoescrita”. Agradeço virtualmente a ambos os “blogs” e realmente às Pessoas por detrás dos mesmos.

terça-feira, outubro 03, 2006

Só para rir (II)

Atendendo à anterior e actual situação no Iraque, o governo fantoche local dos EUA resolveu prolongar o estado de emergência por mais... um mês!

Só para rir (I)

Depois da anunciada diminuição, para este ano, de 140 milhões de euros nas transferências para a Madeira, Alberto João Jardim promete retaliar!