CUOTIDIANO

quarta-feira, novembro 29, 2006

Lendo o “Público” (2006/11/29) – “Salário mínimo poderá vir a ter aumentos semestrais”

Reunião na concertação social.

Representante dos sindicatos (S): Isto assim não pode continuar, é uma injustiça para os trabalhadores e mais uma violência deste Governo, que não respeita minimamente os direitos dos cidadãos mais desprezados por este poder capitalista, cuja face mais visível é o Ministério do Trabalho – o salário mínimo vai ter que aumentar não semestralmente, como defende o Governo, mas sim trimestralmente!

Representante do Governo (G): Tem Vossa Excelência toda a razão! (os sindicalistas ficam boquiabertos de espanto). De facto, os trabalhadores deste país são verdadeiramente explorados e esperamos contar com eles para o nosso desenvolvimento que, no fundo, é o que todos queremos e desejamos. Tem toda a razão, isto assim não pode continuar. E digo-lhe mais – é tal o nosso respeito pelas classes trabalhadoras que o aumento não vai ser trimestral, como os senhores pretendiam, mas sim mensal!

S: Eu disse “trimestral”? Queria dizer “trissemanal”, desculpe.

G: Isso agora não pode ser.

S: Mas porquê? Não me diga que isto tudo foi conversa fiada e que, mais uma vez, o Governo vai aplicar um rude golpe aos mais desfavorecidos que...

G: Calma. Não pode ser porque achamos melhor um aumento semanal.

S: Trissemanal? Semanal? Pois, parece que me enganei outra vez – Eu queria dizer "diário", é isso, diário.

G: Isso agora é que já não pode ser

S: ...

G: Vai passar a haver aumento bi-diário do salário mínimo, isso sim!; então, o que é que me diz a isto?

S: Bom, parece-me bem, estamos de acordo. Mas, já agora, esse aumento vai passar a ser de quanto?

G: 0%!

segunda-feira, novembro 27, 2006

Já agora, um beijo

Às vezes contento-me em ficar parado. Sim, parado, parado, apenas... parado, pronto, não há outro termo.

Depois descontento-me. Penso em ti, no cheiro da manhã a raiar, nos barcos (a partir? a chegar?) e sento-me, outra vez, sempre outra vez, a teu lado, sempre longe de ti. Engraçado – do mesmo modo que as palavras nos juntaram, também as palavras nos afastaram. “Qual é a graça?”, pergunta o meu eu nº 453.

Depois contento-me outra vez – penso em ti, esqueço as noites, olho de frente as manhãs, escorro desejos como suores temperados, respirações, gestos – pensando em ti, melhor, repisando-te, escorrendo e suando, suando teu nome pelas entranhas, para além, muito para além das veias e dos segredos e dos medos e das ameias. Divino foi o tempo dos temporais que não houve, intemporais foram os deuses que nem sequer criámos. Palavras, palavras, sempre as palavras e os solstícios, e os desejos equinociais – mas nós não quisemos mais, quisemos palavras, lembras-te? (Talvez por isso sobraram os corpos).

Depois descontento-me – é que, de repente, vi o meu reflexo na janela. Horrorizei-me, sim, horrorizei-me (estarei assim tão velho?). Depois olhei melhor. Vi o reflexo da noite em estrelas cadentes, carentes de ti. Foi quando, outra vez, mais uma vez e na vez anterior à próxima vez, te esperei (sem nada esperar de ti, nem sequer deste tempo a contragosto, a contratempo).

Depois contento-me. Sim, eu sei, da minha varanda não vi a lua reflectida em teu olhar – provavelmente é porque está aí em baixo, à espreita, à espera que a noite traga notícias de nós (ou será porque eu não tenho varanda?). E nós que já morremos tanto e tão pouco pelas veias feitas vielas da tua cidade, nas ruas que se disfarçam de avenidas e de luzes na minha cidade, nas estátuas que se escondem dos medos, nas sarjetas da noite, outra vez, sempre, da noite para sempre... – sabes, hoje é tão triste e difícil dizer “hoje” ou, sequer, ver a lua esboçando sorrisos, nem que seja através das nuvens onde nos encontrávamos no tempo em que o nosso tempo existia...

Não sei como me sinto, confesso, se é que ainda consigo sentir o que quer que seja. Sei que sobejam imagens, dores, sonhos, barcos - e a ria, tão formosa de tão tua...

Ah, é verdade, e as palavras. Sempre as palavras. As palavras para sempre.

Já agora, um beijo (meu Amor).

domingo, novembro 26, 2006

Ah, pensadora!

“As canções de fado e a poesia tornaram-se no meio de comunicação em Portugal – como se fosse a nossa CNN”.

Mariza, em entrevista ao “The Observer”.


Não, quem o disse não foi a Marisa Cruz – que essa só tem direito a um “s” no nome (e a um outro belo “ass” também, mas noutro lado) – mas sim a Mariza, a nossa grande fadista que, sabe-se lá porquê, resolveu dizer... “isto”. Imaginemos, então, um telejornal em versão CNN segundo Mariza.


A luminosidade está baixa. Aos poucos aumenta, focando José Rodrigues dos Santos vestido de preto, de crucifixo descomunal ao peito e com um xaile pelos ombros. Do seu lado esquerdo uma imagem de Nossa Senhora de Fátima; do direito uma imagem de mais um atentado no Iraque, com o título “Porra que isto nem à Severa aconteceu”. Começa Rodrigues dos Santos a “pivotar”, cantando com trejeitos fadistas, amaricados q.b.:

Andava eu a passear pela Mouraria
Quando no Iraque só havia porcaria
Rebentaram uns quantos carros armadilhados
Cujos ocupantes voaram pelos telhados

Foram com Deus também dois soldados americanos
Para além de insignificantes mil iraquianos
Meia dúzia de insectos, uma lesma e um caracol
E, finalmente, a porcaria de um espanhol

(Começa a chorar o colega da meteorologia)

Pelo chão escorriam rios ensanguentados
Feitos de sangue, lágrimas e bocados
De gente que ainda nem tinha idade
De sentir pelo Saddam alguma saudade

Oremos todos pelas pobres criancinhas
Que choram tanto porque, coitadinhas
Sabem que nunca subirão até ao Castelo
E nunca na vida brincarão pelo Restelo

(Da realização ouve-se “ah, fadista!”)

Alfama chora por toda a alma que lá habita
O Bairro Alto está cabisbaixo, a Baixa alto grita
O Chiado chia de raiva contra a pobreza
A Bica bebe lágrimas de dor pela tristeza

(Palmas quase histéricas em simultâneo com uivos de dor – provocados por umas palmas mais expressivas que acertaram na cara de alguém)

- Passemos, agora, ao Desporto – ouve-se em “voz-off”. Rodrigues dos Santos recomeça:

Ai Veiga, meu Veiguinha, ouve lá meu
E digo isto quase a morrer de dor
Meteste a mão num bolso que não o teu
E o dinheiro todo na bela da “off-shore”?

Deves ter tido uma avó que te batia
Um pai bêbedo que comia o gato e a tia
Qualquer desgraça que possa justificar
A desgraça em que acabaste por te tornar

E tu tão pobre o que hás-de fazer?
Só se venderes o ouro do dragão
Para comeres uma sandes de corates
E com o troco pagares a tua caução

(“Ah, machão!”, grita o Celsão, operador de câmara brasileiro em camisola de alças para que se veja a tatuagem com borboletas e a Nossa Senhora do Pintinguintimxixaló)

Enquanto as luzes se vão apagando e Rodrigues dos Santos limpa as suas lágrimas com um lenço com a estampa de Amália, ouve-se a “voz-off”:

- E por hoje é tudo. Queremos só agradecer à fadista Marizzza a brilhante ideia que teve e que deu origem a mais este grande contributo para a originalidade e grandeza lusitanas. Ah, pensadora!

quinta-feira, novembro 23, 2006

Tirem-me esta vaca de minha casa!

Acordei. Pior. Acordei estremunhado. Pior ainda. Fui acordado. Pior pior ainda. Fui acordado por um qualquer silvar irritante. Quase a rebentar de instintos assassinos e após chocar três vezes com o armário, lá consegui chegar à sala de onde, pelo menos aparentemente, o ruído provinha – e não é que lá estava uma vaca, descrevendo órbitas elípticas em volta do candelabro sec. XVII banhado a ouro, ruminando umas estranhas ervas com um ar deliciado e deixando escorrer, por entre sorrisos, uma espessa saliva esverdeada? Que chatice! Logo havia, ontem à noite, a porcaria da janela de ter ficado aberta!

(Momento de dúvida e hesitação: Mas... não seria uma mosca? Não, não pode ser, as moscas não ruminam, que estupidez a minha!)

(Bom, de volta à realidade). Tentei enxotá-la... nada. Tentei suborná-la com um pato de loiça extremamente giro... nada, nenhuma reacção outra vez. E agora, com aquela vaca ali, como é que eu poderia ter uma vida normal? Bom, na verdade também já não tinha...

Não interessa, adiante. Passei o dia a tentar pô-la a andar dali para fora mas, depois de muitas tentativas e de muito ruminar mental (acho que já começava a ter ataques de mimetismo...) tentando descobrir uma saída para esta crise - e para ela, principalmente -, pensei para comigo: “Isto só vai lá com uma solução radical!”

Assim fiz. Aproximei-me dela, fiz o meu olhar sério nº 49 e disse com firmeza:

- Sobreiro!

Abruptamente, a órbita da vaca começou a fazer algumas oscilações bruscas que, pouco depois, pararam, estabilizando o vôo; no entanto, a órbita parecia agora menos elíptica e mais circular. Pareceu-me ouvi-la dizer “sendo uma circunferência um caso particular de uma elipse, por definição também ela é uma elipse, minha grande besta!”; mas preferi fazer-me de surdo – afinal quem é que era aquela vaca para me dar lições do que quer que fosse?

- Sobreiro! – repeti convicto.

A vaca abanou novamente mas, tentando resistir, passou a uma estranhíssima e defensiva órbita rectangular o que é, manifestamente, uma impossibilidade física. Então mas... seria ela também movida a motores de propulsão de improbabilidade infinita? Teria ela mecanismos de defesa auto-imunes-de-geo-biogás-mega-macro-K27-ou-seja-poderosos-à-brava? Seria já um upgrade de uma vaca topo de gama? Será que Deus põe um nariz vermelho para brincar ao Carnaval? Já eram dúvidas a mais para o meu modesto cérebro. Mas ignorando deliberadamente os riscos que corria, continuei a investida sem hesitação, pensando “que se lixe, isto assim é que não pode ficar, tanto mais que ela usa um relógio vermelho com ponteiros azuis o que, só por si, já denota uma grande falta de gosto”.

- Sobreiro! – insisti e insisti e insisti e insisti...

Abreviando. Depois de mais cerca de quinze impiedosos ataques com a palavra “sobreiro”, a vaca não conseguiu resistir. Com estrondo caiu ao chão, chorando e implorando:

- Pare, pare, não aguento mais, eu vou-me embora para a semana!

- Sobreiro!

- Está bem, amanhã.

- Sobreiro!

De facto, não aguentou mais. Ainda acabava eu de pronunciar a palavra assassina, já ela voava dali para fora, partindo a janela que entretanto, e com as correntes de ar geradas pelas várias órbitas, por azar se tinha fechado.


Por uma estranha e infeliz coincidência, mal isto acontecia ouvi o barulho de uma chave rodando na fechadura - era a dona da casa. “Estou tramado”, pensei. Rapidamente me escondi por detrás de uma lâmpada do candelabro e esperei que anoitecesse para a morder – é que toda esta crise fez-me cá uma fome!...

quinta-feira, novembro 16, 2006

A primeira página do "Público" de 15 de Novembro


“Banco de Portugal ainda está pouco confiante no fim da crise” – E se um banco está pouco confiante, o que diremos nós, os tipos que os bancos espremem?

“José Veiga demite-se do Benfica após arresto judicial dos bens” – Ainda tentou trocar a penhora do sofá da sala, da cama da filha e do magnífico alvo dos dardos com a cara do Pinto da Costa pela penhora dele mesmo (aos gritos “larguem, larguem tudo e levem-me antes a mim!”) mas os funcionários do tribunal não aceitaram, com o argumento de que “esse gajo não vale um chavo.” E como contra factos não há argumentos, lá foi o pobre do Veiga dormir a sesta para a banheira... que só será arrestada para a semana.

“Iraque: Oficiais detidos após sequestro de 150 civis” – Já não bastavam os bombistas e os raptores de carreira, agora também as “forças da ordem” dão uma ajuda? Bom, mas isto não tarda nada deve acalmar, porque já não falta muito para que não sobre ninguém para raptar ou matar. Aliás, está-se mesmo a ver que, após racionamentos de gasolina e bens alimentares, a seguir vai haver racionamento de vítimas (como há nas pescas da União Europeia...), do tipo “desculpa lá mas esta semana vocês não podem explodir mais nada – já excederam a vossa quota-parte. Hoje é o nosso grupo. Com licença. BUM!”

“Judiciária lança operação contra rede de branqueamento de capitais” – ... Mas prendam já aquele gajo do “Tide”! – está sempre a fazer propaganda dizendo que, com ele, toda a sujidade desaparece logo, que consegue poupar imenso dinheiro e que “branco mais branco não há!”. Meus amigos, há que ler nas entrelinhas...

“Ensino: Adultos podem obter o 12º ano sem ir à escola” - Acho que deveriam estender este programa também às crianças – para o pouco que se aprende nas escolas, nem vale a pena lá ir. Já agora, aboliam-se os professores (o dinheirão que se poupava...) e, ao menos, os putos não saberiam elaboradas técnicas de insulto e cacetada.

“Al-Jazira em inglês começa hoje a emitir à escala global” – Ai querem impingir-nos os seus valores? Então vinguemo-nos, dando-lhes o que de melhor tem a cultura ocidental - passe-se a emitir as manhãs da TVI em árabe! (o que traria a vantagem adicional de passar a haver menos portugueses a estupidificar).

“Sua Majestade encontrou o seu novo agente secreto” – ... E já se encontrou secretamente (e a sós) com ele ontem à noite. “My name is Bunda, Queen Bunda”, terá dito a rainha quando ele entrou no quarto.

quarta-feira, novembro 15, 2006

A primeira página do "Público" de 14 de Novembro


“Empresas vencedoras do SIRESP alvo de buscas da PJ” – Ou, por outras palavras, a comunicação caiu.

“Militares escrevem ao Ministro da Defesa” – Boa notícia: Contrariamente ao que algumas má-línguas insinuavam, os militares, afinal, sabem escrever. Ficamos é sem saber se o Ministro da Defesa sabe ler...

“Professores sem turmas poderão assumir outras funções nas escolas” – Eu propunha que assumissem as funções de alunos, para verem o que os putos sofrem a aturá-los. E depois ainda tinham sempre a vantagem adicional de poder recorrer à violência, nomeadamente batendo nos (ex-)colegas que mais detestassem – sim, porque os alunos têm o direito adquirido de poder bater nos professores, não sabiam?!

“Bush condiciona diálogo com o Irão ao fim das suas ambições nucleares” – Não percebi; “suas” de quem? Dele, Bush, ou dos iraquianos?

“Ministério do Ambiente manda demolir casa de ex-presidente da Câmara de Sintra”- À velocidade a que funcionam os serviços camarário de Sintra, mesmo que demolissem o próprio edifício da câmara ninguém dava por isso em menos de um mês.

"Arcebispo de Braga diz que o Estado não pode legislar sobre o aborto” – Então mas... quem é que pode? Ele? A Igreja? Os anões transsexuais? As “Barbes” de Cascais que passam férias curtas em Badajoz ? Eu, que sou ateu, só me apetece dizer “Meus Deus, perdoai-lhe que ele não sabe o que diz!”. Já agora, haverá alguém suficientemente piedoso que o informe que nasceu de 9 semanas e meia?

“Santana Lopes responsabiliza Sampaio mas também Cavaco pelo fim do seu Governo” – Vistas bem as coisas, ainda se há-de concluir que o único que não foi culpado pela queda do governo foi o próprio Santana Lopes... o que até pode ser verdade já que, à excepção de seus pais, alguns filhos e muitos porteiros de discoteca, era o único português que não fazia força para que ele caísse.

terça-feira, novembro 14, 2006

Poema – eczema

Comecei a coçar um poema em branco, como se tivesse um eczema. Começaram a saltar pedaços de sílabas, meias letras, quartos de palavras. Continuei a coçar.

Depois olhei em volta. “Por”, “go”, “r”, “nuo”, “ti”, todas as outras e mais algumas combinações improváveis e até uns quantos ferros de engomar, de tudo se encontrava espalhado pelo chão - Era praticamente impossível que dali saísse alguma coisa de jeito.

Mas juntei os restos - apesar de não serem boa alimentação, conforme anúncio do “Pedigree Pal”. Então obtive “Porra, continuo a gostar de ti”. E conseguir isto era menos provável que um orangotango escrever integralmente “Os Lusíadas” - a menos, claro, que estivesse sobre o efeito de drogas duras, simulando o próprio Camões...

Porra, continuo a gostar de ti.

sábado, novembro 11, 2006

Socorro! – Os génios do Ministério estão a matar a Língua Portuguesa (e as crianças são os danos colaterais) – A TLEBS já anda à solta!

A TLEBS (Terminologia Linguística para os Ensinos Básico e Secundário) vem aí! Cuidado! Já houve uma experiência-piloto de que não se falou muito para não dar nas vistas e, segundo a opinião dos Génios do Ministério da Educação Raivosos Das Alterações (GMERDA), correu bem - provavelmente o mesmo que a própria Administração Bush terá achado da invasão norte-americana do Iraque. Adiante.

De facto, a TLEBS já aí anda à solta E é pior que uma doença infecto-contagiosa, pois afastará as crianças da leitura, corroer-lhes-á os cérebros e, como uma epidemia, propagar-se-á via professores (que, espero, comecem a pensar fazer greve por uma causa justa, a erradicação da TLEBS!).

Mas para quem ainda não “folheou” a TLEBS, aqui vão alguns exemplos, retirados do site do Ministério em “http://www.dgidc.min-edu.pt/TLEBS/Publicacoes/AltDestProTLEBS.pdf”


1 . Os nomes

Os bons e velhos “substantivos”, que já tinham sido substituídos por “nomes” (provavelmente por terem atingido o limite de idade), continuam a chamar-se “nomes” mas, agora, “bem mais divididinhos”, ou seja:

Nomes – Próprios, comuns ou colectivos.
Por sua vez, são divididos em:
Nomes próprios - humanos/não humanos e animados/não animados;
Nomes comuns - concretos/abstractos, contáveis/não contáveis, humanos/não humanos e animados/não animados.

Em relação aos “colectivos”, é “explicado” no documento que “se enquadram na subclasse dos nomes comuns, pelo que se lhes aplica a distinção humano/não humano e animado/não animado”. Então, mas... se estavam enquadrados nos “comuns”, têm as subclasses não destes mas dos “próprios”? Mais uma para a minha incompreensão... Para isto ficar mais animado, a seguir é dito que também há o “nome não contável massivo” e o “nome não contável não massivo” - mas isso é desenvolvido muito mais para a frente no documento e, confesso, não aguentei tanto sofrimento junto. Mas dando uns exemplos, para isto ficar mais “giro”:

Portugal – próprio, não humano e não animado;
Aluno – comum, concreto, contável, humano e animado.
(Já agora, será que o Ministério acha mesmo que os alunos são comummente concretos? Conseguirão os GMERDA contar, sequer, até 10? Acharão eles que os alunos são humanos ? E depois da TLEBS, ainda ficarão animados?)

Divertido, não? Mas melhor ainda é a abolição do sexo – Sim, dantes havia “masculino” e feminino” na divisão do “género”. Agora não – no entanto, torna-se muito mais fácil agora, porque os nomes podem ser, quanto ao género, “epicenos”, “sobrecomuns” e “comuns de dois”. Baralhados? Eu dou um exemplo de cada tipo (por ordem, claro, que eu não estou aqui para enganar ninguém!) – “águia”, “criança” e “artista”. Não é muito mais fácil agora do que essa coisa complicadíssima e retrógrada de “masculino” e “feminino”?


2. Composição de palavras

Dentro da formação de palavras, eram considerados diversos processos, nomeadamente “composição”, “derivação”, “hibridismo”... mas concentremo-nos num só tipo, a composição e, no caso, por justaposição (por exemplo, “bem-vindo”) Ora bem; é novamente muito mais divertido o que os GMERDA propõem no sempre lúdico "espaço TLEBS". Senão vejamos (exemplos retirados do atrás referido site):

“Luso-africano” – palavra composta por justaposição? Não! “Composto morfológico coordenado”. Giro, giro, era alguém chamar isto ao Mantorras, tipo: “Ó luso-africano és mas é um grande composto morfológico coordenado!”. Claro que a resposta seria ainda mais divertida, mas o “Cuotidiano” é um espaço de inducação!
“Guarda-redes” – palavra composta por justaposição? Não! “Composto morfo-sintáctico (estrutura de reanálise)” – Ricardo, olha no que te tornaste...
“Peixe–espada” - palavra composta por justaposição? Não! “Composto morfo-sintáctico subordinado”.
“Surdo-mudo” - palavra composta por justaposição? Não! “Composto morfo-sintáctico coordenado”.

Estou? Ainda estão acordados? Mas deixem-me dar só mais um curto exemplo das magníficas benfeitorias "TLEBSianas".


3. Complementos circunstanciais

Morreram. Kaput. The end. Acabaram. Mas nem tudo é mau – foram substituídos por coisas muitíssimo mais simples e intuitivas como por exemplo os “complementos proposicionais e adverbiais”, os “modificadores preposicionais e adverbiais do grupo verbal” e os “modificadores adverbiais de frase”. Fixe!



“...As crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…”

Augusto Gil, o profeta

quinta-feira, novembro 09, 2006

Chavez, o verdadeiro e único Pai Natal e Bush, o amoroso

Vem hoje no “Público” a notícia de que Hugo Chavez, o populista (é o mínimo que se pode dizer) presidente venezuelano, proibiu nos edifícios públicos todas as referências ao Pai Natal – não só imagens e bonecos do barbudo propriamente dito, como árvores de Natal e, até, meias vermelhas penduradas. Uma explicação possível é a de que, como esse mesmo senhor, no passado dia 1 de Novembro, antecipou o pagamento dos subsídios de Natal e fê-lo em triplo(!), para quê o outro Pai Natal, símbolo do imperialismo norte-americano, como costuma dizer o próprio Chavez - ele sim, o verdadeiro e único Pai Natal ?

Curiosamente, ao ser a sua Administração questionada sobre se esta súbita generosidade (pagamento antecipado de subsídios e em triplo) teria alguma coisa a ver com as eleições presidenciais de 3 de Dezembro próximo, nas quais Chavez vai tentar a reeleição, a resposta foi “não estamos a comprar votos, foi apenas um acto de amor e reconhecimento”. Comovente!

Outra notícia interessante do mesmo jornal, e título de primeira página, é a de que “Bush foi ferido e Rumsfeld é a primeira vítima da nova ordem”. O que eu gostava de ler, no desenvolvimento da mesma, é que, como presente de despedida, Bush lhe tinha oferecido umas feriazinhas no Iraque. Bom, fixe, fixe, seria se ele levasse o Bush na mala...

terça-feira, novembro 07, 2006

Trilogia outra vez (agora a dar para o “salazarento”) - Deus, Pátria, Família

I
As pessoas rezam ajoelhadas para estarem mais próximas de Deus. Mas se Deus está no Céu, não seria mais perto ficar de pé, não teria mais “rede”? (pelo menos com os telemóveis é assim...) Ou será que Deus tirou umas férias no Inferno?

II
A palavra “Pátria” sempre me fez confusão. Para já, a maiúscula é irritante. E se eu não gostar da minha ou se ela me lixar constantemente, ainda tenho de a tratar com maiúscula? (“Ah e tal, Exmª Srª Dr.ª D. Pátria, dá-me licença que morra por si?”) Ridículo! Em segundo, é encarado como o lugar onde se nasceu e que, sabe-se lá bem porquê, temos a obrigação de adorar; ou seja, tem de se adorar onde se nasce. Ora bem, num país que começou com um gajo que encarcerou a própria Mãe (donde obviamente nasceu), está-se mesmo a ver que ia dar um belo resultado, ainda por cima piorado pela degeneração de “n” gerações!

III
O ponto de partida da família são as Mães, não há dúvida (sim porque, a haver dúvida, é de quem será o Pai - principalmente se a “sagrada mãezinha” for a dar para o devasso...). Bom, mas pior ainda é que a maioria das Mães diz, com um ar de extremo orgulho em si mesmas (e para os parvos que as quiserem ouvir), que “Mãe há só uma!”- Mas, grande orgulho... porquê???... Será que poderia ser de outra maneira? Ou seja, como é que seria viável ser-se filho de mais de uma Mãe? As pernas sairiam de uma Mãe, os braços de outra, o tronco de outra, a cabeça ainda de outra e, finalmente, ainda haveria uma Mãe suplementar, cuja única incumbência seria juntar as peças? Bom mas, para cúmulo, está-se mesmo a ver que depois do parto colectivo diriam, em coro e outra vez com um ar de extremo orgulho em si mesmas: “Mães há só cinco!”


Próxima Trilogia – Pudins, Macedónias de Frutas e Acepipes

A primeira página do "Público” de 6 de Novembro de 2006


Confissão - Adoro continuar notícias (reais) com delírios (virtuais?; reais?). Exemplificando:

“Tribunal iraquiano condena Saddam Hussein à morte” – Morte recusa-se a ser condenada a Saddam e ameaça os vivos com a condenação de George Bush à vida eterna na Terra.

“Sem avaliar os serviços não é possível avaliar os trabalhadores” – O problema é que se se avaliam mesmo os serviços, conclui-se que o melhor é extinguir os trabalhadores.

“’Cinanima’ estreia primeira longa-metragem da animação portuguesa” – Parece-me contradição de termos; se é longa e é portuguesa, de animação deve ter pouco.

“Onze candidatos disputam a chefia da Organização Mundial de Saúde” – Pudera! 25% de 39 mil milhões de euros é muito dinheiro de corrupção para tratar da saúde!

“Salário mínimo tem vindo a perder poder de compra” – Eu, que não sou salário nem mínimo, também – E se até o poder de compra tem salários em atraso...

“Padre sequestrado por dois reclusos na prisão de Pinheiro da Cruz” – Ao ser libertado afirmou, indignado: “é inacreditável, já não se fazem reclusos como antigamente – é que nem sequer fui violado!”


PS – Enquanto escrevia isto, olhava de soslaio uns economistas a falar na televisão mas sem som, o que tem a gloriosa vantagem de lhes reduzir tanta importância auto-infligida a um conjunto de gestos ridículos; no entanto e talvez por isso mesmo, tornam-se extremamente hilariantes (conselho – não beber nada antes de praticar este “exercício”, senão o mais provável é explodir a rir; ou seja, se economizar, não beba).

sábado, novembro 04, 2006

Saúde / Tratar da saúde

Li há poucos dias no “Público” duas notícias que, se conjugadas, dizem muito do mundo em que (sobre)vivemos. Recordemo-las.

A primeira, com honras de segunda e terceira páginas, era sobre (entre outras características da guerra) os gastos norte-americanos no Iraque e que já vão, desde a invasão, em várias centenas de milhares de milhões de dólares. Só no ano passado, ascenderam a mais de (vou escrever por extenso, para se ter melhor a noção do que se está a falar) 100.000.000.000 (sim, cem mil milhões) de dólares!

A segunda, esquecida para as páginas finais e limitada a um rectângulo com qualquer coisa como 5 x 10 cm, dizia que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a corrupção consome entre 10 a 25% dos recursos mundiais anuais com a saúde que, no total, se cifram em cerca de 39 mil milhões de euros. (Esta notícia, só por si, deveria estar na primeira página, pois este roubo – entre cerca de 4 a 10 mil milhões de euros – impede que o tratamento chegue a milhares de pessoas que acabam por morrer, pelo que é um crime mais que hediondo; e por ser de “colarinho branco” ainda se torna mais nojento!).

Juntando as duas, vem que os gastos anuais norte-americanos com a matança de pessoas no Iraque, dariam para mais de dois anos de recursos para a saúde no mundo inteiro, ou seja, salvariam (ao invés de matar) milhares de vidas!

Triste mundo este, em que algumas “unidades de carbono” – as que efectivamente e infelizmente mandam - “evoluíram” para cérebros feitos de notas e corações feitos de ganância...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Trilogia do Amor

I
Os lugares são sempre longe
Os abraços são sempre lugares
O teu amor é sempre abraço

Nos lugares por onde passo
Em cada passo perto fico
Do longínquo lugar do teu abraço


II
Sentei-me à tua espera, já sabendo que não virias – É que hoje arrasto comigo um amor cansado, como um espermatozóide que perdeu a corrida e se resigna a acabar anonimamente no Tejo, mumificado em papel higiénico, qual faraó dos vencidos.


III
Numa esplanada, ouvindo a conversa da mesa ao lado.

- .... sabes, é que sempre que surge a oportunidade, deve-se sempre agarrar o Amor com as duas mãos!
- Então... e se se for maneta?
- Bom, então aí agarra-se só com uma – mas com muita força!
- Mas... e se não se tiver nenhuma mão?
- Aí agarra-se o Amor com os pés, mas muito firmemente para que ele não nos fuja!
- E se não se tiver pés?
- Bom, então aí agarra-se com os dentes e aperta-se bem os maxilares!
- Então mas... e se não se tiver dentes?
- Bolas, já não sei, isto do Amor é mesmo complicado!

Com as duas mãos peguei na minha sandes e dei-lhe uma dentada. Felizmente isto da fome é básico.