Joaquim Agostinho foi, como toda a gente sabe (ou deveria saber, que um pouco de cultura desportiva nunca fez mal a ninguém...), o melhor ciclista português de todos os tempos. No entanto, como nunca chegou ao “topo dos top’s” – ficou apenas em terceiro na “Volta à França” -, e à conta da nossa angústia congénita e colectiva da fase pós-descobrimentos (na qual temos vindo a descobrir que, afinal, não somos "os maiores"), criou-se a frase “passou ao lado de uma grande carreira”.
Comigo é semelhante – na adolescência fiquei em 4º num concurso de máscaras com prémios até ao 3º (apesar de, por breves horas, ter sido uma espanhola linda!), quando julguei ter ganho a lotaria havia sido gralha do jornal, aos vinte e poucos ganhei o 6º prémio do concurso literário, na altura anual, do "DN Jovem", com prémios até ao 5º (enfim, sempre apareci no jornal...), o meu lugar na garagem do prédio é o 68, namorei com uma rapariga que era quase a Kim Bassinger, enfim... sempre por pouco.
Vem tudo isto a propósito da palerma (sim, “palerma” é um termo lindo!) da nossa vida, sempre paralela a nós mesmos, sem nunca ser o que desejamos mas suficientemente próximo para que possamos dizer “estou lá quase”. O problema é que do “nada” ao “quase” vai a mesma distância que do “quase” ao “tudo”! Ou seja, imeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeenso!
Outra característica fantástica deste síndroma é o “empurrar” de fronteiras – nunca assumimos que algo está mal, limitamo-nos a empurrá-la. Ou seja, quando concluímos que algo está mesmo mal, logo mudamos o limite – “afinal é mais além”; e lá seguimos com a “vidinha”, esperando por novo e inevitável empurrão de fronteira (“afinal, talvez nem nada esteja tão mal assim...”)
Resumindo: por pouco não somos alguém, por pouco não somos alguém nem que seja para outro alguém - por pouco nunca seremos alguém. Por outras palavras: enquanto no mundo real há um “ninguém” que ocupa o nosso lugar, qual extraterrestre usurpador da pele alheia, no mundo virtual em que conseguimos sobreviver vamos dando os passos (virtuais, claro!) que achamos brilhantes mas que nos vão sempre e só desvirtuando a existência - curiosamente, são exactamente os mesmos que achamos que vão dando sentido às nossas vidas absurdas. Como no anúncio, há coisas fantásticas, não há?
Tudo isto a propósito de nunca me teres abraçado. Mesmo.
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