CUOTIDIANO

sexta-feira, abril 28, 2006

Grandes mistérios da mente feminina (I)

Porque será que elas separam em gavetas diferentes as panelas das tampas?

Este é um dos mistérios que mais intrigam a mente masculina, ao nível do Triângulo das Bermudas ou da velha questão “porque é que as mulheres não conseguem dar pequenas bufitas enquanto guiam?” (Se calhar conseguem, só que chocam). Para responder a esta questão existem várias teorias, até hoje nenhuma delas demonstrada. Comecemos pela, aparentemente, mais óbvia.

Hipótese 1 - Fazem-no apenas para irritar os homens. Assim, conseguiriam que eles, mesmo na remota possibilidade de encontrarem ou a panela ou a tampa, não encontrassem a outra, o que os deixaria completamente frustrados. Esta hipótese pode facilmente ser rebatida, já que os homens não precisam de ajuda para não encontrar alguma coisa – está-lhes na natureza, pois nenhum homem consegue encontrar o que quer que seja, quando quer que seja, onde quer que seja (se o fizer é concerteza gay e, por isso, não conta). Passemos à possibilidade seguinte.

Hipótese 2 – Fazem-no por uma questão de economia de espaço. Por consequência, o número de gavetas e armários necessários seria, forçosamente, menor, o que se traduziria num menor gasto em locais de arrumos, seja lá quais forem, para pôr em casa. Mas qual é a coisa que dá mais gozo a uma mulher, para além de dizer que está com dores de cabeça depois de ter estado com um homem a ver duas horas do canal Playboy? Obviamente, fazê-lo gastar dinheiro. Então, e mais uma vez, temos uma teoria por água abaixo.

Hipótese 3 – Fazem-no por causa do romance. Imaginemos, então, a seguinte situação: uma tampa só, triste e completamente só, sem ter onde poisar, qual OVNI sem planeta invadível, que sonha, desesperada “panela, panela, onde estás tu, minha panela?”. Subitamente, e devido à exaustiva procura do homem das hipóteses anteriores, abre-se uma gaveta de esperança – será que ele vai encontrá-la, a ela, a panela do seu coração?. “Este gajo de avental ridículo vai juntar-nos, eu sei que ele vai conseguir!”. Puro engano. Hélas, os homens serão sempre homens e ele não encontra a panela correspondente. Então, devolve a tampa à gaveta, pega no telemóvel e encomenda pizzas para o jantar. Que porra! Lá se foi o romance. Seguinte!

Hipótese 4 – Porque a mãezinha assim o fazia. Como diria Einstein, “é mais fácil quebrar um átomo do que o preconceito”. Esta é, de facto, uma séria candidata a hipótese correcta. Porquê? Pela simples razão de que não há qualquer razão lógica para que assim seja. Portanto... provavelmente, é esta a resposta certa, ou seja e em conclusão, é assim PORQUE SIM!

Dois Amantes

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tantas vezes enquanto vivem,
são eternos como é a Natureza.

Pablo Neruda

quarta-feira, abril 26, 2006

Efeitos secundários

Num consultório médico.

- Ó Sôdótor, voltámos cá porque aqui o meu marido anda muito triste, sente-se só e incompreendido. Não está a ver, ele nem fala ....
- Mas eu não o tinha já medicado, julgo que em Janeiro último?
- Sim, mas o que ele tinha já passou, graças a Deus (e também um bocadinho ao Sôdótor...); o meu marido nunca mais viu os sete anões e, por isso, até perdeu a mania de cantar com eles – como era irritante quando, antes de jantar, se punha “eu vou, eu vou, p’rá mesa agora eu vou, lá lá lá...”. Sim, lá isso é verdade, os sete anões ele já não vê.
- Então, qual é o problema ?
- É que, agora, é muito pior – ele julga que É um dos sete anões e, como não consegue ver os seus irmãozinhos, sente-se totalmente perdido e só. O Sôdótor tem de fazer alguma coisa, ele está completamente de rastos, por favor!
- Acalme-se mnha senhora, vou-lhe aqui receitar uns comprimidinhos que vão resolver toda esta situação num instante; são para a senhora tomar três vezes ao dia.
- Eu? Mas quem está doente é ele, Sôdótor.
- Confie em mim. Tome-os e o seu marido ficará completamente curado.

Três meses depois, de volta ao consultório médico.

- Muito obrigado Sôdótor, sinto-me completamente curado, nem sei como lhe agradecer - já não me sinto só e ando cada vez mais feliz! Os seus comprimidos fizeram um milagre.
- Então e a senhora, como é que se sente depois do tratamento ?
- Bem Sôdótor, não contando com ter encolhido para um metro de altura e de me ter crescido a barba...
- Por favor, a senhora devia saber que a Medicina é mesmo assim, todos os tratamentos têm efeitos secundários e, como vê, o seu marido anda felicíssimo com a sua companhia. Para além disso, essa sua barba é até bastante sexy...
- Mas... agora é que reparo! – O Sôdótor está vestido de Branca de Neve!
- Puro engano minha senhora, acho que vou ter de a medicar novamente. Deve ter sido outro efeito secundário, a senhora perdeu a noção da realidade. É que eu não estou vestido de Branca de Neve – eu SOU a Branca de Neve! Enfermeira! Levem esta lunática imediatamente daqui para o Hospital mais próximo! Rápido!

Enquanto a mulher é arrastada porta fora, Branca de Neve e o Anão Excitado beijam-se, abraçam-se e sabe-se lá que mais. Nove meses depois, nasce um Príncipe, o fruto daquele lindo amor mas que, consequência dos efeitos secundários do tratamento, vem ao Mundo sob a forma de um sapo – decididamente, a Medicina ainda tem muito que evoluir.

terça-feira, abril 25, 2006

Explicação do País de Abril (extracto)



País de Abril é o sítio do poema.
Não fica nos terraços da saudade
não fica nas longas terras. Fica exactamente aqui
tão perto que parece longe.


Manuel Alegre

Lendo o "Público" (2006/04/24)

“Vaticano prepara documento sobre sida e preservativo”

“A pedido do Papa Bento XVI, o Vaticano publicará em breve um documento sobre o uso de preservativos [...]. Esta é uma matéria muito difícil e delicada, que requer prudência. [...] A pastoral está a estudar o assunto com cientistas e teólogos especialmente designados para elaborar o documento. [...] O Vaticano alega que a promoção de preservativos no combate à sida é um convite à imoralidade e a estilos de vida hedonistas que contribuirão para aumentar o risco de contágio”


Em pleno século XXI, não dá para acreditar, pois não?
Já agora, será preciso uma comissão de cientistas e teólogos a estudar o assunto durante meses para explicar ao Papa (ao resto do Mundo não é preciso porque já sabe...) que o preservativo se coloca no instrumento e serve para evitar a gravidez e a propagação das doenças sexualmente transmissíveis? Se for preciso, paguem-me um bilhete a Roma que eu vou lá explicar-lhe!

segunda-feira, abril 24, 2006

Lendo o "Público" (2006/04/23)

“Colégio Britânico vai dar aulas de felicidade aos alunos”


Escola ‘123 C+S’ da Brandoa vai dar aulas de kung fu, wushu, tai chi chuan, taekwondo, jiu-jitsu, karatê e full contact aos professores, em projecto-piloto de defesa pessoal.

Presidente do Concelho Executivo da Escola ‘47 E=MC2’ do Cacém tenta suicidar-se. Escola vai promover seminário de gestão de infelicidade para os membros do Concelho Pedagógico.

Alunos da ‘C+C+C=3C (será?)’ de Gaia usam psicólogo da Escola como alvo, arremessando-lhe anões transsexuais e frases célebres de Avelino Ferreira Torres. Aluno entrevistado diz: ‘Não sei se era da moca, mas ia jurar que vi anões a voar. Se calhar tenho de mudar de ‘dealer’ q’aquela coca devia ‘tar marada”

Alunos da Escola ‘69 nem C nem S’ da Musgueira atam e sodomizam contínuo durante dois dias. Alunos defendem-se dizendo ‘Eh pá, nós ‘távamos só a tentar ser felizes...”

domingo, abril 23, 2006

Lendo o "Público" (2006/04/22)

"Hu promete a Bush gesto significativo sobre direitos humanos"
Será um manguito?

Mané

Mané ouve o telefone tocar e atende.

- Boa tarde.
- Boa tarde. Olhe, se faz favor, eu queria falar com o Director dos Recursos Humanos.
- É o Dr. Mané, mas ele não pode atender neste momento, está ao telefone. Quer deixar recado?
- Deixe estar, eu falo então com o Director Financeiro, se puder ser.
- Lamento, mas não vai dar para o atender agora; o Eng.º Mané está, igualmente, ao telefone.
- Que maçada... Já sei, passe-me então ao Director Técnico, que ele logo entrará em contacto com quem de direito.
- Infelizmente, o Arq.º Mané também está, de momento, impossibilitado de o atender, está...
- Não vale a pena dizer, está ao telefone, já percebi. Então vou deixar recado. Com quem é que estou a falar?
- Com o Sr. Mané, o telefonista.
- Mané?... Bom, a mensagem é a seguinte...
- Espere, espere, neste momento não posso tomar nota.
- Mas porquê?
- Porque também estou ao telefone.
- Ao telefone?!
- Sim. Consigo.

Mané desliga, deixando escapar um ligeiro sorriso hollywoodesco (para além de uma pequena bufita, enfim...) e suspira para com os seus botões:
-“ Há gajos que são cá uns chatos... com tanta interrupção nem consigo trabalhar...”

Lendo o “Público” (2006/04/21)

“Salão Erótico regressa a Lisboa com luta na lama”
“Carrilho justifica ausência com afazeres parlamentares”
“Bush pede a Hu Jintao que respeite direitos de reunião, expressão e culto”


O pavilhão estava cheio e os “speakers” de serviço, aos gritos, galvanizavam a multidão enlouquecida. O ambiente estava ao rubro e já se desesperava pelo início dos combates. Finalmente, chegou o momento da apresentação dos lutadores na lama.

“Do meu lado direito, de calções azul-marinho, último modelo O’Neill e de óculos escuros laranja da Channel, temos...”
Interrompeu bruscamente a apresentação. Aquilo não podia estar a acontecer. Não dava para acreditar nos que os seus olhos viam - Não é que os dois pretensos lutadores, mesmo antes do gong, se abraçavam e beijavam efusivamente?! Por entre os abraços, ouvia-se:
“Como é que eles querem que eu lute contigo se tu és lindo?”
“Não, desculpa, lindo és tu!”
“Não, lindo és tu!- Tens um corpo magnífico, um charme francês, uma inteligência sobrenatunal, que mais se pode pedir ?”
“Obrigado, mas tu é que és assim! Só a ti eu poderia amar!”

Continuavam eles nisto quando o árbitro pega, de repente, no microfone e, dirigindo-se à multidão, diz:
- “Pedimos desculpa a todos os espectadores mas este combate tem de ser interrompido por EA (*) ao primeiro assalto.“

Indiferentes aos assobios da multidão, Carrilho-deputado-remunerado e Carrilho-vereador-não-remunerado saem de mãos dadas para o balneário onde, irradiando felicidade, ficariam juntos para sempre, em frente ao espelho partido da casa-de-banho.

Entretanto, por forma a entreter a multidão enfurecida, o “speaker” anuncia um contador de anedotas para o que se esperava ser um breve intervalo até ao combate seguinte.

“Bush pede a Hu Jintao que respeite direitos de reunião, expressão e culto”
Não foi preciso dizer mais nada. Ainda hoje a multidão se está a rir, enquanto as lutadoras seguintes (no caso Manuela, a Badalhoca e Maria, a Virgem) aguardam, pacientemente pela sua vez de começar.

Os Carrilhos continuam abraçados.

Os trabalhadores da Câmara continuam à porta.

Os chineses continuam na prisão.



(*) Para os menos familiarizados com o desporto, EA significa “Excesso de Amor”

sexta-feira, abril 21, 2006

Guerra em paz

Sentou-se no seu terraço frente ao Tejo, olhando o horizonte, saboreando a brisa do fim da tarde, com tempêro de limonada. O Sol ziguezagueava como abelha junto ao rio, hesitando no mergulho, enquanto uns barcos passavam devagar e outros, timidamente, escondiam-se por detrás dos edifícios mais altos. Pelo chão, molas de roupa espalhadas tentavam, em vão, puxá-la para a pior parte da realidade – a própria realidade.

Nesse dia estava sózinha em casa – filhos no cinema, namorado longe, restante família por momentos esquecida. O tempo era todo e completamente seu. Tinha vestido algo tirado ao acaso do armário, estava descalça e trazia um chapéu que não encaixava com o resto – mas que importa, o tempo era mesmo todo e completamente seu.

Olhou à volta e, com a ponta dos dedos, começou por brincadeira a conduzir os pássaros através das árvores. E não é que eles seguiam os caminhos traçados, como se de um mapa de fogo se tratasse ?

Entusiasmada, e agora apenas com um olhar furtivo, desviou os barcos para as rotas das especiarias e dos piratas (por inexperiência de navegação - nem sempre há a sorte de principiante - alguns chocaram contra os prédios vizinhos) tendo até, por momentos, ficado ao leme de um deles, o que mais transbordava de velas e cores.

O tempo passava parado e cada vez mais sentia o rio a envolvê-la, como um ventre de azul. Cada vez mais se sentia parte da ondulação, quase adormecendo embalada pelos ventos, alimentada pela maresia. E cada vez mais se desprendia do estendal que era a sua vida – corta cabeça, saca tripa, passa por água, mete na lata, corta cabeça, saca tripa, passa por água, mete na lata, corta cabeça, saca tripa, passa por água, mete na lata...

Sentou-se, então, numa nuvem feita de algodão doce, vendo passar os cavalos com asas de cêra, acabados de chegar das lendas que lhe haviam contado para adormecer, quando menina.

Sorriu. O Mundo era todo e completamente seu.

Lendo-me (2006/04/21)

Atravessei o campo onde jaziam toneladas de cedilhas, pontos, vírgulas usadas...
Evitei pisar os hifens, verdadeiras minas assassinas.
Fugi das farpas que eram os travessões.
Abriguei-me dos acentos circunflexos, que choviam a cântaros.
Hesitei quando vi os pontos de interrogação.
Mas continuei.
Cheguei às Montanhas-das-Palavras-Sós. Encontrei “frigorífico” e “mastodonte”. Não serviam.
Então avancei para o Vale-dos-Silêncios, onde me encontro desde há muito.

Tudo isto à procura de “amo-te”, só para te oferecer

Lendo Al Berto (sobre Rimbaud...)

Morte de Rimbaud

Todos os pássaros sossegaram.
As crianças desceram das árvores, guardaram os jogos, recolheram a casa.
Levanto a cabeça e deixo a voz deambular por dentro deste silêncio de água e estrelas.
A noite está próxima.
Deixo o corpo escorregar na poeira luminosa.
Acendo um cigarro, ponho-me a falar com o meu fantasma.
Longe daqui, a cidade enfeitou-se com os seus crimes de néon, com as suas traições... ouço hélices de barcos, motores... quando um rosto esvoaça ao alcance da mão.

Al Berto

Lendo Alexandre O´Neill

Nesta luz quase louca
que se prende aos telhados
às árvores aos cabelos das mulheres
aos olhos mais sombrios
falamos de ti do teu alto exemplo
e é com intimidade que o fazemos
falamos de ti como se fosses
a árvore mais luminosa
ou a mulher mais bela mais humana
que passasse por nós com os olhos da vertigem
arrastando toda a luz consigo

Alexandre O´Neill

Lendo o "Público" (2006/04/20)

“Dois anos depois do Apito Dourado ainda não foi aberta a instrução”


Versão A

O copo avançou mesa fora e parou mesmo na beirinha. Como se tratava de um passo decisivo, hesitou por momentos.

“Salto ou não? O meu sonho sempre foi ser uma cadeira, uma 'chaise longue', e este tipo de vida - enchido e depois beijado e esvaziado por qualquer um, depois máquina da tortura (de lavar, dizem eles...), a seguir prateleira onde me atafulham contra todos os outros copos – tornou-se completamente insuportável. Não posso continuar a viver desta maneira. Se ao menos eu fosse um 'flûte' para champagne...Ai, ai... mas a realidade é que sou só um reles copo do Continente e não posso aspirar a estar numa mesa da Paula Bobone...”

Não aguentou mais. Atirou-se para o frio chão da sala e milhares de pequenos vidros ficaram espalhados por todo o lado. Estava completamente destruído. Que morte terrível – E era um copo tão novo, tinha tanta vida pela frente...


Versão B

O puto Zé passava pela mesa quando, sem querer, atirou o copo ao chão, tendo-o desfeito completamente.


Qual será a versão mais realista? Neste País, por certo a primeira – desde pequenos que ouvimos dizer “o copo partiu-se”, “a máquina avariou-se”, ou seja, nunca ninguém tem responsabilidade por nada que acontece. Assim, e em coerência com tudo o que nos ensinaram, ninguém será responsabilizado, anos e anos passarão até que prescreva o processo e depois, de um modo semelhante ao que aconteceu com o Secretário de Estado de Leonor Beleza, ainda haverão de processar o Estado português pela difamação dos seus bons nomes...

terça-feira, abril 18, 2006

Lendo o "Público" (2006/04/18)

"No Parque Mayer, onde tudo começou, continua tudo por fazer"

Um dia ao acordar, D. Pixote pensou:
"Hoje, a minha Dulce e Meia é o teatro de revista - vou vestir a minha resplandescente armadura de presidente da cama e parto para mais um salvamento heróico!"
Seguidamente, esse grande estratego de grandes combates, acessorou-se de um famoso arquitecto americano (o cavalo Arrotante), rodeou-se de uns quilos de actores assim-assim famosos (os peões do exército), muniu-se do dinheiro que não era dele e lá avançou para o combate feroz, mas seguramente vitorioso, já que um Casino pagaria não só toda a recuperação do Parque como, inclusive, a criação de outros teatros e casas de espectáculos; isto para além da Feira Popular mudar para um local bem melhor e com divertimentos mais "a la mode"...
Uns anos depois...
Ponto da situação:
- Parque Mayer ? Ao abandono
- Teatro de Revista ? Nicles
- Feira Popular ? Népias
Conclusão:
O povo de Lisboa ficou sem Teatro e sem Feira mas, para se divertir, pode sempre ir ao Casino ver os amigos de D. Pixote a apostar o dinheiro que não lhes custa a ganhar.

Anonimamente

“Só tu poderias saber o que me traz aqui!”, disse ela, ainda ofegante do caminho.

Ele olhou-a como quem olha uma buceta – É estranho, mas achamos piada.

“Então diz...”, retorquiu.

“Que porra, é preciso dizer?”

“‘Tá bem, não te excites!”

“Ainda bem que me compreendes. Sabes uma coisa? És o único! Vou aqui e ali, dou-me com este e aquele, mas ninguém me entende – Posso dizer:: ‘não sei quem sou, nada me afecta’, poderia perguntar-te ‘penetras insectos fusiformes?’, que eu sei que me entenderias. Porquê? Porque sim, porra, porque sim!”

Somente o tempo passava - Para além dos sons. As mulheres iam para as fábricas, os homens também, mas disfarçavam fingindo que apenas vigiavam o rio. O tempo continuava alteroso, disfarçado de vagas inúteis - Tudo passava menos a sua vida, execrável e silenciosa, tal qual o Big Ben a tentar peidar-se.

“Ouve lá, já sabes que o Jó se meteu na droga?”

Que porra, a realidade!

Lendo o "Público (2006/04/17)

“Ana Paula Vitorino com resultados nos portos projecta futuro intermodal sem a holding”.

Uma das coisas mais extraordinárias da vida de uma pessoa é o acto de conseguir consultar correctamente o suplemento “Carga e Transportes” do “Público” (ou de outro jornal qualquer...), não só pela sua ambígua mas decisiva importância, mais ou menos ao nível da dos arrumadores de carros num parque de estacionamento vazio, como pelas múltiplas interpretações que o mesmo permite, ao nível de uma frase de um Rimbaud completamente grosso. .

Enfim, outro aspecto que eu sempre achei fantástico é o de como esse suplemento sobrevivia, enquanto acabavam outros ainda mais extraordinários como, por exemplo, o que existia sobre caracóis no “Expresso” – Só posteriormente vim a perceber que a verdadeira razão para que esse semanário tenha diminuído o número de suplementos, tenha sido o facto de a Vénus de Milo ter perdido o braço ao tentar transportar o “Expresso” dessa altura.

Enfim, como se vê, tudo nos conduz à “Carga e Transportes”.

Bom, ajavardando a notícia original... (Já agora, o que é que quer dizer o título?)


Ana Paula Vitorino [...] projecta futuro [...]

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, não vai avançar [...],. sugerida [...] a uma [...] espanhola pelo [...] Governo [...].

Satisfeita [...], Ana Paula Vitorino entende que a actual orgânica [...] serve [...].

Falando ao PÚBLICO [...] ,Ana Paula Vitorino destaca [...] as mercadorias nos [...] portugueses.

Salientando a circunstância de [...] tutelar os três modos [...], Ana Paula Vitorino explica que a [...] a realidade é outra. [...]

Para Ana Paula Vitorino, que [...] espera por aqui continuar [...], o que interessa são as acções: “Não estou para filosofias!”, reforça ao PÚBLICO.

Ao nível dos diferentes [...] nacionais, para a secretária de Estado, o que é necessário é “coordenar [...] os diferentes interesses [...] ”.

Horas antes, o presidente da Associação dos A[...]madores da Marinha [...], João Carvalho, tinha mostrado ao PÚBLICO a sua [...] .



P.S. – A Paula é minha amiga e, para além de inteligente, é extremamente competente - a prova disso é que não precisou das quotas para chegar onde chegou!

Por isso, Paulinha (este diminutivo soa a suborno mas não é esse o objectivo...), não leves a mal – é só uma brincadeira para mostrar que as palavras, quando desenquadradas, podem ser cruéis.

segunda-feira, abril 17, 2006

Lendo o "Público" (2006/04/16)

"Invasão do Irão já foi preparada pelo Pentágono em 'jogos de guerra'"
Brincadeiras perigosas

"Ribeiro e Castro quer disputar eleições com Sócrates em 2009"
Brincadeiras inocentes

sexta-feira, abril 14, 2006

O Morto


Morreu. Estava morto. Pim. Finito.

Os amigos rodeavam-no pela última vez, com frases entrecortadas por soluços. Lágrimas fugiam apressadamente dos olhos, ansiando pela terra que queriam partilhar com ele. Mas como estava morto, não agradeceu.

Enquanto isto, lá por cima, não havia Céu que o quisesse receber. A alma bem tentava – O Deus dos católicos não lhe perdoava a infidelidade conjugal, o dos protestantes também não, Alá nunca o tinha visto pôr uma bomba no Metro e Buda achava-o demasiado magro. Vagueava, a alma, por entre os diversos Céus, já quase sem gasolina espiritual, prestes a ter de encostar numa qualquer nuvem de serviço.

Cá por baixo, os amigos tinham voltado do Café, com mais uns whiskys no bucho, não só para esquecer a morte como, simultaneamente, o lembrar melhor. Um deles avançou para o caixão e perguntou-lhe se queria beber alguma coisa. Como estava morto, não agradeceu.

Lá por cima, a alma abasteceu-se na gasolineira “Cloud number nine”, propriedade de um cantor famoso, o que lhe permitia continuar a deambular pelo Espaço à procura de poiso. “E se eu fosse à Ateulândia ?” Pôs-se a caminho, passando por pequenas aldeias das diversas seitas, desde os “Mormons” até aos “Toma-Lá-Disto-Em-Nome-De-Cristo”, que, ao vê-la, haviam fechado os Portões e obrigado as suas fiéis almas a rituais de higiene espiritual.

Cá por baixo, o espírito da sala mortuária estava cada vez mais animado. Um dos amigos havia posto música bem alto e todos cantavam e dançavam espanholadas à volta do caixão - Um deles até despejou uma cerveja por cima do morto para ver se ele também se animava, já que estava extremamente pálido. Como estava morto, não agradeceu.

Lá por cima, a alma finalmente chegou à Ateulândia onde, mal a viram, lhe enfiaram com um charro – onde não se sabe, pois os orifícios das almas ainda não foram estudados. “’Tá-se bem...”, pensou a alma, reconfortada após tão longo caminho.

Cá por baixo, simultaneamente com a primeira passa celestial, o Morto levantou-se, dançou e, voltando-se para uma boazuda qualquer, disparou com sotaque brasileiro: “’Bora no privado?” Ela aceitou mas ele, como estava morto, não agradeceu.

P’ infinito.

Lendo o "Publico" (2006/04/14)

"Vaticano sugere penitência por novos pecados
Uma celebração litúrgica no Vaticano converteu o excesso de tempo gasto em determinadas actividades numa espécie de novos pecados. [...] Entre eles estavam o tempo gasto a ver televisão, navegar na Internet ou mesmo a ler jornais."

"Novo telescópio construído apenas para procurar vida inteligente fora da Terra"

De facto, vida inteligente é coisa que parece estar a escassear neste planeta- talvez seja melhor começar a procurar noutro lado...
No entanto, e pensando melhor, talvez haja alguma razão no que diz esse "Vaticano boy". Eu, por exemplo, sempre prefiro os velhos pecados - pecar por pecar, mais vale a masturbação!

quinta-feira, abril 13, 2006

Luís, o sendeiro que não admitia que lhe chamassem cavalicoque bucéfalo

Luís, o sendeiro que não admitia que lhe chamassem cavalicoque bucéfalo, obrou na Praça Central da vila. O padre, por mais criancinhas que violasse, achou que aquilo é que era demais! Tinha de ser excomungado !(“O Luís ou o cagalhão?”, interrogou-se Deus na Sua infinita sabedoria.)

Deus, obviamente, estava-se cagando para o padre, para a vila e para o Luís, o sendeiro que não admitia que lhe chamassem cavalicoque bucéfalo – estava mais do que ocupado com S. Pedro, que gritava, enquanto fingia fugir à Sua frente: “Não me paparás, não me paparás!” (O que essa frase excitava o Criador!).

O padre tocou os sinos a rebate, reunindo os paroquianos na igreja, obrigando o seu rebanho de ovelhas loucas e beatas a vestir-se em menos de segundos, qual formatura militar (mas sem flexões!).

Então Luís, o sendeiro que não admitia que lhe chamassem cavalicoque bucéfalo, obrou na cabeça do padre que, a partir daí e por esse facto, passou a ter sempre uma farta cabeleira.

Hoje o padre é “hippie”, tendo cravado Deus para lhe emprestar uma máquina do tempo, onde voltou aos anos sessenta. – Deus acedeu e, mais uma vez, cagou, concentrando-se o mais que pôde no seu lamentável estado de “sex-aholic” tendo, nos Seus sonhos mais loucos, conseguido violar S. Pedro.

Ao adormecer, Luís transformou-se num cavalicoque bucéfalo. Deus cagou-se pela última vez. Plim.

Lendo o "Público" (2004/04/13)

"Quarenta por cento dos deputados do PS e dois terços do PSD faltaram às votações

Quarenta por cento da maioria socialista, 49 dos 121 deputados, e dois terços da bancada do PSD, 50 num total de 75, faltaram às votações de ontem no Parlamento, que não se realizaram por falta de quórum [...]
[...] Os deputados [estiveram] ausentes nas votações que antecediam um fim-de-semana prolongado devido ao feriado de amanhã e à antecipação da sessão plenária de hoje para a passada terça-feira [...]
[...] O Estatuto dos Deputados considera 'motivo justificado' para as faltas 'a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence'."
Se não estavam doentes, se não se casaram, se não lhes nasceu um filho, se não lhes morreu alguém, se não estavam numa missão, então... só podem estar em trabalho político, do género das convenções médicas realizadas a bordo de barcos de cruzeiro no Mediterrâneo. Infelizmente, o trabalho político que parece que os políticos melhor sabem fazer é ... descansar.
Curiosamente, isto passa-se numa altura em que se tenta galvanizar os portugueses para a saída da tão propalada crise, com constantes apelos a esforços e sacrifícios, quando os salários reais estão cada vez mais baixos e o custo de vida e o desemprego continuam a aumentar. Então, que melhor exemplo e motivação poderiam dar aos portugueses os seus excelentíssimos representantes que não fosse vê-los a ... descansar ?!
No entanto, visto por outro prisma, se calhar isto até é um bom sinal - Se eles, os senhores dos nossos destinos, os nossos digníssimos líderes, que tão bem conhecem todos os problemas do País estão tão descansados é porque, afinal, a crise estará já no fim e o Paraíso se aproxima. Então, porque é que nos havemos de preocupar?
Mais um belo mergulho no esgoto, senhores deputedos.

quarta-feira, abril 12, 2006

Lendo o "Publico" (2006/04/12)

Aniverssário da Lei de Bazes - Concelho naciunal vai avaliare 20 anus de educassão em Portugale

O Concelho Naciunal de Iducassão (CNI) vai avaliare tudu u qe foi feito em Portugale na aria da educassão, durante u debate naciunal sobre os 20 anus da lei de bazes do ssistema edocativo.
O prezidente do CNI, Júlio Pedrosa ....
... O CNI é um órgam...

Madame Saya

“Próximo!”, gritou Madame Saya para que a sua assistente a ouvisse. Era sábado ao fim da manhã, ia dar a última das suas consultas da semana e ainda queria ir almoçar à Ericeira. Decididamente, estava com pressa. No entanto, o seu profissionalismo não lhe permitia desmarcar ou apressar consultas. Por isso ali estava, apesar do lavagante que, há mais de uma hora, a esperava todo nu a dezenas de quilómetros dali. Ah, até já lhe crescia água na boca! Para afastar esse pensamento, gritou novamente: “Próximo!”
“Dá-me licença?”, perguntou Dona Josélia, enquanto espreitava respeitosamente pela porta entreaberta do gabinete da Madame, cujo prestigio havia subido em flecha desde que previra que Portugal iria colocar obesos em Marte antes de 2088.
“Então, o que a trás por cá?”, perguntou Saya.
“É o meu marido Madame, acho que anda metido com outra e que quer sair de casa para ficar com ela...”, respondeu Dona Josélia, choramingando.
“Não se preocupe, eu estou aqui é para ajudar. Vamos lá então ver isso!”
E começou a sessão. Despejou sobre a mesa um enorme tacho de caril de frango que, rapidamente, se espalhou por todo o lado - parte dele foi, até, parar ao chão, tendo sido avidamente devorado pelo seu cão, um possante e imponente macho chamado Soraya.
“Ora bem”, disse a Madame, “vamos lá começar a fazer a leitura do caril. Em primeiro lugar, estas asas aqui do meu lado direito podem querer dizer que, de facto, o seu marido está com vontade de voar para longe. No entanto, repare...”, continuava Saya enquanto Josélia, cada vez mais deslumbrada com o rigor científico que a Madame colocava em cada observação, ia concordando, em gestos bem sincopados com a cabeça, “repare bem, estas pernas que ficaram apontadas para Mercúrio podem significar que o amor que ele tem por si não o deixa ir para longe - ou então que o frango estava contaminado com um fungo sudanês. Curiosamente, aqui no meio, como vê, ficaram dois peitos com molho à volta, simbolizando os anéis de Saturno, o que pode significar que ele pretende fazer uma plástica de implantes mamários.. Mas, agora que reparo melhor, aí ao fundo está algo, isso sim, que me parece extremamente grave – o rabo do frango voltado para cima!”

Enquanto isto o lavagante, cada vez mais impaciente, ia comendo tremoços e bebendo imperiais. “Mais uma!”, gritou.

Josélia estava estarrecida, com os olhos mais esbugalhados que um esbugalho.. “E então, Madame, o rabo voltado para cima significa o quê?”
“Nem sei por onde começar”, disse Saya, pela primeira vez com um ar inibido.
“Mas diga-me, diga-me a verdade, por favor não me esconda nada!”
“Muito bem Dona Josélia, foi a senhora que pediu para saber tudo. O rabo para cima simboliza uma atitude tipo possuam-me violentamente, o que pode significar que o seu marido pretende fazer uma operação de mudança de sexo, por forma a se tornar numa mulher do sexo oposto.”
“Oh não, não pode ser!”, gritava, chorava, borrava-se Josélia, estragando toda a compostura com que até aí havia estado. “E tudo o que eu sonhei, aquela viagem às Caraíbas que seria a nossa segunda lua-de-mel, a nossa casa de campo para os fins-de-semana, as sopas de lata que iríamos sugar por uma única palhinha do amor, os orgasmos que poderia algum dia vir a atingir, os filhos, sim, os filhos que iríamos, por certo, ter..., onde é que isso tudo vai agora parar?!” perguntou, retoricamente, uma chorosa e desesperada Josélia.

O lavagante, esse sim, desesperava. Estava ali há três horas à seca, com umas dores horrorosas nas costas, já com uma grande buba - e Saya que não havia meio de aparecer...

“Pois é”, disse a Madame em tom coloquial, despedindo-se de Josélia enquanto lhe dava umas palmadinhas de consolo nas costas, “os homens são todos iguais. É por estas e por outras que tive o meu filho em parceria com uma espiga de milho transgénico”.

À saída do consultório, cabisbaixa, Josélia nem protestou com a assistente da Madame sobre o exorbitante preço a pagar, pois toda a gente sabia que, ali, o serviço era esmerado – exemplo flagrante disso é que só se usava frango de campo, pois o de aviário, por falta de qualidade, podia conduzir a previsões muito estranhas.

Na saborosa solidão do seu gabinete, Saya acendeu um cigarro, deixando-se envolver no fumo dos seus pensamentos. “És mesmo fantástica. És profissional, és amiga, ajudas os outros quase desinteressadamente (o que eles pagam quase nem dá para pagar o frango), és de facto uma grande carilmante - mereces mesmo ser do jet-set”. Estava ela nestas doces lucubrações quando, de repente, se lembrou. “Ái o meu lavagante...”. Desatou a correr porta fora à procura do Mercedes, tendo chocado com Dona Josélia, que chorava convulsivamente, abraçada a um poste de electricidade importado da Ucrânia.

Entretanto, algures na Ericeira e olhando para o relógio, o lavagante gritava “MER-DA!” .

Lendo o "Público" (2006/04/11)

"Itália dividida ao meio" (como um rabo)
Berlusconi tenta sair vitorioso (como um cagalhão entalado)

terça-feira, abril 11, 2006

Antunes

Antunes, Antunes
Com as antenas em Tunes
Mudando de quimbóio
Mas c'as nádegas impunes (imunes?)

Antónia

Antónia sentou-se no alpendre sem saber, sequer, que aquilo era um alpendre – Como era bom nada saber, não prestar contas a nada, nem a ninguém.
“Então e o José, quando é que ele vem?”

Não chovia. Nem sequer fazia um frio particular. E ela estava apenas ali, estando, ficando. Lembrava-se das palavras doces, como “namorado”. Esquecia as palavras rudes, como “amanhã”. Queria apenas viver aquele momento, aquela espera, aquela fome que ninguém tem.
“Então e o José, quando é que ele vem?”

As horas passavam, ao ritmo das cervejas. Ao ritmo do coração passavam as garças e o anoitecer. As árvores só lhe perguntavam também:
“Então e o José, quando é que ele vem?”

Antónia passava a ferro. Antónia cantarolava canções da infância, não da sua mas de alguém famoso que ela vira em fotos trabalhadas, numa revista dita do coração, que havia casado com alguém também famoso, primo de alguém famoso, tão vazio quanto famoso, com aspecto de cavalo de corrida - mas em homem.
“Então e o José, quando é que ele vem?”

Antónia, ébria de estrelas, pegou na imagem que tinha dele e dançou uma estranha dança, feita de ainda mais estranhos rituais, ainda mais que pagãos, com arbustos incandescentes, velas de incensos distantes e de mais imagens coloridas, como se aquele momento nada mais fosse senão um caleidoscópio de estranhas sensações e enubladas saudades de alguém.
“Então e o José, quando é que ele vem?”

Antónia, passando a ferro as estrelas, sentou-se na chuva, ao ritmo das cervejas. Esperava, mas nunca o admitiria.
Então e o José, pergunto eu, será que ele viria?

Lendo o "Público" (2006/04/10)

”Faltam lavatórios para médicos e enfermeiros nos hospitais 10.04.2006 - 07h51 Joana Ferreira da Costa, PÚBLICO

Calcula-se que entre 50 a 60 por cento dos médicos e enfermeiros em todo o mundo não lavem nem desinfectem as mão quando tratam os doentes. Uma falha responsável pela maior parte das infecções cruzadas nos hospitais, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS).”


Não é extraordinário? Gastam-se milhões em maquinaria e em formação de profissionais, e depois chega o Sôdótôr, ainda sacudindo o instrumento depois da mijadela, e diz em voz meiga:

- Então Dona Francelina, tem tido cuidado com a cicatriz que ficou da operaçãozinha ao tumorzinho? Não pode coçar, que isso pode ficar feio... – Ora deixe lá ver...

E enquanto o Sôdótôr escarafuncha, a enfermeira segura na Dona Francelina, com as mãos ainda a escorrer a mostarda do belo do cachorro do almoço.


Na véspera à noite, em casa, o filho do Sôdótor levou um estalo na cara por se ter esquecido de lavar as mãos antes de ir para a mesa.